Qualidade do asfalto agrava problemas de drenagem durante chuvas
O Brasil é o segundo país com o pior asfalto do mundo. Em Goiânia, as chuvas intensas agravam ainda mais a situação das vias movimentadas
As fortes chuvas que atingem Goiânia têm causado alagamentos e dificuldades no trânsito, evidenciando a precária condição das vias na cidade. O problema do asfalto no Brasil não é isolado. Em um estudo recente realizado com dados da Organização para Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE) e do portal britânico Compare The Market, o país foi classificado como tendo o segundo pior asfalto do mundo.
O estudo analisou vários critérios, como a qualidade das vias, a durabilidade do pavimento, o impacto nas mortes no trânsito, congestionamentos e os altos custos de manutenção de veículos. Esses fatores demonstram não apenas o estado das estradas, mas também os impactos diretos e indiretos sobre a segurança, a mobilidade e os custos para a população.
Buracos, ondulações, fissuras e trincas são apenas alguns dos problemas encontrados em mais da metade das rodovias pavimentadas do Brasil. O pavimento de asfalto, o mais utilizado no país, possui uma vida útil estimada entre 8 e 12 anos. No entanto, na prática, os defeitos estruturais surgem muito antes: em certos casos, começam a aparecer em apenas sete meses após a finalização da rodovia.
Maurício Barbosa da Cruz, engenheiro de transportes e especialista em pavimentação asfáltica, destaca que, além das condições precárias do pavimento, a falta de um sistema de drenagem eficiente agrava ainda mais o problema das vias. Em Goiânia, as chuvas fortes, comuns em determinados períodos do ano, não têm um escoamento adequado, o que causa o acúmulo de água nas ruas e provoca alagamentos.
“Sem um sistema de drenagem eficaz, a água infiltra-se nas camadas inferiores do pavimento, comprometendo sua estrutura e acelerando a deterioração do asfalto”, afirma Barbosa da Cruz. Esse processo de infiltração resulta em buracos, rachaduras e outros danos que exigem manutenção constante, além de elevados custos para os cofres públicos.
“Os custos públicos com reparos emergenciais aumentam, afetando a economia local e a qualidade de vida da população”, alerta Barbosa da Cruz. Para melhorar a situação em Goiânia e em outras cidades do Brasil, algumas soluções podem ser adotadas. O investimento em sistemas de drenagem urbana é uma das principais medidas recomendadas. “Soluções como piscinões e tanques de retenção ajudariam a controlar o volume de água das chuvas e a reduzir o impacto sobre o asfalto, evitando alagamentos”, propõe. Ele destaca que essas soluções precisam ser dimensionadas corretamente para o volume de precipitação esperado.
Outro ponto importante é o uso de materiais de alta qualidade para pavimentação. Asfaltos modificados com polímeros, borracha ou outros materiais reciclados têm mostrado melhor desempenho do que o asfalto convencional, especialmente em áreas mais suscetíveis a danos causados por água e tráfego intenso. “Os materiais reciclados não só melhoram a resistência do pavimento, como também reduzem as emissões de CO2, oferecendo uma alternativa sustentável e economicamente viável”, diz o especialista.
Além disso, a manutenção regular das vias também é fundamental para evitar o desgaste precoce do pavimento, especialmente em áreas propensas a alagamentos. Estabelecer rotinas de manutenção preventiva ajuda a manter a infraestrutura em bom estado e reduzir os custos com reparos emergenciais.
“É necessário integrar soluções baseadas na natureza, como jardins de chuva e pavimentos permeáveis, que aumentam a absorção da água da chuva pelo solo e diminuem o escoamento superficial”, sugere Barbosa da Cruz. A implementação de medidas como essas não só colabora para a qualidade do asfalto, mas também para a mitigação de enchentes. O planejamento urbano adequado pode contribuir para resolver os problemas em Goiânia e oferecer um modelo para outras cidades do Brasil.
Impactos financeiros vão além do recapeamento asfáltico
Os impactos econômicos das más condições do asfalto são evidentes. Os danos frequentes aos veículos geram custos elevados com manutenção, incluindo reparos em suspensão, pneus e alinhamento. “Esses gastos afetam diretamente o orçamento das famílias e empresas”, observa Barbosa da Cruz. Além disso, o mau estado das vias contribui para congestionamentos, aumentos no consumo de combustível e atrasos na entrega de mercadorias, impactando negativamente a produtividade.
O aumento no número de acidentes, causados pela precariedade das vias, também resulta em custos médicos, perdas de vidas e sobrecarga no sistema de saúde pública. “Tudo isso gera uma carga econômica significativa para a sociedade”, afirma o engenheiro. Esses problemas reduzem a qualidade de vida das pessoas e afetam a economia.
Em relação à conscientização, a população tem um papel fundamental na pressão por melhorias na infraestrutura viária. A educação sobre os impactos das más condições das vias e os custos que isso acarreta é essencial para mobilizar a sociedade. Quando as pessoas compreendem os problemas e suas consequências, elas estão mais propensas a cobrar ações eficazes dos governantes. “Uma população bem informada e engajada pode influenciar positivamente o governo a tomar medidas que melhorem a qualidade das vias e aumentem a segurança viária”, observa o especialista.
Além disso, a conscientização pode incentivar a população a adotar práticas que ajudem a evitar o desgaste excessivo das vias, como o descarte correto de lixo, que pode manter os sistemas de drenagem desobstruídos. “Campanhas de conscientização e movimentos populares são ferramentas importantes para pressionar por mais investimentos em infraestrutura e por políticas públicas voltadas à manutenção e melhoria da qualidade das vias”, conclui Barbosa da Cruz.
Dessa forma, uma população informada e engajada fortalece o compromisso das autoridades com a preservação das vias e a promoção de um sistema de transporte mais seguro e eficiente.