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quarta-feira, 27 de novembro de 2024
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Saúde

Os impactos, diagnóstico e avanços no tratamento da Doença de Chagas

De acordo com a Organização Mundial da Saúde (OMS), menos de 10% das pessoas infectadas pela doença conseguem obter diagnóstico

Postado em 27 de novembro de 2024 por Renata Ferraz
Doença de Chagas
Foto: Felipe Abondano

A Doença de Chagas, transmitida pelo parasita Trypanosoma cruzi, é um problema de saúde pública que afeta milhões de pessoas no Brasil, especialmente nas regiões mais carentes e nas áreas rurais.  Estima-se que entre 200 mil e 300 mil pessoas em Goiás sejam portadoras da forma crônica da doença, uma das mais preocupantes devido ao impacto silencioso e devastador que pode ter sobre o coração e o sistema digestivo dos pacientes.

Dados recentes do boletim ‘Perfil epidemiológico e sociodemográfico dos casos crônicos de Doença de Chagas notificados em Goiás’ indicam que, nos últimos 10 anos (2013-2023), foram registrados 7.802 casos da doença na forma crônica no estado, com uma prevalência média de 10,25 casos por 100 mil habitantes. 

O boletim revela que a doença atinge, em sua maioria, mulheres (58,7%), pessoas de raça/cor parda (32,1%) e aquelas com mais de 70 anos de idade (28,4%). Além disso, 88,8% dos casos ocorreram em zonas urbanas.

Embora a doença de Chagas seja tradicionalmente associada a áreas rurais e à transmissão por meio do contato com fezes de barbeiros, um vetor comum, Goiás tem avançado significativamente na detecção precoce da doença. Nos últimos anos, a sorologia para Trypanosoma cruzi foi incluída nos exames pré-natais, permitindo que a doença fosse identificada em gestantes. 

Com a adesão a essa medida, a doença de Chagas foi detectada em 350 mil gestantes, tornando-se a terceira mais frequente entre as patologias diagnosticadas por sorologia. Esse avanço tem sido essencial para a vigilância da transmissão vertical, especialmente nos casos onde a doença pode ser transmitida de mãe para filho durante a gestação.

Além disso, Goiás foi escolhido para participar de um projeto-piloto que visa a eliminação da transmissão vertical da doença de Chagas, em colaboração com o Ministério da Saúde e a Organização Pan-Americana da Saúde (OPAS). O Estado realizou a ‘I Oficina Estadual de Mobilização para Certificação da Eliminação da Transmissão Vertical da Doença de Chagas’, um passo importante para erradicar a transmissão dessa doença entre mães e filhos.

Embora os avanços no diagnóstico e na prevenção da doença de Chagas em Goiás sejam significativos, o estado ainda enfrenta grandes desafios. A doença muitas vezes se manifesta de forma indeterminada, ou seja, muitos pacientes não apresentam sintomas evidentes nas fases iniciais. Contudo, conforme a doença avança, ela pode levar a complicações cardíacas graves, como insuficiência cardíaca, arritmias e até morte súbita.

O cardiologista Carlos César explica que a doença de Chagas pode afetar o coração de várias maneiras. “Entre os sintomas mais comuns estão arritmias cardíacas, como palpitações e episódios de tontura, insuficiência cardíaca, que se manifesta como falta de ar e cansaço fácil, e a dor torácica, que pode ser confundida com um infarto”, alerta. “Além disso, a doença pode levar a complicações como tromboembolismo e aumento do coração, o que é detectado em exames como ecocardiograma e ressonância magnética”, acrescenta o cardiologista.

O diagnóstico da doença de Chagas cardíaca é complexo e envolve uma combinação de dados clínicos e sorológicos, além de exames complementares como o eletrocardiograma, Holter 24 horas, radiografia de tórax, e ecocardiograma. “Na fase crônica, é necessário realizar exames regulares para monitorar a evolução da doença e prevenir complicações, como insuficiência cardíaca e arritmias”, explica Carlos César.

Combate que pode salvar vidas com tratamento eficaz

O tratamento da doença de Chagas pode ser dividido em duas fases: a fase aguda e a fase crônica. Na fase aguda, o tratamento é antiparasitário, com medicamentos como Benzonidazol e Nifurtimox, que têm eficácia entre 60% e 80% na redução da carga parasitária. No entanto, a fase crônica apresenta desafios maiores, pois a doença já pode ter causado danos irreversíveis ao coração e ao sistema digestivo.

Na fase crônica, o tratamento é mais focado no controle das complicações, como insuficiência cardíaca e arritmias. A gestão cardiovascular é fundamental para evitar a progressão da cardiopatia e melhorar a qualidade de vida do paciente. Isso inclui o uso rigoroso de medicamentos para insuficiência cardíaca e arritmias, além de monitoramento regular com exames cardiológicos.

Fatores de risco, como hipertensão, diabetes e colesterol elevado, também devem ser controlados de forma rigorosa para evitar complicações adicionais. O acompanhamento médico regular é essencial para garantir que o paciente tenha o melhor prognóstico possível.

A Secretaria de Estado da Saúde de Goiás destaca que, de acordo com a Organização Mundial da Saúde (OMS), menos de 10% das pessoas infectadas com a doença de Chagas têm acesso ao diagnóstico e menos de 1% recebem tratamento adequado. Em Goiás, até outubro de 2024, 457 pessoas perderam a vida devido à doença.

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O que também se agrava são os dados que o Brasil é o epicentro mundial da doença de Chagas, com a maior parte dos casos crônicos concentrados em áreas endêmicas. A doença, transmitida por insetos e também por transfusão de sangue e transmissão vertical, continua a ser uma das principais causas de doenças cardíacas no País. O combate à doença de Chagas tem se tornado um esforço contínuo no Brasil, com o desenvolvimento de programas de diagnóstico precoce, tratamento e prevenção.

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