Fiscalização flagra desmatamento ilegal em Sanclerlândia-GO
A irregularidade foi detectada por meio de monitoramento de imagens de satélite em tempo real
Os Fiscais da Secretaria de Estado de Meio Ambiente e Desenvolvimento Sustentável (Semad) identificaram o desmatamento ilegal de 7,5 hectares de vegetação nativa em uma propriedade rural no município de Sanclerlândia, região central de Goiás. A irregularidade foi detectada por meio de monitoramento de imagens de satélite em tempo real. Após a identificação, uma equipe se deslocou até o local, onde, com o auxílio de um drone, localizou o maquinário usado na infração.
Durante a abordagem, o proprietário apresentou um documento emitido por um consórcio intermunicipal, que não possui autorização para licenciar a supressão de vegetação nativa. Como resultado, foi lavrado um auto de infração no valor de R$ 13 mil: R$ 1 mil pela supressão de vegetação em uma fração de hectare em reserva legal e R$ 12 mil pelos 7,4 hectares desmatados em área fora da reserva legal e de preservação permanente (APP). Além disso, a área foi embargada, e o maquinário ficou surpreso, ficando sob custódia do proprietário, proibido de utilizá-lo.
Para Rafael Freitas, jornalista, ambientalista e coordenador de comunicação do Instituto Plantadores de Água, além de voluntário do Greenpeace Goiânia, o desmatamento contribui para mudanças climáticas, afetando o abastecimento de água e prejudicando áreas de preservação permanente, principalmente aquelas próximas aos recursos hídricos.
“O governo precisa reforçar a fiscalização contra crimes ambientais, punir os responsáveis e, ao mesmo tempo, investir em iniciativas de recuperação ambiental. É fundamental mobilizar a sociedade para adotar práticas sustentáveis e restaurar áreas degradadas, especialmente como de preservação permanente”, reforçou.
Cerrado
O desmatamento no Cerrado, o segundo maior bioma do Brasil, registrou redução pela primeira vez nos últimos cinco anos. Os dados foram divulgados pelo Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe) no mês passado . De acordo com o levantamento, a supressão da vegetação nativa entre agosto de 2023 e julho de 2024 foi de 8.174 km².
O levantamento do Inpe é feito por meio do Projeto de Monitoramento do Desmatamento no Cerrado por Satélite (Prodes Cerrado), em que a detecção alcança precisão de 10 metros sobre corte raso e desmatamento por degradação progressiva, como incêndios. O monitoramento do Prodes é feito no intervalo de agosto de um ano até julho do ano seguinte, entre as estações mais secas do bioma. O resultado reverte um aumento do desmatamento no Cerrado registrado por cinco anos consecutivos, desde o período 2018/2019.
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Cerca de 76% desse desmatamento segue concentrado em quatro estados: Maranhão, Tocantins, Piauí e Bahia, estados que formam o acrônimo Matopiba, principal fronteira agropecuária do Cerrado na atualidade. Nesses estados, no entanto, o Prodes registrou queda significativa de desmatamento, na comparação 2023/2024 com o período imediatamente anterior. Na Bahia, por exemplo, a redução foi de 63,3%, seguida por 15,1% no Maranhão, 10,1% no Piauí e 9,6% no Tocantins.
A redução do desmatamento no Cerrado possibilitou, segundo o governo federal, que um volume de 41,8 milhões de toneladas de dióxido de carbono (CO2), gás que mais contribui para o aquecimento global, deixasse de ser emitido na atmosfera.
Goiás registra menor desmatamento desde 2001
Dados do Prodes, sistema do Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe), apontam que Goiás registrou, em 2024, o menor índice de desmatamento desde o início do monitoramento em 2001. Foram detectados 411,9 km² de área desmatada, uma redução de 48 ,8% em relação a 2023 (804 km²) e de 58,1% em comparação a 2022 (984,8 km 2).
Em termos percentuais, Goiás teve a terceira maior redução no país, ficando atrás apenas do Distrito Federal (72,2%) e da Bahia (63,3%). Por outro lado, estados como São Paulo (112,8%), Paraná (33,3%) e Pará (14,2%) registraram aumento no desmatamento.
A queda reflete os esforços de fiscalização e monitoramento, como os realizados pela Semad, que utilizam tecnologia e integração de dados para combater práticas ilegais e preservar o meio ambiente.
O desmatamento em Goiás continua sendo uma preocupação central no debate ambiental. Rafael destaca que o problema persiste por uma combinação de fatores: omissão do poder público, déficit na fiscalização e ações deliberadas de produtores rurais que insistem em práticas insustentáveis.
“O desmatamento ilegal é resultado da falta de fiscalização e das ações de quem ainda não compreendeu que é possível produzir alimentos sem desmatar. A agrofloresta, por exemplo, tem se mostrado um modelo de negócio sustentável que pode equilibrar produção e preservação”, destacou Freitas.
Segundo o ambientalista, o impacto do desmatamento vai além da manipulação ambiental, afetando diretamente a qualidade de vida e as atividades econômicas no estado.
Freitas também destaca o papel das tecnologias avançadas no combate ao desmatamento em Goiás. “O uso de ferramentas modernas é essencial para o monitoramento, identificação de crimes ambientais e respostas rápidas. Goiás já conta com sistemas eficientes nesse aspecto, o que facilita as operações e a fiscalização.”
Para ele, os esforços de preservação devem ser integrados e contínuos, unindo governo, sociedade civil e produtores rurais para construir um futuro sustentável. “É preciso compreender que a destruição da vegetação impacta diretamente o abastecimento de água e o equilíbrio ambiental. A recuperação das áreas degradadas e a adoção de práticas sustentáveis são o caminho para mitigar os danos e proteger nosso futuro.”