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segunda-feira, 13 de janeiro de 2025
saúde

Compulsão alimentar: entenda o transtorno e suas consequências

Transtorno alimentar atinge milhões de pessoas e exige tratamento psicológico e reeducação alimentar para uma recuperação eficaz

Postado em 13 de janeiro de 2025 por Luana Carvalho
Cerca de 4,7% da população brasileira sofre com transtornos alimentares, com 49% dos casos associados à obesidade. | Foto: Reprodução

A compulsão alimentar é uma das doenças psiquiátricas mais prevalentes no mundo moderno. De acordo com dados da Organização Mundial da Saúde (OMS), cerca de 2,5% da população mundial sofre desse transtorno, e no Brasil, o número é ainda mais alarmante, com 4,7% da população enfrentando problemas relacionados aos transtornos alimentares. Este fenômeno tem ganhado mais atenção nos últimos anos, especialmente por afetar principalmente jovens entre 14 e 18 anos. Além disso, uma pesquisa revelou que 49% das pessoas com esse transtorno são obesas, com 15% delas enfrentando obesidade mórbida.

A compulsão caracteriza-se por episódios de ingestão excessiva de alimentos em um curto período, acompanhados por um forte sentimento de descontrole. Durante essas crises, a pessoa sente que perdeu a capacidade de parar de comer, o que gera um intenso sentimento de vergonha e culpa, muitas vezes levando a uma espiral de autocrítica.

Não se trata apenas de comer em grandes quantidades, mas sim de um padrão compulsivo e recorrente. Durante um episódio, a pessoa ingere uma quantidade de alimentos muito maior do que a maioria consumiria em circunstâncias semelhantes, independentemente de estar com fome. Além disso, os episódios ocorrem sem que a pessoa pratique qualquer tipo de purgação, como o vômito induzido ou o uso indiscriminado de laxantes, características que estão presentes em transtornos como a bulimia nervosa.

De acordo com a Associação Brasileira para o Estudo da Obesidade e Síndrome Metabólica (Abeso), durante esses episódios, a pessoa apresenta alguns comportamentos e sintomas comuns, como comer mais rápido do que o normal, comer até se sentir fisicamente desconfortável, consumir grandes quantidades de alimentos mesmo sem fome e muitas vezes fazer isso em segredo, para evitar o constrangimento. Após os episódios, a pessoa costuma se sentir deprimida, desgostosa com seu comportamento e, muitas vezes, culpada pela falta de controle.

Esses sintomas podem se prolongar por semanas, gerando um ciclo de angústia e sofrimento, especialmente para aqueles que estão tentando perder peso. Além disso, pessoas com transtorno de compulsão alimentar periódica (TCAP) têm maior propensão a desenvolver depressão e ansiedade em comparação com aquelas que não enfrentam o problema. A constante preocupação com o peso e a forma física, mesmo em casos de obesidade, agrava ainda mais a situação, resultando em uma constante batalha contra os próprios pensamentos e sentimentos.

Diagnóstico e tratamento

O diagnóstico do transtorno de compulsão alimentar é feito a partir da observação dos sintomas e do histórico do paciente. É necessário que o paciente apresente pelo menos três dos seguintes indicadores:

  • Comer mais rápido do que o normal;
  • Comer até se sentir fisicamente cheio ou desconfortável;
  • Comer grandes quantidades de alimentos, mesmo sem fome;
  • Comer em segredo, evitando que outras pessoas percebam;
  • Sentir repulsa por si mesmo e tristeza após os episódios;
  • Sentir um desconforto psicológico relacionado aos episódios de compulsão.

Se o indivíduo apresentar pelo menos três desses sintomas, é essencial buscar acompanhamento médico e iniciar o tratamento o quanto antes. O transtorno não é algo que possa ser resolvido sozinho, e o apoio profissional é fundamental para que o paciente consiga lidar com suas emoções e com os gatilhos que causam as crises de compulsão.

A psicoterapia é uma das abordagens mais eficazes para o tratamento do transtorno da compulsão alimentar, pois ajuda o paciente a entender os motivos psicológicos subjacentes que levam ao comportamento alimentar descontrolado. Segundo a psicóloga especialista em transtornos alimentares, Juliana Souza, a compulsão alimentar é frequentemente ligada a questões emocionais não resolvidas, como ansiedade, depressão ou até traumas passados.

“Quando uma pessoa recorre à comida de forma compulsiva, muitas vezes ela está tentando preencher um vazio emocional ou lidar com um estresse psicológico que não sabe como expressar de outra maneira. A comida acaba sendo um mecanismo de conforto, mas isso só agrava o ciclo de compulsão, criando uma falsa sensação de alívio e, ao mesmo tempo, alimentando a vergonha e a culpa”, afirma Juliana.

Ela ressalta que, durante a terapia, o paciente é incentivado a desenvolver uma nova relação com a alimentação, aprendendo a distinguir entre fome física e emocional. Além disso, o tratamento psicológico trabalha para identificar os gatilhos que levam a essas crises e como substituí-los por estratégias mais saudáveis e eficazes de enfrentamento.

Outro aspecto importante do tratamento envolve a reeducação alimentar, que deve ser feita de forma gradual e sem pressões excessivas. O objetivo não é apenas a perda de peso, mas o restabelecimento de hábitos saudáveis e a promoção do prazer em comer, sem a presença da culpa e do medo.

O Impacto na saúde mental e física

Além das consequências emocionais, a compulsão alimentar tem um impacto direto na saúde física dos pacientes. O transtorno pode levar a um aumento significativo do peso corporal, o que, por sua vez, pode desencadear uma série de problemas relacionados à obesidade, como hipertensão, diabetes tipo 2 e doenças cardiovasculares.

A relação entre a saúde mental e física nesse transtorno é intrínseca, uma vez que a compulsão alimentar é frequentemente alimentada por um ciclo de baixa autoestima, depressão e ansiedade. O tratamento, portanto, deve abordar essas duas frentes de forma integrada, para garantir que o paciente consiga não apenas melhorar sua alimentação, mas também recuperar sua saúde emocional e psicológica.

Em alguns casos, medicamentos podem ser utilizados para controlar sintomas de ansiedade ou depressão, além de auxiliar no controle da compulsão. No entanto, a psicoterapia e a educação alimentar continuam sendo os pilares mais importantes para a recuperação do paciente.

Prevenção e conscientização

É fundamental que a sociedade esteja mais consciente sobre os transtornos alimentares e suas consequências. A educação sobre saúde mental e alimentação deve ser promovida desde cedo, para que crianças e adolescentes possam aprender a lidar com as emoções de forma saudável e evitar o desenvolvimento de comportamentos compulsivos.

Além disso, a aceitação de que transtornos alimentares são questões de saúde e não apenas questões estéticas é essencial para reduzir o estigma que cerca essas condições. A conscientização é uma ferramenta poderosa para que mais pessoas busquem ajuda e, assim, possam romper o ciclo da compulsão alimentar e alcançar uma vida mais equilibrada e saudável.

Com o tratamento adequado, compreensão e apoio profissional, é possível que os indivíduos com transtorno de compulsão alimentar possam viver uma vida plena, sem as amarras da alimentação compulsiva e da culpa associada a ela. A recuperação não é simples, mas é possível, e é um passo importante para melhorar a qualidade de vida e a saúde mental dos pacientes.

 

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