Alimentos e bebidas têm maior impacto econômico no bolso dos cidadãos
A alta dos preços dos alimentos teve um impacto proporcionalmente mais acentuado nas classes de renda mais baixas
A cada dia que se passa, encher o carrinho de compras fica mais difícil, afinal o setor de alimentos e bebidas gerou o maior impacto na vida dos brasileiros no mês de dezembro. A analista de recursos humanos, Kátia Soares, comentou as dificuldades enfrentadas pelos goianienses para colocar comida na mesa, devido ao aumento vertiginoso dos preços de itens essenciais, como arroz, feijão, carnes e hortifruti. Segundo ela, o impacto no bolso da população é cada vez mais evidente, especialmente quando se compara a realidade de hoje com a de apenas dois anos atrás.
“A questão do básico, que a gente fala, como arroz, feijão, e outros produtos como frutas, verduras, carne, também estão muito acima dos valores de antigamente, o que foge da nossa realidade”, declarou Kátia. Ela ressaltou que a comparação de preços entre o presente e o passado é alarmante. “O que compramos com 100 reais há dois anos atrás, hoje não conseguimos nem comprar metade disso. As coisas aumentaram muito, e o poder aquisitivo dos goianienses está muito aquém do que era antes”, afirmou.
Katia atribuiu boa parte dessa disparada nos preços à crise pós-pandemia, que afetou diversos setores econômicos. “Tudo levantou, e fala que é por causa de problemas, como os que aconteceram com a produção de arroz no Rio Grande do Sul, por exemplo. Sempre há uma explicação, como o tempo ou fases econômicas, mas o impacto está pesando no bolso do consumidor”, comentou.
A analista também destacou como a questão da alimentação tem gerado um impacto ainda maior para famílias de menor renda. “Com R$50, você compra um lanche. Hoje, temos que buscar ofertas constantemente para tentar equilibrar o orçamento. E, mesmo assim, vemos o aumento da diferença de preços”, lamentou.
O economista Luiz Carlos Ongaratto destacou como a alta nos preços dos alimentos pesa desproporcionalmente sobre as famílias de baixa renda. Segundo ele, a desigualdade social no país torna esse cenário ainda mais preocupante.
“A cesta de consumo varia conforme o perfil social, a estratificação das pessoas. Nem todos os produtos afetam as classes sociais da mesma forma. Alimentos e bebidas representam um gasto muito expressivo em todas as famílias, mas principalmente nas de baixa renda. Por exemplo , o aumento no preço do transporte aéreo não tem tanto impacto nas classes mais baixas quanto o aumento de itens básicos como alimentos”, explicou Ongaratto.
A alta dos preços dos alimentos teve um impacto proporcionalmente mais acentuado nas classes de renda mais baixas, devido ao maior peso desse gasto no orçamento dessas famílias. Por outro lado, a pressão exercida pelo grupo de transportes foi mais significativa para os segmentos de alta renda.
No caso dos alimentos, mesmo com deflações acentuadas em itens como cereais (-0,98%), tubérculos (-7,2%) e leites e perdas (-0,63%), os aumentos significativos nos preços das proteínas animais, como carnes (5,3%) e aves e ovos (2,2%), além dos reajustes no óleo de soja (5,1%) e no café (5%), foram os principais responsáveis pelo impacto desse grupo nas famílias de renda mais baixa em dezembro.
O economista ressaltou que alimentos essenciais à subsistência pesam mais no orçamento das famílias que já enfrentam dificuldades financeiras. “Essas famílias têm um orçamento muito restrito, uma alimentação que muitas vezes já não é boa, saúde precária, e uma renda média baixa, apesar da taxa de desemprego estar em queda. Assim, qualquer aumento em itens críticos, como alimentos básicos, cria uma pressão enorme.”
Ongaratto também detalhou como produtos substitutos, como carnes, frango e ovos, também sofreram aumento de preços, ampliando o impacto. “Não foi só a carne bovina que aumentou. O frango e os ovos, que são substitutos mais acessíveis, também subiram. Além disso, produtos como o café, que não possuem substitutos diretos, tiveram altas significativas, deixando poucas opções para o consumidor. “
Por fim, ele mencionou que a inflação acima do teto afeta a forma desigual das classes sociais. “As pessoas de maior renda podem ajustar o orçamento, reduzir a poupança ou outros gastos. Já as famílias de baixa renda não têm essa margem de manobra. Elas não podem simplesmente deixar de comer. Isso reforça a desigualdade social, que é um dos maiores problemas do Brasil atuais”, concluiu.
O economista defendeu a necessidade de políticas governamentais mais eficazes para conter a inflação e proteger as famílias mais vulneráveis. “É essencial um compromisso para reduzir essa carga, que penaliza de forma tão pesada os mais pobres”