Recado de Bolsonaro a Wilder escancara crise no PL goiano
Sigla quer lançar o deputado federal Gustavo Gayer ao senado, mas tudo indica que o vereador Vitor Hugo, isolado pelo partido, em Goiás, é a escolha de Bolsonaro
Como noticiado pelo O HOJE, ainda esta semana, o PL goiano atravessa por uma crise e, pelo jeito, sem sinais para acabar. O senador Wilder Morais, presidente estadual do PL em Goiás, parece estar causando uma divisão interna no partido, mas sua assessoria nega.
A tensão ficou evidente com o recado que o ex-presidente Jair Bolsonaro (PL) mandou ao senador, durante entrevista a uma rádio, nesta semana. Bolsonaro enfatizou que a escolha dos candidatos ao Senado será definida exclusivamente por ele e pelo presidente nacional do PL, Valdemar Costa Neto: “A gente vai lançar um candidato por estado do Brasil com o número 222. Não vai ter pechada, não vai ter cheguei na frente e sou amiguinho (…) Goiás é a mesma coisa, não é ‘estou na frente’, não é quem o presidente de Goiás quer. Wilder, não é quem você quer. Todo estado vai passar por mim e pelo Valdemar e nós vamos indicar essas pessoas”, declarou Bolsonaro.
Nos bastidores, se fala de uma disputa interna na sigla por quem será o candidato ao Senado. Wilder Morais quer o deputado federal Gustavo Gayer, mas o vereador mais votado de Goiânia e ex-líder do governo Bolsonaro na Câmara, Vitor Hugo, é a escolha do ex-presidente, o que tem gerado um clima de divisão dentro do PL.
À reportagem do O HOJE, a assessoria do senador Wilder Morais negou qualquer “racha” no PL Goiás, afirmando que ele está “totalmente alinhado” a Jair Bolsonaro. O advogado do PL Goiás, Vitor Hugo, confirmou a declaração. Mas, de forma sútil, disse que, também, existe uma “voz dissonante [no grupo], uma pessoa que está do outro lado contra todas as outras”, referindo-se ao vereador por Goiânia, Vitor Hugo.
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Segundo o advogado, o isolamento do parlamentar dentro do partido ocorre por “questões políticas”. Na última quarta-feira (22), Vitor Hugo foi destituído da vice-presidência do PL Goiás, cargo agora ocupado por Fred Rodrigues, candidato derrotado à prefeitura de Goiânia. Além disso, o advogado destacou que a cúpula estadual do PL conta com um amplo número de apoiadores em Goiás, em contraste com a postura supostamente adotada pelo vereador.
Alinhado a quem?
A postura de Bolsonaro em relação à cúpula estadual do partido coloca em dúvida essa afirmação. Afinal, a quem o PL Goiás realmente está alinhado? Aos interesses das lideranças estaduais ou à vontade de Bolsonaro, responsável por transformar o partido em um símbolo da direita e uma das maiores siglas do país? O ponto central é que o ex-presidente tem reiterado, de forma clara, que Vitor Hugo, embora isolado pelo partido no estado, faz parte de seu seleto círculo de aliados. Isso fica evidente com a crítica pública de Bolsonaro a Wilder e a chamada de vídeo com Vitor Hugo, nesta semana.
PL goiano dividido
A crise dentro do PL em Goiás teve início após o vereador Vitor Hugo intermediar uma visita do vice-governador Daniel Vilela a Jair Bolsonaro, em Brasília, no final do ano passado. O episódio gerou um racha no partido, que chegou a emitir uma nota oficial criticando a atitude do parlamentar. No comunicado, o PL declarou que “atitudes como essa não representam os propósitos partidários da sigla, mas sim interesses pessoais de um filiado que possui pretensões claras de viabilizar sua candidatura ao Senado sem o aval da agremiação, de modo que não serão toleradas novas condutas de igual teor.” A nota sugeriu até mesmo a possibilidade de expulsão de Vitor Hugo.
No entanto, informações apuradas pelo jornal O HOJE indicam que a iniciativa para o encontro partiu de Daniel Vilela e foi bem recebida por Bolsonaro. Nos bastidores, a reação do PL goiano foi considerada um “tiro no pé”, já que comprometeu a unidade do partido e expôs desnecessariamente tanto o vereador quanto o ex-presidente.