Goiás registra mais de 300 mil casos de doença diarreica aguda
O número destaca a relevância de prevenir enfermidades como a gastroenterite
No ano passado, a Secretaria de Estado da Saúde de Goiás (SES-GO) contabilizou 341.401 casos de Doença Diarreica Aguda (DDA). Já na primeira semana de 2025, foram registradas 846 notificações. Esse número destaca a relevância de compreender as causas, os sintomas e as maneiras de prevenir enfermidades como a gastroenterite, uma das principais responsáveis por esses dados alarmantes.
A gastroenterite é uma inflamação que afeta o trato gastrointestinal, impactando tanto o estômago quanto os intestinos. De acordo com a médica infectologista, Priscilla Yoshiko Sawada, os sintomas mais comuns da gastroenterite incluem diarreia, vômitos, dor abdominal, cólicas, febre, náuseas, mal-estar e perda de apetite. “Nos casos mais graves, podem surgir sinais de desidratação, tornando necessária a avaliação médica”, explica.
A fisioterapeuta, Nathalia Ciriaco, diagnosticada recentemente com a doença, explica que os primeiros sintomas surgiram com cólicas fortes na barriga, enjoos e diarreia. “Não cheguei a vomitar, mas a diarreia intensa era cerca de 5 a 6 vezes ao dia. A cada dia estava mais fraca, não conseguia comer bem, a cada refeição voltava a cólica e diarreia”, destaca.
A duração da doença está relacionada à causa e à resposta imunológica do paciente: se for viral, os sintomas persistem de um a três dias; se bacteriana, entre três e sete dias. Em situações mais graves, podem surgir sinais de desidratação, como boca seca, tontura, letargia e diminuição da frequência urinária. A desidratação exige uma avaliação médica imediata.
“Os sintomas duraram 5 dias. Foram 5 dias de repouso e tomando bastante líquido, como água de coco, água, soro caseiro e um remédio para repor a flora intestinal. Não foi necessário internação e nem realizei exames. Levei 1 semana pra me recuperar com força total”, continua Nathalia.
As principais causas de gastroenterite em crianças são vírus, como o rotavírus e o norovírus. Nos adultos, por sua vez, as infecções geralmente são provocadas por bactérias, como Salmonella, Escherichia coli e Campylobacter, além do mesmo norovírus. Há ainda a possibilidade de serem causadas por protozoários como Giardia e Entamoeba histolytica.
“O diagnóstico geralmente é clínico, mas exames de fezes podem ser realizados para identificar o agente causador. Exames de sangue também podem ser solicitados para avaliar possíveis complicações, como desidratação”, comenta a médica.
A gastroenterite pode ser transmitida por meio do consumo de alimentos e água contaminados, especialmente em áreas com saneamento precário, por contato direto com uma pessoa infectada (por meio do vômito ou fezes) ou pelo contato com superfícies contaminadas e posterior toque na boca sem a devida higienização das mãos.
“A contaminação geralmente ocorre devido ao manuseio, preparo ou armazenamento inadequado de alimentos ou bebidas”, afirma Priscilla.
Portanto, as medidas de prevenção incluem: higienizar as mãos frequentemente, especialmente antes das refeições e no cuidado de pessoas com diarreia; evitar o consumo de alimentos sem o devido preparo e armazenamento; ingerir água potável ou mineral, sobretudo em locais com surtos de diarreia; além da vacinação de crianças contra o rotavírus.
Complicações do não tratamento
O tratamento para a gastroenterite viral consiste em cuidados que visam principalmente a hidratação, utilizando soro de reidratação oral. Em situações mais graves, onde há desidratação acentuada, pode ser necessária a internação para a administração intravenosa de líquidos.
Os antibióticos não são eficazes contra infecções virais, que são as causas mais comuns de gastroenterite, sendo indicados apenas após avaliação médica e confirmação de uma infecção bacteriana, como Salmonella e Shigella.
“Durante o quadro da doença, evite alimentos gordurosos, condimentados, doces, laticínios e bebidas cafeinadas, gaseificadas ou alcoólicas. Mantenha-se hidratado com água, soro oral ou bebidas esportivas”, reforça a infectologista.
Entenda as diferenças entre gastroenterite da intoxicação alimentar
Nesta época é também comum o aumento de casos de intoxicação alimentar. E como diferenciar gastroenterite de intoxicação alimentar? Priscila explica que a gastroenterite é uma inflamação do trato digestivo que pode ter causas infecciosas ou não. Já a intoxicação alimentar é provocada pela ingestão de alimentos ou água contaminados com bactérias, toxinas, vírus, parasitas ou substâncias tóxicas produzidas por esses microrganismos. Ela ocorre, geralmente, devido à ingestão de alimentos mal conservados, mal cozidos ou armazenados de maneira inadequada. Esse é o provável motivo do surto que estamos observando recentemente no litoral paulista.
A médica reforça que algumas complicações podem ocorrer nos casos não tratados adequadamente, como desidratação grave e distúrbios hidroeletrolíticos. “Por isso, a atenção deve ser redobrada em casos de diarreia grave em extremos de idade, como crianças e idosos, além de pacientes com comorbidades (especialmente imunossuprimidos) e gestantes”, afirma. A presença de sinais como sangramento nas fezes, perda de peso significativa, dor abdominal intensa e sintomas prolongados deve indicar a necessidade de uma avaliação médica.
Caso a pessoa note que não houve melhora no quadro clínico e começar a apresentar sintomas de desidratação grave como boca e língua muito secas, redução na frequência ou ausência de urina por mais de 8 horas, tontura ou sensação de desmaio ao se levantar, diarreia por mais de 3 dias sem melhora, vômitos constantes que impedem a ingestão de líquidos e febre alta (acima de 39°C) que não cede com medicamentos, é necessário procurar atendimento médico de urgência.
Priscilla reforça que se houver suspeita de que os sintomas começaram após o consumo de alimentos ou água contaminados, é importante buscar avaliação médica, especialmente em surtos de intoxicação alimentar. “Ao notar qualquer um desses sinais de gravidade, procure atendimento médico imediatamente, pois pode ser necessário tratamento hospitalar, incluindo reidratação intravenosa e exames para avaliar a causa da gastroenterite”, finaliza. A atenção deve ser redobrada nos extremos de idade (idosos e menores de 2 anos), gestantes e portadores de comorbidades.