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terça-feira, 11 de fevereiro de 2025
Lixo

Goiânia enfrenta desafio ambiental com aterro sanitário no limite e planeja nova estrutura

Crise do aterro sanitário exige soluções urgentes na capital para comportar a coleta diária de lixo domiciliar de quase 1,5 milhão de cidadãos

Postado em 11 de fevereiro de 2025 por Eduarda Leão
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| Foto: Comurg

Goiânia, uma das capitais brasileiras que mais crescem, caminha para seu centenário em 2033 enfrentando um problema ambiental de grandes proporções: o esgotamento de seu aterro sanitário. Criado em 1992 com uma previsão de funcionamento de 20 anos, o espaço tem resistido por mais de três décadas graças a técnicas de ampliação e compactação de resíduos. No entanto, com o crescimento populacional acelerado e práticas ineficientes de gestão de resíduos, sua saturação é iminente.

Atualmente, estima-se que o aterro possa operar por mais dez anos. No entanto, a projeção de que a população da cidade dobre até 2050, chegando a cerca de 3 milhões de habitantes, torna evidente que medidas imediatas são indispensáveis para evitar um colapso na gestão de resíduos sólidos. O problema não é exclusivo de Goiânia, mas reflete desafios que muitas capitais enfrentam diante do aumento da geração de lixo e da necessidade de soluções sustentáveis.

Diante desse cenário crítico, a Prefeitura de Goiânia, sob a gestão de Sandro Mabel, anunciou um plano para a construção de um novo aterro sanitário. A proposta é erguer a estrutura em uma área ao lado do atual aterro, na região noroeste da cidade, evitando que a administração municipal precise gastar cerca de R$ 12 milhões mensais para descartar lixo em aterros privados de municípios vizinhos.

“Eu não tenho condição de pagar isso daí”, declarou o prefeito, destacando que pretende resolver a questão em até um ano. Para viabilizar a solução, a Prefeitura está negociando com o Ministério Público e a Secretaria de Estado de Meio Ambiente e Desenvolvimento Sustentável (Semad).

“Eu quero fazer um aterro novo ao lado daquele aterro, uma estrutura equilibrada. O atual custa muito caro, é muito inoperante, os caminhões têm dificuldade para subir. É melhor eu pegar R$ 12 milhões (que seriam destinados a um aterro privado) e colocar nesse aterro, novo, bacana. Eu vou arrumar o novo aterro em um ano ”, pontuou o prefeito.

A construção de um novo aterro, no entanto, não é uma tarefa simples. A escolha do local precisa considerar fatores ambientais e técnicos, como a direção dos ventos, a proximidade de corpos hídricos e o tipo de solo, para evitar contaminações com chorume e garantir a decomposição adequada dos resíduos. Além disso, especialista alerta que, mesmo com um novo aterro, a cidade precisa investir em soluções sustentáveis para reduzir sua dependência desse modelo de descarte.

Apesar da quantidade expressiva de resíduos recicláveis, apenas 1,5% do lixo é reaproveitado, enquanto a maior parte segue diretamente para o aterro. Esse índice está muito abaixo do ideal para uma cidade do porte de Goiânia e escancara um problema crônico: a falta de estrutura e incentivo para a reciclagem.

O professor e especialista em sustentabilidade urbana Antônio Pasqualetto destaca que até 65% dos resíduos sólidos urbanos da cidade são compostos por restos orgânicos, que poderiam ser reaproveitados em uma usina de compostagem. Para ele, Goiânia deveria se inspirar em modelos já implementados em outras capitais, como Brasília, para fortalecer a separação de resíduos e estimular o reaproveitamento de materiais.

“O aterro sanitário não pode ser tratado como uma solução definitiva. Ele é parte de um sistema que precisa ser mais eficiente, integrado e sustentável. Se não pensarmos além do simples descarte, a cidade vai enfrentar uma crise ambiental muito antes do seu centenário”, alertou Pasqualetto

Grandes geradores

Outro fator que sobrecarrega o sistema de gestão de resíduos são os chamados grandes geradores, como hospitais, supermercados, shoppings e indústrias. Em Goiânia, há cerca de 2 mil desses estabelecimentos, que são legalmente responsáveis pelo gerenciamento adequado de seus resíduos. 

A Agência Municipal de Meio Ambiente (AMMA) reforça que esses estabelecimentos devem realizar o Cadastro Técnico Ambiental e custear a coleta de seus próprios resíduos. No entanto, para que essa regulamentação funcione de forma eficaz, é necessário um maior rigor na fiscalização e incentivos para empresas que adotem práticas sustentáveis.

“É necessário cobrar mediante nesse processo de licenciamento dos grandes geradores que eles implementem esses planos de gestão de resíduos inclua redução, reutilização, reciclagem de materiais além da destinação adequada dos resíduos não recicláveis, como também processos de educação interna e para os para os clientes.”, defende Antonio Pasqualotto.

Soluções com municípios vizinhos 

A proposta de um novo aterro sanitário também levanta uma questão importante: ele deve atender apenas Goiânia ou ser planejado dentro de um contexto amplificado? O especialista Antônio Pasqualetto defende a segunda opção, argumentando que incluir municípios vizinhos como Aparecida de Goiânia, Trindade, Guapó e Aragoiânia na gestão dos resíduos poderia reduzir custos e aumentar a eficiência do sistema.

A Prefeitura de Goiânia garante que o novo aterro será projetado de acordo com as normas ambientais e de engenharia, garantindo um sistema de disposição adequado e seguro. Além disso, a administração municipal promete requalificar o atual aterro sanitário após sua desativação, evitando impactos ambientais negativos.

No entanto, o ambientalista alerta que a simples criação de um novo aterro não resolverá o problema a longo prazo. Sem uma mudança estrutural na gestão de resíduos, Goiânia continuará enfrentando os mesmos desafios no futuro.

A importância da sustentabilidade para um novo aterro sanitário

Para evitar que o novo aterro tenha o mesmo destino do atual em poucos anos, especialistas apontam a necessidade de um programa eficiente de reciclagem e compostagem. Além da separação dos resíduos na fonte, Goiânia precisa investir em educação ambiental e políticas públicas que incentivem a destinação correta do lixo.

A compostagem, por exemplo, poderia reduzir significativamente o volume de resíduos orgânicos enviados ao aterro. Em cidades como Florianópolis, que adotaram políticas de incentivo à compostagem, o resultado foi uma diminuição expressiva na quantidade de lixo descartado. Em Goiânia, um projeto similar poderia transformar restos de alimentos e podas de árvores em adubo, beneficiando a agricultura urbana e reduzindo impactos ambientais.

Outra estratégia essencial é fortalecer a coleta seletiva. Atualmente, o sistema é pouco abrangente e não atende a grande parte da população. Para reverter essa situação, seria necessário ampliar a rede de pontos de coleta, incentivar cooperativas de catadores e implementar um modelo mais eficiente de separação dos materiais.

O destino do lixo produzido pela população de Goiânia depende de decisões que precisam ser tomadas com urgência. Enquanto a construção de um novo aterro pode oferecer uma solução imediata, a cidade precisa olhar para modelos mais sustentáveis, investindo em reciclagem, compostagem e logística reversa para reduzir a quantidade de resíduos descartados.

Com a aproximação do centenário da cidade em 2033, o momento é decisivo para definir os rumos da gestão de resíduos sólidos. Goiânia pode escolher entre continuar acumulando lixo e aumentando os custos da destinação final ou investir em um sistema mais eficiente e sustentável, garantindo qualidade de vida para as futuras gerações.

Se nada for feito, a capital corre o risco de enfrentar uma grave crise ambiental e sanitária nos próximos anos. Mas se medidas estruturais forem adotadas, Goiânia pode se tornar um exemplo de inovação e sustentabilidade na gestão de resíduos. 

Números alarmantes de resíduos

O volume de lixo produzido diariamente em Goiânia impressiona e reforça a urgência de ações concretas. Segundo um levantamento da empresa Limpa Gyn, responsável pela limpeza urbana, a cidade gera por dia:

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