É interessante pensar que, ao consumir uma banana, muitas pessoas acabam jogando fora uma parte significativa da fruta sem nem perceber: a casca. Ela representa cerca de um terço do peso total da banana, mas frequentemente é descartada, apesar de ser comestível e rica em nutrientes valiosos. Esse hábito de rejeitar as cascas não se limita às bananas.

Nas laranjas, por exemplo, a casca compõe aproximadamente 20% da fruta. Em 2018, foram descartadas cerca de 15,1 milhões de toneladas de cascas de laranja, o que equivale ao peso de 80 mil baleias-azuis ou 2,5 mil sequoias-gigantes. Isso nos faz refletir sobre o quanto estamos desperdiçando sem necessidade.

Globalmente, cerca de um terço dos alimentos produzidos são desperdiçados ou perdidos, totalizando impressionantes 1,3 bilhão de toneladas a cada ano. Esse desperdício é responsável por cerca de 8% das emissões globais de gases de efeito estufa, uma quantidade superior àquela gerada pela aviação comercial. Além disso, a decomposição de matéria orgânica nos aterros sanitários libera grandes quantidades de metano, um gás 80 vezes mais potente que o dióxido de carbono (CO2) ao longo de 20 anos.

Uma solução para mitigar esse impacto seria redirecionar os resíduos alimentares para a compostagem, em vez de enviá-los aos aterros, o que ajudaria a reduzir a emissão de metano. No entanto, muitas vezes, o que consideramos resíduos é, na verdade, comestível. A indústria alimentícia tem demonstrado cada vez mais interesse em aproveitar melhor os nutrientes e a energia das cascas, em vez de descartá-las. E, em casa, também há maneiras simples de aproveitar essas partes, como por exemplo, em receitas que utilizam a fruta inteira, como o bolo de banana feito com casca.

A casca da banana

Aproveitar as cascas das frutas, como a banana, é uma maneira inteligente de reduzir desperdícios e adicionar mais nutrientes às receitas. Muitas vezes, a casca da banana é descartada sem que se saiba dos benefícios que ela pode trazer. Ao utilizá-la, é possível fazer uma deliciosa receita de bolo de banana, que além de saborosa, é cheia de nutrientes extras.

Para preparar o bolo, basta bater no liquidificador os ingredientes principais, como as bananas com as cascas, ovos, óleo, ameixa hidratada e água. Esse processo ajuda a incorporar a casca de banana na massa de forma simples e eficiente. Em seguida, é só adicionar a farinha de aveia e o fermento, misturando bem para garantir que a massa fique homogênea.

Depois, unte uma forma e coloque metade da massa, adicionando rodelas de banana e uma pitada de canela por cima, o que traz um sabor especial. Complete com o restante da massa e leve ao forno, pre aquecido a 180°C, por cerca de 40 minutos, até que o bolo fique dourado e firme.

Esse bolo de banana, com casca, é uma ótima forma de aproveitar ao máximo a fruta, sem desperdício, e ainda pode ser uma opção nutritiva para o café da manhã ou lanche. Além disso, ele oferece uma boa quantidade de fibras, vitaminas e minerais, especialmente pela utilização da casca.

A casca de gengibre

A casca do gengibre é frequentemente descartada como resíduo, mas ela é justamente a parte que concentra muitas das propriedades benéficas da raiz. Contendo compostos bioativos com efeitos antioxidantes, antimicrobianos e até anticancerígenos, a casca do gengibre é uma fonte rica de fibras e vitaminas, incluindo vitamina C, cálcio, ferro e outros nutrientes essenciais.

Para aproveitar melhor essa parte do gengibre, é possível usá-la sem descascar a raiz, já que poucas receitas exigem gengibre descascado. Além disso, a casca pode ser incorporada em diversas preparações culinárias. Por exemplo, ela pode ser adicionada a sopas, sendo retirada antes de servir ou triturar, ou ainda pode ser fervida com água para criar um caldo de gengibre. Esse caldo pode ser guardado na geladeira e usado em smoothies, sucos, coquetéis, ou até mesmo para cozinhar raízes e intensificar o sabor de outros pratos.

Uma alternativa interessante é torrar as cascas no forno e depois moê-las até virarem um pó, que pode ser usado para fazer chá de gengibre (sempre coando após o preparo) ou como tempero em receitas de culinária e confeitaria.

A casca de maçã

A casca da maçã é uma parte altamente nutritiva da fruta, rica em quercetina, fibras, vitamina C, cálcio, fósforo e potássio. Esses nutrientes oferecem diversos benefícios à saúde, como a proteção dos neurônios contra a oxidação, a redução do colesterol e da pressão arterial, e a diminuição do risco de cânceres, como o de pulmão e mama. Além disso, a casca contém pectina, uma fibra que melhora a digestão e alivia sintomas de gastrite e refluxo ácido.

O chá de casca de maçã é uma forma prática de aproveitar essas vantagens, proporcionando também um reforço no sistema imunológico e proteção contra gripes e resfriados.

Casca de abacaxi

Muitas vezes, comer abacaxi pode parecer um desperdício, já que sobra mais casca, miolo e topo do que fruta propriamente dita. Pensando nisso, uma tentativa foi feita para aproveitar essas partes e evitar o desperdício.

O tepache, uma bebida fermentada tradicional do México, é uma ótima maneira de utilizar todos os resíduos do abacaxi. Além de aproveitar a fruta por completo, o tepache também é uma boa fonte de probióticos. Sua receita é simples e divertida, mas vale destacar que o processo de fermentação pode resultar em uma pequena quantidade de álcool, normalmente inferior a 1%, dependendo do tempo de fermentação. Quanto mais tempo fermentando, maior o teor alcoólico.

Para a preparação, foi utilizada uma jarra de 3,8 litros, um elástico grande e um pedaço de musseline ou morim para cobrir a abertura da jarra. Primeiro, o abacaxi foi lavado, descascado e teve o miolo retirado, sendo preferível utilizar a versão orgânica da fruta para evitar resíduos de pesticidas.

Em seguida, foi feita uma mistura de água com açúcar mascavo ou piloncillo (uma espécie de rapadura típica do México) e aquecida até que o açúcar se dissolvesse. Depois de esfriar um pouco, o miolo e as cascas do abacaxi foram colocados na jarra, e a mistura de água e açúcar ainda morna foi despejada sobre eles.

A jarra foi coberta com musseline ou um pano limpo, permitindo a entrada de ar enquanto afasta as moscas. A mistura foi deixada para fermentar, sendo importante manter a temperatura entre 21º e 25°C e verificar a fermentação constantemente. Após 24 a 36 horas, a formação de espuma branca indicou que o processo estava em andamento. Quanto mais tempo de fermentação, mais intenso seria o sabor. Após o tempo necessário, o líquido foi coado e refrigerado, resultando em uma bebida refrescante e saborosa.