O Hoje, O Melhor Conteúdo Online e Impresso, Notícias, Goiânia, Goiás Brasil e do Mundo - Skip to main content

terça-feira, 18 de fevereiro de 2025
PublicidadePublicidade
seca

Rios brasileiros secam enquanto agronegócio avança

Estudo aponta que mais da metade dos rios do país perde fluxo de água devido à captação excessiva para irrigação

Postado em 18 de fevereiro de 2025 por Luana Avelar
FOTO: GABRIEL LINDOSO / GREENPEACE
FOTO: GABRIEL LINDOSO / GREENPEACE

Mais da metade dos rios brasileiros está secando devido à perfuração de poços e ao uso excessivo de águas subterrâneas. Um estudo da Universidade de São Paulo (USP), publicado na Nature Communications, analisou 17.972 poços e mostrou que 55% deles captam água em níveis abaixo das superfícies dos rios, fazendo com que a vazão dos cursos d’água seja reduzida. O problema é mais grave em regiões de intensa atividade agrícola, como o Matopiba – fronteira agrícola que abrange Tocantins, Bahia, Piauí e Maranhão.

“A gente tem mais de 50%, até mais de 60% desses rios perdendo água para o aquífero”, alerta José Gescilam Uchôa, doutorando da USP e primeiro autor do estudo. Segundo os pesquisadores, a seca dos rios pode comprometer a produção agrícola do país e impactar a segurança alimentar global. No oeste da Bahia, pequenos agricultores já sofrem com a escassez de água. “Houve o aumento do financiamento de grandes projetos de irrigação, enquanto a agricultura familiar foi cada vez mais perdendo área”, relata Marcos Rogério Beltrão, morador de Correntina.

A bacia do São Francisco é uma das mais afetadas, com 61% dos rios analisados perdendo fluxo para o aquífero Urucuia, um dos maiores reservatórios subterrâneos do Brasil. Dados do Instituto do Meio Ambiente e dos Recursos Hídricos (Inema) apontam que quase 100% das outorgas de captação de água na região são destinadas ao agronegócio. “Estamos verificando uma tendência de uma maior pressão sobre o aquífero Urucuia”, afirma Margareth Maia, pesquisadora do Instituto Mãos da Terra.

O uso de pivôs centrais – sistemas mecanizados de irrigação – também contribui para a crise hídrica. Apenas em Correntina, a área de plantio de soja aumentou de 164 mil para 192 mil hectares entre 2017 e 2023. Essas lavouras podem consumir cerca de 50 mil litros de água por hectare por dia, enquanto uma pessoa precisa de 110 litros diários para suas necessidades básicas. Em São Desidério, outro município do oeste baiano, mais de 53% do território é ocupado por atividades agropecuárias, o que levou a um aumento no desmatamento e na pressão sobre os recursos hídricos.

A Bahia lidera os conflitos por água no país, segundo relatório da Comissão Pastoral da Terra (CPT), com 34 casos registrados em 2023, afetando mais de 2.200 famílias. Para Uchôa, é preciso reavaliar o modelo de expansão agrícola e adotar medidas para reduzir os impactos da irrigação. “Talvez em algumas regiões a gente poderia fazer estudos preliminares para verificar se aquela região realmente é uma região ideal para receber a atividade agrícola”, sugere o pesquisador.

Você tem WhatsApp ou Telegram? É só entrar em um dos canais de comunicação do O Hoje para receber, em primeira mão, nossas principais notícias e reportagens. Basta clicar aqui e escolher.
Veja também