A luta das pessoas trans negras por direitos básicos
Estudo aponta falhas graves nas políticas públicas voltadas para a população trans negra no Brasil, revelando um quadro de marginalização e falta de acesso a direitos fundamentais
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A população trans negra no Brasil enfrenta um cenário de exclusão e invisibilidade, conforme revela o estudo “Travestilidades Negras: Movimento Social, Ativismo e Políticas Públicas”, lançado pelo Fórum Nacional de Travestis e Transexuais Negras e Negros (Fonatrans). A pesquisa apontou que a principal demanda desse grupo é o acesso à educação de qualidade, com 32% dos entrevistados considerando essa uma prioridade. Além disso, questões como o respeito institucional e a formação profissional também figuram entre as principais reivindicações, refletindo as barreiras sociais e econômicas impostas a esse segmento.
Com base em 300 questionários respondidos por pessoas trans negras de diferentes estados, o levantamento revelou que as políticas públicas voltadas para essa população ainda são insuficientes. Mais da metade dos participantes apontaram que as políticas atuais são pouco eficazes, acessíveis ou não oferecem suporte adequado. Para 40% dos entrevistados, as políticas específicas para pessoas trans nunca foram acessadas, evidenciando a distância entre a teoria e a prática quando se trata de garantias de direitos fundamentais.
A pesquisa também destaca a escassez de acesso a serviços de saúde e o impacto da transfobia nas unidades de saúde, com 20% dos participantes afirmando que evitam os atendimentos por conta do preconceito. Em relação à educação, 61,74% dos entrevistados não continuam seus estudos, com dificuldades financeiras e transfobia sendo as principais razões para o abandono escolar. Além disso, a maioria dos respondentes vive em condições precárias, com quase metade sem emprego formal e uma grande parte sobrevivendo com rendas abaixo do salário mínimo.
Thaylla Vargas, coordenadora de saúde do Fonatrans, afirma que a falta de dados específicos sobre a população trans negra dificulta a construção de políticas públicas eficazes. Ela destaca a importância da pesquisa para evidenciar as desigualdades enfrentadas por esse grupo, principalmente no que se refere à saúde mental, moradia e segurança. O estudo também recomenda medidas urgentes, como a criação de cotas em universidades e a implementação de políticas de moradia digna e segura para essa população.