O calor que aquece a desigualdade: 2,5 milhões de estudantes sofrem nas escolas
O aumento das temperaturas extremas no Brasil afeta principalmente crianças e jovens em escolas situadas em áreas de risco e sem áreas verdes, agravando desigualdades sociais e educacionais
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A onda de calor que atinge o Brasil neste início de 2025 tem gerado impactos, e os estudantes estão entre os mais afetados. De acordo com dados do Instituto Alana e do Mapbiomas, 2,5 milhões de crianças e jovens estudam em escolas localizadas em áreas com temperaturas de pelo menos 3°C mais altas do que as registradas nas cidades onde moram. Esses ambientes de aprendizagem, conhecidos como ilhas de calor, enfrentam condições extremas, expondo os alunos a sérios riscos de saúde e comprometendo seu rendimento escolar.
A pesquisa realizada pelo Instituto Alana em 2024 revelou que metade das escolas nas capitais brasileiras analisadas estão situadas nessas zonas de calor, onde a temperatura média da superfície é 3,57°C mais elevada. Essas escolas, muitas vezes, atendem comunidades vulneráveis, com grande presença de alunos negros — 35% dessas instituições têm uma maioria de estudantes negros, enquanto apenas 8,6% abrigam majoritariamente alunos brancos. A escassez de áreas verdes e a localização dessas escolas em áreas de risco revelam a conexão entre desigualdade social e os impactos climáticos, um cenário que piora a cada onda de calor.
Além das condições de aprendizado prejudicadas pelo calor excessivo, as mudanças climáticas também têm gerado consequências diretas para a saúde dos estudantes. A Sociedade de Pediatria do Estado do Rio de Janeiro (SOPERJ) alerta que o calor extremo pode levar as crianças a adoecerem rapidamente, agravando problemas respiratórios, desidratação e exaustão. A alta temperatura nas escolas compromete a capacidade dos alunos de se concentrarem, o que reflete negativamente no processo educacional e pode resultar no fechamento ou adiamento de aulas.
Estudos do Banco Mundial, como o relatório de abril de 2024, destacam que as mudanças climáticas já são responsáveis pelo fechamento em massa de escolas e perdas de aprendizagem em várias partes do mundo. As temperaturas elevadas, além de impactarem o aprendizado, também afetam a saúde de alunos e professores, criando um ciclo vicioso de ineficiência e abandono escolar. No Brasil, essa situação se reflete de forma ainda mais dramática, dado o contexto de desigualdade social e a falta de infraestrutura adequada para lidar com esses desafios.
A combinação de mudanças climáticas, precariedade das escolas e a exclusão social torna o acesso à educação de qualidade cada vez mais desigual. Para milhares de jovens brasileiros, a escola não é um espaço de aprendizado, mas um campo de batalha contra os efeitos devastadores do calor extremo, que os coloca em desvantagem desde o início.