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terça-feira, 25 de fevereiro de 2025
Documentário goiano

Fidèle: quando a velhice se torna sinônimo de descoberta

Conheça a história por trás de do curta-metragem goiano que combina live action e animação para contar a trajetória de Rita Araújo, uma mulher de 92 anos que continua descobrindo novas paixões

Postado em 25 de fevereiro de 2025 por Luana Avelar
Aos 92 anos, Rita Araújo escreve, estuda, faz artesanato e continua descobrindo novas paixões. Foto: Arquivo pessoal
Aos 92 anos, Rita Araújo escreve, estuda, faz artesanato e continua descobrindo novas paixões. Foto: Arquivo pessoal

O documentário Fidèle, da jornalista goiana Yorrana Maia, estreou no sábado (22) e já provoca reflexões sobre envelhecimento, preconceito e sexualidade. A produção retrata a escritora Rita Araújo, de 92 anos, que desafiou expectativas ao redescobrir a vida após os 60. A escrita, inicialmente uma terapia para superar o luto, tornou-se uma jornada de autodescoberta, levando-a a publicar livros, estudar idiomas, viajar para o exterior e ingressar na faculdade. 

Na época da concepção do projeto, a diretora ainda estava cursando jornalismo. Tudo começou de forma inesperada quando ela conheceu a protagonista em um ateliê de luto, enquanto realizava um trabalho acadêmico. Fascinada pela história da escritora, a jornalista decidiu entrevistá-la para um projeto de final de semestre na disciplina de Livro Reportagem. No entanto, a simples entrevista logo se transformou em algo maior, uma ideia de documentário que retrataria de forma sensível sua trajetória e os desafios que enfrentou e superou ao longo dos anos. 

“Quando entrevistei Rita pela primeira vez, fiquei encantada com sua história. Ela me mostrou que a vida pode começar em qualquer momento e que a idade não define nossos limites. Soube, ali mesmo, que essa história merecia mais visibilidade”, comenta a cineasta.  

 Após concluir a faculdade, Yorrana inscreveu o projeto na Lei Paulo Gustavo e garantiu financiamento para a produção. Seu maior desafio foi participar do edital, já que era sua primeira experiência em uma seleção cultural. Com orientação do produtor executivo Iuri Moreno, conseguiu inscrever a proposta. A verba inicial de R$ 10 mil não cobria todos os custos, levando à campanha no Catarse, cujo apoio viabilizou dois dias de gravação e a finalização com animação. 

Envelhecimento sem limites 

O documentário propõe uma nova perspectiva sobre o envelhecimento, desafiando a visão de que a velhice representa uma perda de vitalidade e propósito. A diretora Yorrana conta que seu próprio olhar sobre essa fase da vida mudou ao conhecer Rita, protagonista do filme, que, aos 92 anos, mantém uma rotina ativa e repleta de descobertas. “Rita foi uma quebra de preconceito para mim em relação ao envelhecimento. Eu tinha medo de me perder, de deixar de fazer coisas que gosto porque o corpo não acompanharia. Mas ela me mostrou que pode ser o total oposto disso, se você não tentar evitá-lo”, reflete a cineasta. 

O filme também aborda a sexualidade na terceira idade, um tema cercado por tabus na sociedade. Para a diretora, ainda há resistência em enxergar pessoas idosas como ativas, criativas e desejantes. “As pessoas idosas estão fora do padrão social de beleza e muitas vezes vistas como não mais úteis. O Fidèle busca desconstruir essa ideia e mostrar que o desejo e a criatividade não têm prazo de validade”, afirma. A trajetória de Rita, sua independência e liberdade, reforçam a mensagem central do documentário: o envelhecimento não precisa ser um limite, mas uma nova oportunidade de viver intensamente. 

Um olhar feminino na produção 

Desde a direção até a produção, o filme é fruto de um trabalho colaborativo entre mulheres, o que, segundo Yorrana, traz uma perspectiva importante para a história que está sendo contada. A decisão de compor uma equipe feminina não foi apenas uma escolha de gênero, mas uma forma de assegurar que o filme fosse sensível à experiência de Rita e tratado com o respeito e a delicadeza que sua trajetória merece. 

“Escolhi mulheres para as funções de direção, roteiro, fotografia, direção de arte, design de som, montagem e até mesmo para o making of. Acho que foi a melhor decisão para contar a história de uma mulher tão distinta. Além disso, esse documentário é o primeiro trabalho no cinema de muitas profissionais que estão na equipe, e isso vai ajudá-las a seguirem carreira no audiovisual, com a experiência que adquiriram.”, explica. 

A animação como elemento narrativo 

 O documentário também se destaca pela combinação de live action com animação 2D, um recurso que enriquece a narrativa e adiciona uma camada visual única à história. Inicialmente, a ideia de utilizar animação surgiu como uma forma de ilustrar os livros de Rita, especialmente para representar visualmente suas palavras e sentimentos. No entanto, devido ao orçamento limitado, a animação foi reduzida, mas tornou-se uma característica importante para a construção do filme. 

Durante o processo de produção, a diretora conheceu o estúdio Nime, que aceitou entrar no projeto como co-produtor, criando os elementos animados que ajudaram a dar vida a partes da história de Rita. A animação, especialmente em cenas como a do ateliê Meninas Arteiras, foi pensada desde o início para ser um recurso narrativo indispensável. “A cena do ateliê só teria o mesmo impacto se fosse feita com animação”, afirma a cineasta. 

 Lançamento gratuito e acessível 

 A estreia de Fidèle foi marcada por um lançamento gratuito no YouTube, com acessibilidade para garantir que o documentário alcance um público diversificado. “Quero que mais pessoas tenham contato com esse trabalho cinematográfico de forma democrática”, afirma a diretora.  

 E se há algo que mudou na percepção de Yorrana ao longo desse processo, foi a forma de encarar o próprio futuro. “Não tenho mais medo de envelhecer. Agora estou curiosa para ver minha versão mais velha, de cabelos grisalhos, com mais tempo para mim mesma. Será que vou escrever livros, viajar, aprender novos idiomas? Aprendi com Rita que o envelhecimento é uma jornada intrigante. Nunca é tarde para si”, conclui.  

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