Centrão começa a dar sinais de desembarque do governo Lula
Baixa popularidade dificulta manutenção dos partidos ao centro na base do presidente
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Em vista do que já foi outrora, incluindo em mandatos passados, a relação entre o governo do presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) e os partidos que dão as cartas no Congresso Nacional – que formam o famoso bloco denominado Centrão – não é a mesma. O desgaste do Executivo em véspera de ano eleitoral tem afastado a cúpula do Centrão, que já não enxerga com bons olhos estar atrelado a Lula e seus aliados de primeiro escalão.
O presidente nacional do Partido Progressistas (PP), o senador Ciro Nogueira (PI), apareceu como um dos entusiastas da ideia de abandonar o barco de Lula e seus aliados. Em entrevista à Folha de S. Paulo, publicada na última quinta-feira, 27, o ex-ministro da Casa Civil de Bolsonaro afirmou que caso não ocorra “uma mudança radical nos rumos do país”, a continuidade do PP no governo não acontecerá.
“Está muito próximo de termos de reunir o partido e tomar uma decisão definitiva de desembarcar. Gosto muito do ministro [do Esporte, André] Fufuca [filiado ao PP], mas, se o governo não tiver uma mudança radical de rumos para o país, não tem nem como a gente, daqui a pouco, permitir que os membros do partido participem desse governo”, garantiu Ciro.
O mandatário do PP ainda declarou que acredita ter sido “um erro” o partido ter aceitado participar da gestão. “É um governo completamente ultrapassado, com o presidente isolado, sem vontade de tomar as decisões que o país precisa”. Sobre os rumores que circulam sobre a entrada do ex-presidente da Câmara dos Deputados, Arthur Lira (PP-AL), na Esplanada dos Ministérios, Ciro garantiu que se depender dele, isso não irá acontecer.
Ciro disse já ter conversado com Fufuca sobre uma eventual saída do ministério do Esporte, mas que teme causar uma “insolvência” no Lula 3. O parlamentar diz que, caso o PP saia, outros partidos, como o União Brasil, Republicanos e o PSD, podem seguir o caminho da sigla. “O ideal é dar governabilidade ao país para a gente fazer uma transição. Se eu fosse o presidente Lula, o mais rapidamente possível, eu anunciava que não era candidato e virava essa página”.
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As críticas não são exclusivas de Nogueira. Recentemente, Gilberto Kassab, presidente do PSD, não poupou críticas ao atual governo e chamou o ministro da Fazenda, Fernando Haddad, de “fraco” e que possui “dificuldade para comandar”. Vale ressaltar que Kassab é próximo do governador de São Paulo Tarcísio de Freitas (Republicanos), que é o número um da fila para substituir o ex-presidente Jair Bolsonaro (PL), inelegível até 2030, na disputa pela Presidência. É difícil imaginar que Kassab não ande ao lado de Tarcísio na disputa pelo Planalto para apoiar Lula.
Como já mostrado anteriormente pelo O HOJE, a queda livre da popularidade de Lula dificulta uma associação do Centrão ao governo. São os caciques das legendas centristas que avaliam se uma aproximação ao Executivo é compensatória ou não. Para o Centrão, manter o apoio a Lula até 2026 pode ser um risco eleitoral. Com a popularidade do presidente em queda, os partidos do bloco temem que o eleitorado associe suas candidaturas ao desgaste do governo. Além disso, a falta de espaço no primeiro escalão limita a capacidade do bloco de construir uma imagem positiva para 2026.
Mesmo que Lula abra espaço para o Centrão na reforma ministerial, isso não garantiria o apoio dos partidos a uma eventual candidatura do petista à reeleição. Até porque, a indefinição do presidente tem incomodado as lideranças, visto que o prazo de desincompatibilização para as eleições de 2026 se aproxima. A partir de abril do próximo ano, quem desejar se lançar candidato precisará deixar os ministérios, o que deixaria pouco tempo para novos ministros implementarem ações significativas. (Especial para O Hoje)