“Motociclistas não são donos da cidade”, diz especialista sobre mortes no trânsito
Motociclistas foram as principais vítimas fatais em Goiânia, totalizando 128 das 205 mortes registradas no perímetro urbano

Em 2024, os acidentes de trânsito resultaram em 205 mortes no perímetro urbano de Goiânia. Os dados são do Painel Vida no Trânsito (PVT), divulgado nesta segunda-feira (24) pela Prefeitura de Goiânia, por meio da Secretaria Municipal de Saúde.
O levantamento revela que a maioria das vítimas fatais no trânsito da capital eram homens, representando 84,9% dos casos (174 mortes), enquanto as mulheres correspondiam a 15,1% (31 óbitos). Entre os grupos mais afetados, os motociclistas foram os mais vulneráveis, totalizando 128 vítimas, seguidos pelos pedestres, com 47 mortes. Outro dado alarmante é que 48,8% das vítimas faleceram no próprio local do acidente, sem chance de receber atendimento médico em uma unidade de saúde.
O levantamento também indica que a faixa etária mais impactada pelos acidentes fatais em 2024 foi de 20 a 39 anos, com 87 mortes. Além disso, a maioria das vítimas era solteira ou não possuía registro de união estável, totalizando 107 óbitos.
Para o especialista em mobilidade urbana Marcos Rothen, a principal causa desse problema é a falta de respeito às regras de convivência e segurança viária.
“Nosso trânsito é caótico. As regras básicas não são respeitadas, e muitos, especialmente os motociclistas, agem como se fossem prioridade absoluta. Além de desrespeitarem o Código de Trânsito, ignoram até mesmo as leis da física, acreditando que dois corpos podem ocupar o mesmo espaço ao mesmo tempo, o que é impossível”, critica Rothen.
Infraestrutura precária para pedestres
Os pedestres também enfrentaram sérias dificuldades. Segundo Rothen, a cidade não oferece condições seguras para quem caminha, pois faltam calçadas adequadas e travessias seguras.
“Até em áreas centrais, os pedestres precisam dividir espaço com os carros. Em alguns trechos, as calçadas são de puro barro, como na Avenida T-8, no Setor Bueno. Já na Avenida T-63, em frente ao Monte Líbano, muitas pessoas esperam mais de dois minutos para atravessar e, mesmo assim, correm risco”, aponta.
O especialista também destaca a falta de campanhas educativas para os pedestres e o uso excessivo de celulares durante a travessia, o que aumenta a exposição ao perigo.
Rodovias urbanas e o risco constante
A BR-153, a Avenida Perimetral Norte e a GO-070 lideram os registros de acidentes fatais. Marcos atribui esse cenário a três fatores principais: alto fluxo de veículos pesados, velocidade elevada e imprudência dos motociclistas.
“Muitos motociclistas trafegam em alta velocidade, ultrapassam pela direita e utilizam os corredores entre caminhões. O problema é que os motoristas de veículos pesados muitas vezes nem percebem a presença das motos.”
Jovens inexperientes e a imprudência no trânsito
O profissional também aponta a falta de experiência dos jovens motociclistas como um fator determinante para os altos índices de acidentes. Segundo ele, muitos não conhecem os princípios básicos da direção defensiva.
“Os jovens costumam ter um espírito mais aventureiro e começam a pilotar sem experiência. Eles precisam entender que devem sempre ser visíveis no trânsito, evitar ultrapassagens pela direita e movimentos bruscos. Mas, na prática, o que vemos é o contrário: desrespeito à sinalização, avanço de semáforos e falta de empatia com outros usuários”, afirma.
A urgência da fiscalização e conscientização
Para Rothen, o poder público precisa agir com urgência para reverter essa situação. Ele defende uma combinação de medidas educativas e de fiscalização intensa.
“É preciso que uma autoridade municipal assuma a responsabilidade de aumentar a segurança no trânsito. Sem fiscalização rigorosa e mudança de comportamento dos motociclistas, não há melhorias. A circulação de motos entre carros, caminhões e ônibus é um risco extremo para todos”, alerta.
“Os motociclistas não são donos da cidade”
Por fim, o especialista critica a cultura de impunidade e as justificativas para comportamentos imprudentes. “Alguém precisa dizer a verdade: os motociclistas não podem fazer o que querem nas ruas, eles não são os donos da cidade. A desculpa de que precisam correr para ganhar mais ou que o transporte público é ruim não justifica a direção perigosa. As consequências desse comportamento estão aí, com números alarmantes de mortes”, conclui.
Com o aumento da frota de motocicletas e a falta de preparo dos condutores, Rothen alerta que, sem mudanças significativas, os índices de acidentes fatais tendem a crescer ainda mais nos próximos anos.