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quarta-feira, 30 de abril de 2025
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Saúde

Obesidade infantil pode reduzir chance de cura no câncer

Brasil pode alcançar a quinta posição no ranking global de crianças e adolescentes obesos até 2030

Leticia Mariellepor Leticia Marielle em 11 de abril de 2025
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Obesidade infantil pode reduzir chance de cura no câncer. | Foto: Reprodução/Istock

Um estudo publicado na revista Câncer sugere que crianças com obesidade diagnosticadas com câncer tendem a apresentar uma sobrevida menor após o tratamento. A obesidade já é conhecida como fator de risco para diversas doenças, incluindo certos tipos de câncer, como os de mama, colorretal, uterino e pâncreas. Contudo, o impacto da obesidade no tratamento do câncer ainda é pouco compreendido.

Pesquisadores de diversos centros de pesquisa no Canadá realizaram um estudo retrospectivo, analisando dados de quase 12 mil pacientes, com idades entre 2 e 18 anos, sobre a sobrevida sem recidiva e a sobrevida total durante um período de cinco anos após o diagnóstico de câncer. Os dados foram coletados do programa Cancer in Young People, com informações abrangendo o período de 2001 a 2020.

Os resultados indicaram que a obesidade estava associada a um risco 55% maior de recidiva e 75% maior de morte. Esse vínculo foi particularmente forte em casos de tumores do sistema nervoso central e leucemia linfoblástica aguda, que são os tipos de câncer mais comuns na infância.

Uma possível explicação para esses achados é que a obesidade pode dificultar o enfrentamento do tratamento, criando condições clínicas desfavoráveis. Isso poderia, inclusive, ter impedido a administração do tratamento mais adequado, com a dose de toxicidade suportável.

No entanto, os cientistas enfatizam a necessidade de mais estudos para entender melhor como a obesidade pode interferir nos resultados do tratamento. Outros fatores, como os genéticos, também precisam ser investigados para que se compreenda como eles afetam o processo terapêutico.

Além disso, os pesquisadores alertam para a importância de evitar que o paciente desenvolva obesidade após o tratamento do câncer. As alterações metabólicas causadas pelos tratamentos, assim como as mudanças nos hábitos alimentares que podem ocorrer durante a doença, são complicações que muitas vezes se tornam difíceis de reverter. O cuidado excessivo por parte dos pais, no intuito de evitar que o filho fique fraco, pode levar a ajustes alimentares inadequados.

Obesidade infantil 

Um estudo recente, publicado na revista The Lancet, prevê que, até 2050, um em cada três adolescentes no mundo poderá apresentar sobrepeso ou obesidade. Entre 1990 e 2021, a obesidade infantil mais que triplicou, e a tendência continua a crescer. Esse levantamento tem gerado mobilização entre governos, escolas, famílias e organizações civis, que buscam estratégias para incentivar hábitos saudáveis desde a infância.

No Brasil, a preocupação é igualmente crescente. Dados do Atlas Mundial da Obesidade e da Organização Mundial da Saúde (OMS) indicam que, caso o cenário atual persista, o país pode alcançar a quinta posição no ranking global de crianças e adolescentes obesos até 2030. A probabilidade de reverter essa situação, segundo a projeção, é de apenas 2%.

Atualmente, 14,3% das crianças brasileiras entre 2 e 4 anos apresentam excesso de peso. Desses, 227,6 mil já estão com obesidade e 273,3 mil com sobrepeso. Entre crianças de 5 a 9 anos, os índices de excesso de peso sobem para 29,3%, com 200 mil casos de obesidade grave, 352,8 mil de obesidade e 670,9 mil de sobrepeso. Esse aumento está relacionado a um estilo de vida cada vez mais sedentário, com má alimentação e o uso excessivo de dispositivos eletrônicos, afetando não apenas a saúde, mas também o desenvolvimento motor, social e emocional das crianças.

O tratamento para a obesidade infantil, especialmente em crianças com menos de 12 anos, foca principalmente em mudanças no comportamento e no estilo de vida. No caso dos adolescentes, além disso, o uso de medicamentos pode ser considerado. Contudo, o ponto central de qualquer tratamento continua sendo a modificação na alimentação e na prática de atividades físicas, processos que são fundamentais para o sucesso terapêutico. Sem essas mudanças, o tratamento torna-se muito mais difícil, com maior risco de recidivas e recuperação do peso perdido.

Ainda assim, convencer as famílias a adotar esses novos hábitos não é uma tarefa simples. O estigma social de que a criança pode ser apenas “gordinha” persiste, tornando desafiador para muitos familiares a mudança de comportamento. Reduzir o tempo de tela, evitar o consumo de alimentos ultraprocessados e incentivar a prática de exercícios físicos, além de uma alimentação mais saudável, é um grande desafio para pais e cuidadores.

Dieta na infância 

Em uma alimentação pensada para crianças com sobrepeso, é importante priorizar alimentos naturais e reduzir o consumo daqueles que contribuem para o ganho de peso excessivo e a obesidade infantil. O ideal é incluir no dia a dia uma variedade de fontes de proteína, como frango, ovos, tofu, peixe, carne bovina, peru, seitán e carne de soja. Além disso, frutas frescas devem estar presentes em duas a três porções diárias, com opções como banana, laranja, morango, kiwi, uva, mamão, maçã, pêra e melão.

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Em uma alimentação pensada para crianças com sobrepeso, é importante priorizar alimentos naturais. | Foto: Reprodução

Os vegetais também desempenham um papel essencial e devem ser consumidos em quantidade semelhante, com variedades como vagem, cenoura, abobrinha, brócolis, tomate, alface, rúcula e couve. Frutos secos, como amêndoas, nozes e castanhas, contribuem para uma alimentação equilibrada, assim como os cereais integrais, a exemplo do arroz, pão e macarrão integrais, além da aveia e do milho. A água deve ser a bebida principal, e a preparação dos alimentos deve priorizar métodos como vapor, forno, grelha ou ensopados, evitando frituras e molhos prontos.

Por outro lado, é essencial reduzir ou eliminar da alimentação itens ricos em açúcar, como bolos, balas, refrigerantes, sucos artificiais, achocolatados e sorvetes. Também se deve evitar cereais refinados, como arroz branco, pão branco e massas não integrais, além de produtos ultraprocessados, como pizza congelada, macarrão instantâneo, hambúrguer, salgadinhos e comidas de fast food. Snacks industrializados, embutidos como salsicha e presunto, molhos prontos, temperos industrializados e alimentos com alto teor de sal e açúcar devem ser evitados. Da mesma forma, produtos lácteos mais gordurosos, como leite integral, iogurtes adoçados e queijos amarelos, não são recomendados.

Além da alimentação, o envolvimento dos pais ou responsáveis é essencial. Fazer as refeições junto com a criança, de preferência à mesa e sem distrações, ajuda a criar vínculos, incentivar hábitos alimentares mais saudáveis e ensinar a reconhecer sinais de saciedade. 

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