Denúncias coloca Brasil entre os piores no ranking de abuso infantil na internet
Com mais de 50 mil páginas suspeitas detectadas em 2024, país revela falhas na prevenção e pressiona por ação coordenada entre plataformas, autoridades e fronteiras digitais

O Brasil passou a ocupar, em 2024, a quinta posição entre os países com maior número de denúncias relacionadas à veiculação de conteúdo de abuso sexual infantil na internet. A informação consta no relatório anual da InHope, rede internacional que reúne canais de denúncia de crimes digitais em 51 países. O levantamento, divulgado na última quinta-feira (3), revela um salto do Brasil no ranking, que, em 2022, aparecia na 27ª colocação.
A análise da InHope baseia-se nos dados recebidos por 55 hotlines ao redor do mundo, responsáveis por acolher e encaminhar denúncias envolvendo crimes online. No Brasil, a entidade responsável por esse trabalho é a SaferNet, que atua em parceria com o Ministério Público Federal desde 2006. A organização contabilizou mais de 50 mil páginas suspeitas de disseminar material de abuso sexual infantil em 2024.
Desse total, 10.823 páginas foram direcionadas a hotlines e autoridades de outros países, por apresentarem indícios de envolvimento de vítimas estrangeiras ou por estarem fora da jurisdição brasileira. Além disso, a SaferNet informou que outras 38.051 páginas foram localizadas com o auxílio de sistemas automatizados e de monitoramento proativo. Esses dados integram as ações do projeto Discover, que busca identificar e conter esse tipo de crime de maneira preventiva.
A organização acrescenta: “Outras 38.051 páginas com indícios de abuso sexual infantil foram encaminhadas aos hotlines com o auxílio de ferramentas de detecção automatizada e pró-ativa, no contexto do projeto Discover, totalizando 48.874 páginas diferentes entre si compartilhadas pela SaferNet Brasil com outros hotlines membros do InHope em 2024”, destaca a nota da entidade.
Apenas no território nacional, foram identificadas e analisadas 1.155 páginas com conteúdos criminosos hospedados em servidores brasileiros, o que representa 0,05% do total de materiais semelhantes detectados globalmente no último ano. As páginas foram encaminhadas ao Núcleo Técnico de Combate aos Crimes Cibernéticos do Ministério Público Federal, responsável pelas investigações.
Diante da exposição de vítimas em plataformas digitais, especialistas reforçam a necessidade de aprimoramento das ferramentas de denúncia, da responsabilização internacional das plataformas envolvidas e da atuação coordenada entre os países para prevenir e punir crimes dessa natureza.
A SaferNet disponibiliza, de forma contínua, a Central Nacional de Denúncias, conveniada ao Ministério Público Federal, e o Canal de Ajuda (Helpline), que oferece orientação a vítimas de violência online. Ambos os serviços são gratuitos e confidenciais.