Por que recebemos um copo de água quando pedimos café?
Costume comum em estabelecimentos deixa algumas pessoas confusas, mas a explicação é bem simples; entenda

O café pode até estar mais caro, mas continua sendo parte essencial da rotina de milhões de brasileiros. Neste 14 de abril, quando se celebra o Dia Mundial do Café, um costume chama a atenção em meio às tradicionais xícaras: o copo de água que muitos estabelecimentos servem junto com a bebida. Para quem nunca ouviu falar sobre isso, a prática pode parecer apenas um detalhe, mas tem um propósito bem definido e raiz histórica.
Originada na Itália, a tradição do copo de água servido antes do café vem ganhando espaço também nos balcões brasileiros. A ideia é simples: limpar o paladar para que o consumidor possa sentir o sabor completo do café, especialmente dos grãos mais finos, como o expresso. A água, nesse caso, não é um acompanhamento aleatório, mas parte de um ritual de degustação. O curioso é que, embora alguns vejam como apenas um gesto de hospitalidade, beber a água depois do café pode até ser considerado um erro de etiqueta.
Mais que cortesia: um ritual que valoriza o sabor do café
De acordo com baristas experientes, o copo de água cumpre um papel essencial na experiência sensorial do café. Ao hidratar a boca e neutralizar sabores anteriores, ele prepara as papilas gustativas para receber a bebida com mais precisão. Ou seja, o amargor característico do café não é suavizado, mas realçado com fidelidade. O gesto se popularizou mundialmente, chegando ao Brasil principalmente em cafeterias que valorizam métodos tradicionais e a boa apresentação do serviço.
Em muitos casos, a água é servida assim que o cliente se senta, antes mesmo de o café chegar à mesa. Em outros, vem junto com a xícara, quase sempre em porções pequenas e, em alguns estabelecimentos, até mesmo com água com gás. Mas atenção: segundo especialistas, o ideal é beber a água antes do café, e não depois, como é mais comum por aqui. Tomar a água após o café pode ser interpretado como uma forma de “apagar” o gosto da bebida, o que vai na contramão do propósito da tradição.
A prática, além de respeitar a cultura italiana, é uma forma de demonstrar apreço pelo trabalho do barista e pela qualidade do grão. Em países com forte cultura cafeeira, como o Brasil, esse tipo de cuidado vem sendo cada vez mais valorizado por quem busca mais do que apenas “cafeína” no dia a dia.

Enquanto a tradição cresce, o preço do café dispara
Apesar do aumento no cuidado e na valorização da experiência de consumo, o café tem pesado cada vez mais no bolso. Dados da Organização das Nações Unidas para Agricultura e Alimentação (FAO) apontam que o preço mundial do grão subiu 38,8% em 2024. No Brasil, a inflação acumulada da bebida chegou a 66,18% até fevereiro, conforme o IBGE. A tendência, segundo especialistas, é que os valores continuem pressionados pelos próximos quatro anos.
A alta nos preços tem múltiplas causas: mudanças climáticas severas, problemas logísticos relacionados a conflitos no Oriente Médio, aumento da demanda global e queda na produção em grandes exportadores como o Vietnã. Como consequência, os principais tipos de grão — arábica e robusta — bateram recordes históricos. Para a indústria brasileira, os custos subiram 224%. Já para o consumidor, o aumento foi de 110% no mesmo período.
Segundo Jheneffer Duarte, professora dos cursos de Administração, Ciências Contábeis e Gestão de RH da Estácio, o café é um exemplo claro da vulnerabilidade de produtos dependentes do clima e dos mercados externos. “O café é um produto extremamente sensível às variações externas. E quando esses impactos chegam ao consumidor, afetam diretamente hábitos cotidianos e o orçamento doméstico, principalmente nas classes mais populares. Além disso, a alta do dólar influencia o preço da saca e incentiva a exportação”, explica a professora.
No Brasil, os efeitos dessa alta chegam mais rapidamente às prateleiras. Enquanto na Europa os repasses costumam ocorrer em até 11 meses e nos EUA em até 8, por aqui a defasagem é menor. Ou seja, o impacto nas gôndolas é quase imediato.
Ainda assim, o costume de servir água antes do café segue firme e deve se intensificar com o avanço da cultura de cafés especiais no país.