O dia 24 de abril é comemorado como o Dia Nacional da Língua Brasileira de Sinais (Libras). De acordo com o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), mais de 10 milhões de brasileiros vivem com algum grau de deficiência auditiva. Embora avanços importantes tenham sido conquistados nas últimas décadas, esse grupo ainda enfrenta sérios obstáculos, especialmente no acesso à alfabetização e a serviços básicos oferecidos por instituições públicas e privadas.

Cada país possui sua própria língua de sinais, independente da língua falada oficialmente. Um exemplo claro é o caso dos Estados Unidos e da Inglaterra: apesar de ambos adotarem o inglês como idioma oficial, utilizam sistemas distintos de sinais, a American Sign Language (ASL) e a British Sign Language (BSL), respectivamente.

No Brasil, a inclusão da comunidade surda ganhou força a partir da Constituição Federal de 1988, que passou a garantir o direito à educação e a atendimentos especializados para pessoas com deficiência. Em 2002, a Libras (Língua Brasileira de Sinais) foi oficialmente reconhecida como uma língua legalmente válida, por meio da Lei nº 10.436, assegurando o direito à comunicação em sua própria língua.

Essa legislação representou um marco para os brasileiros com deficiência auditiva cerca de 20% convivem com perda auditiva severa. Desde então, a comunidade surda conquistou avanços significativos, como a regulamentação da profissão de Tradutor e Intérprete de Libras, em 2010, ampliando as possibilidades de inclusão.

A Libras se vale de um alfabeto manual, no qual cada letra corresponde a uma configuração específica das mãos. Esse recurso é útil para a comunicação de nomes próprios, marcas, localidades e termos técnicos ainda sem sinal definido. Também funciona como ponte entre diferentes línguas de sinais ou para iniciantes no aprendizado.

Diferente de uma linguagem gestual qualquer, a Libras é uma língua completa, com estrutura gramatical própria, capaz de expressar ideias complexas, sentimentos e narrativas. Reconhecê-la como tal é essencial para combater o preconceito e fortalecer seu valor cultural.

Esse reconhecimento é fruto de décadas de mobilização de movimentos sociais, educadores e representantes da comunidade surda, que pressionaram pela criação de políticas públicas e por uma maior valorização da diversidade linguística no país.

Nos últimos anos, a tecnologia se tornou uma importante aliada nesse processo. Ferramentas digitais têm ampliado o acesso à educação bilíngue, promovido traduções simultâneas e facilitado a comunicação por vídeo entre pessoas surdas, encurtando distâncias e fortalecendo vínculos.

Libras na educação

O uso da Língua de Sinais vai além da comunicação: é um elemento fundamental na preservação da identidade cultural das pessoas surdas. Ao ser valorizada, a Libras também reconhece a cultura surda como parte da diversidade brasileira.

Para crianças surdas, o contato com a Libras desde cedo, com o envolvimento dos pais, é fundamental. Essa aproximação permite que a surdez seja compreendida como uma diferença, e não como uma limitação, e que a Libras seja adotada naturalmente como meio legítimo de expressão.

É por meio da língua de sinais que indivíduos surdos interagem socialmente, desenvolvem sua identidade e exercem seus direitos. Assim, a Libras se afirma como uma das ferramentas mais eficazes para garantir inclusão.

No ambiente escolar, destaca-se o papel estratégico do intérprete de Libras. Mais do que apenas um tradutor, esse profissional atua como elo entre o aluno surdo e a escola, ajudando a superar barreiras comunicacionais e contribuindo diretamente para uma aprendizagem mais inclusiva.

Barreiras

Pessoas surdas enfrentam, diariamente, barreiras para se comunicar com o mundo ouvinte. Atividades comuns como ir ao cinema, usar a internet, frequentar farmácias, bancos ou hospitais, podem se tornar inacessíveis  exigindo, muitas vezes, a mediação de um ouvinte.

Essas dificuldades variam de acordo com fatores como o grau da perda auditiva, o momento em que ela ocorreu (antes ou depois da aquisição da linguagem oral), o nível de desenvolvimento da fala, o histórico educacional e o idioma de referência da pessoa surda.

Com à mobilização da comunidade surda, foram estabelecidas normas que garantem atendimento em Libras em serviços públicos e concessionárias, assegurando um atendimento equitativo e respeitoso.

Ambiente corporativo

A presença do intérprete de Libras é essencial para garantir a comunicação entre pessoas surdas e ouvintes. Esse profissional atua como ponte entre a Língua Brasileira de Sinais e a linguagem oral, sendo indispensável para promover a verdadeira inclusão em diversos contextos sociais e profissionais.

Nos últimos anos, a inserção de profissionais surdos no mercado de trabalho tem ganhado destaque, refletindo um avanço importante na busca por mais diversidade e equidade nas empresas.

Para que essa integração aconteça de forma eficaz, é fundamental que as organizações estejam preparadas para acolher esses profissionais. Isso inclui tanto a adaptação do ambiente físico quanto a oferta de ferramentas de acessibilidade, como intérpretes e materiais informativos em Libras.

Uma das estratégias que podem contribuir para esse processo é a oferta de cursos de Libras para os colaboradores. A capacitação dos funcionários amplia a possibilidade de diálogo e fortalece uma cultura organizacional mais empática e inclusiva.

Além de traduzir conteúdos e facilitar a troca de informações, o intérprete de Libras também exerce um papel educativo dentro das empresas, ajudando colegas de trabalho a compreenderem as necessidades específicas dos profissionais surdos. Essa atuação contribui diretamente para um ambiente de trabalho mais justo, acessível e respeitoso para todos.

Debate político

Nesta semana, a Comissão de Defesa dos Direitos das Pessoas com Deficiência da Câmara dos Deputados realiza uma audiência pública em alusão ao Dia Nacional da Língua Brasileira de Sinais (Libras), celebrado em 24 de abril. A data reforça a importância da inclusão de pessoas com deficiência auditiva.

O evento destaca o reconhecimento da Libras como meio legal de comunicação e expressão. Para os parlamentares envolvidos, valorizar essa língua é essencial para garantir que a população surda possa exercer plenamente seus direitos, como o acesso à educação, saúde, trabalho e cultura.

A audiência pública será uma oportunidade para debater políticas públicas que fortaleçam o uso da Libras em escolas, unidades de saúde, repartições públicas e empresas privadas. Espera-se que, a partir desse diálogo, sejam propostas ações concretas que respondam às necessidades da comunidade surda.