Quando o sucesso atrasa
A pressão silenciosa para alcançar estabilidade até os 30 anos contrasta com dados sobre desemprego, informalidade e saúde mental de uma geração em compasso de espera
Até os 30, dizem, tudo deveria estar encaminhado. Diploma, apartamento, carreira sólida, vida afetiva estável, algum patrimônio emocional e, se possível, financeiro. A lista é silenciosa, mas onipresente. Em 2025, no entanto, cada vez mais pessoas enfrentam o que chamam de “fracasso dentro do prazo”.
Segundo o IBGE, mais de 52% dos brasileiros entre 25 e 34 anos ainda vivem na casa dos pais. A instabilidade econômica e a informalidade ajudam a explicar o dado. O trabalho por conta própria atinge 25 milhões de pessoas, e mais da metade dos jovens ocupados estão em empregos temporários, intermitentes ou sem carteira assinada.
Mas a cobrança não é só prática. Ela é simbólica. Nas redes sociais, o sucesso é uma estética: viagens internacionais, conquistas aos vinte e poucos anos, empresas próprias, corpos bem resolvidos. Quem não performa essas imagens parece estar atrasado, mesmo que cumpra jornadas exaustivas ou esteja simplesmente sobrevivendo.
Essa pressão tem efeitos. Em 2024, o Brasil manteve-se no topo do ranking global de ansiedade da OMS. E segundo pesquisa da Fiocruz, 37% dos jovens relatam sintomas moderados a severos de angústia quanto ao futuro. Parte dessa angústia vem da percepção de que falhar é individual, quando na verdade é o sistema que não entrega o prometido.
A geração que cresceu ouvindo que “era só estudar para vencer na vida” hoje lida com concursos congelados, salários achatados e altos custos de vida. O resultado é um desalinhamento entre expectativa e realidade, um desalinhamento que não se resolve com cursos de produtividade nem com frases de autoajuda.
O sucesso, para muitos, não chegou no tempo esperado. E talvez não chegue do jeito planejado. Mas o que esse atraso revela não é falta de esforço. É a falência de uma narrativa. Recomeçar aos 35, mudar de área aos 40, construir aos poucos: tudo isso passou a ser normal, embora ainda carregue o peso do “deveria”.
O relógio social, afinal, não considera contexto. Mas o corpo e a mente sentem. Quem não chegou “lá” aos trinta não está perdido — só está no tempo real da vida.