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Saúde mental

Rede pública enfrenta desafios no acolhimento de pacientes com vício em apostas

Popularização das apostas esportivas expõe lacunas na regulação e levanta preocupações sobre os impactos sociais e psicológicos nos apostadores

Anna Salgadopor Anna Salgado em 14 de maio de 2025
Rede pública enfrenta desafios no acolhimento de pacientes com vício em apostas
Foto: Anna Salgado / O Hoje

A popularização das apostas esportivas no Brasil acendeu um alerta na saúde pública: o aumento da procura por tratamento de transtornos mentais ligados ao jogo compulsivo. Apesar de o tema ainda ser recente, a demanda por atendimento psicológico e psiquiátrico cresceu em diversas capitais, pressionando a estrutura da Rede de Atenção Psicossocial (Raps), especialmente os Centros de Atenção Psicossocial (Caps).

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Com a disseminação das chamadas “bets” no ambiente digital, pessoas de diferentes faixas etárias passaram a manifestar sintomas de dependência. Nos serviços especializados da rede pública, isso se traduz em novos perfis de pacientes, que buscam ajuda após perdas financeiras e emocionais associadas ao hábito de apostar. Os profissionais enfrentam o desafio de diagnosticar o transtorno do jogo e de incluí-lo nos fluxos de cuidado previstos para outras dependências, como álcool e outras drogas.

Estrutura defasada 

O Ministério da Saúde incluiu a ludopatia como uma das condições que podem ser atendidas nas unidades do SUS voltadas à saúde mental. No entanto, a estrutura dos Caps ainda apresenta defasagens para lidar com o fenômeno. Em unidades com foco em substâncias psicoativas, como o Caps AD, nem sempre há protocolo específico para apostas, e o acesso pode ser dificultado pela alta demanda, escassez de pessoal e ausência de especialização sobre o tema.

Outro ponto crítico é a descentralização das informações. Pacientes e familiares relatam dificuldades para localizar unidades de referência, agendar atendimentos ou receber orientações sobre o fluxo adequado. Em algumas cidades, os canais oficiais de contato das unidades estão desatualizados ou inoperantes. A falta de campanhas públicas específicas sobre o tema também contribui para o desconhecimento da população sobre o que fazer em casos de compulsão por apostas.

Na rede estadual, os serviços especializados em saúde mental recebem parte da demanda, mas a capacidade de resposta ainda é limitada. O acompanhamento exige abordagem contínua, com psicoterapia, suporte social e, em certos casos, medicação. A alta rotatividade de profissionais e a ausência de treinamento específico para lidar com esse novo tipo de adição dificultam a consolidação de uma política de acolhimento efetiva.

Embora o Ministério da Saúde tenha sinalizado a importância do tema, o enfrentamento da ludopatia ainda carece de diretrizes clínicas e campanhas institucionais. Além do cuidado direto ao paciente, a prevenção é um dos pilares pouco explorados. Sem regulamentação específica para limitar a publicidade das plataformas de apostas e sem um plano nacional de enfrentamento da dependência, a rede de saúde mental segue operando com lacunas, enquanto o número de casos cresce.

Frente a esse cenário, especialistas em políticas públicas de saúde destacam a urgência de ações integradas. Aposta-se na ampliação da cobertura dos Caps, na formação de profissionais e no fortalecimento da atenção básica como pontos estratégicos para conter o avanço do vício. Contudo, sem recursos suficientes e planejamento de longo prazo, o sistema pode não acompanhar a demanda crescente gerada por uma indústria em plena expansão.

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