Potássio se mostra mais eficaz que cortar sal contra hipertensão
A hipertensão arterial afeta aproximadamente um terço da população mundial
Uma pesquisa conduzida pela Universidade de Waterloo, no Canadá, aponta que elevar a ingestão de potássio na dieta pode ser uma medida mais eficiente para controlar a pressão arterial do que simplesmente reduzir o consumo de sódio. Publicado no American Journal of Physiology – Renal Physiology, o estudo traz novas perspectivas sobre o equilíbrio desses dois minerais no organismo humano.
A hipertensão arterial, conhecida como a “assassina silenciosa”, afeta aproximadamente um terço da população mundial. Além de ser o principal fator de risco para doenças cardiovasculares, como infarto e AVC, está associada a complicações graves, incluindo insuficiência renal, arritmias, falência cardíaca e até quadros de demência.
Os pesquisadores explicam que potássio e sódio têm efeitos opostos no organismo: enquanto o sódio contribui para a retenção de líquidos e aumento da pressão arterial, o potássio favorece a excreção de sódio pelos rins e promove o relaxamento dos vasos sanguíneos. Esses efeitos resultam de interações complexas entre função renal, volume de fluidos, hormônios reguladores, vasculatura, função cardíaca e o sistema nervoso autônomo.
Segundo o estudo, dietas ricas em sódio e pobres em potássio provocam vasoconstrição e aumento do volume sanguíneo, elevando a pressão arterial. Por outro lado, dietas com maior teor de potássio e menor teor de sódio promovem vasodilatação e contribuem para a redução da pressão. Assim, os pesquisadores sugerem que a inclusão de alimentos ricos em potássio como bananas, abacate, brócolis e folhas verdes escuras, pode ter um impacto mais significativo do que apenas restringir o sal.
Embora sódio e potássio sejam metais na natureza, no corpo humano eles funcionam como íons, partículas eletricamente carregadas e atuam como eletrólitos essenciais à condução de impulsos nervosos, contração muscular e regulação do equilíbrio hídrico. O sódio se concentra no líquido extracelular e retém água, enquanto o potássio predomina no meio intracelular e auxilia na eliminação do excesso de sódio.
O estudo ressalta ainda o desequilíbrio atual na relação entre os dois minerais, típico das dietas ocidentais, marcadas pelo consumo elevado de alimentos ultraprocessados, ricos em sódio e pobres em potássio. Essa desproporção é considerada um fator de risco adicional para o desenvolvimento da hipertensão.
Frutas como abacate, banana, laranja, melão, maracujá, damasco, ameixa seca, kiwi e alimentos como coco, leguminosas, oleaginosas e vegetais folhosos destacam-se como boas fontes de potássio. Os pesquisadores basearam-se em dados epidemiológicos que mostram menor incidência de hipertensão em populações que mantêm uma dieta mais rica em potássio e mais pobre em sódio.
A equipe canadense também desenvolveu um modelo matemático capaz de prever o impacto da relação entre esses eletrólitos no organismo. De acordo com o modelo, o aumento do consumo de potássio oferece benefícios cardiovasculares mesmo na presença de sódio na dieta, reforçando a ideia de que a simples redução do sal pode não ser suficiente.
Outro aspecto abordado no estudo é a diferença entre os sexos na resposta ao consumo de potássio. Homens, segundo os dados, têm maior predisposição à hipertensão do que mulheres na pré-menopausa, mas apresentam uma resposta mais significativa à elevação da proporção potássio/sódio. Essa variação pode estar relacionada a fatores hormonais e à maior capacidade feminina de excretar sódio antes da menopausa.
Os autores destacam que o potássio é frequentemente negligenciado nas estratégias de controle da hipertensão. Eles defendem a necessidade de maior conscientização sobre a importância desse mineral e sugerem que a inclusão de alimentos ricos em potássio deve ser incentivada como parte de uma abordagem mais abrangente para o combate à pressão alta.
Por fim, os pesquisadores alertam que nenhuma mudança terá efeito se não estiver acompanhada de uma reeducação alimentar completa, com diversidade no consumo de vitaminas e minerais. A orientação é clara: não basta cortar o sal, é preciso enriquecer a dieta com nutrientes que realmente contribuam para o equilíbrio do organismo.