Obesidade entre adolescentes deve atingir 464 milhões de casos até 2030
O enfrentamento da obesidade deve começar ainda na infância
Até 2030, a projeção da Comissão Lancet sobre saúde e bem-estar dos jovens indica que aproximadamente 464 milhões de adolescentes em todo o mundo poderão enfrentar sobrepeso ou obesidade. Esse quadro é particularmente preocupante em países da América Latina, como o Brasil, além do Caribe, Norte da África e Oriente Médio, onde mais de um terço dos jovens entre 10 e 24 anos já vivem com excesso de peso.
No Brasil, estima-se que cerca de 15,5 milhões de crianças e adolescentes, com idades entre 5 e 19 anos, convivam com essa condição. Recentemente, o Conselho Federal de Medicina (CFM) atualizou as diretrizes para a realização da cirurgia bariátrica, reduzindo a idade mínima para 14 anos e ampliando o acesso ao procedimento.
A predisposição genética pode desempenhar um papel importante no ganho de peso entre adolescentes, especialmente quando há histórico familiar de obesidade. Além disso, algumas condições médicas e alterações metabólicas podem dificultar o controle do peso, exigindo maior atenção à alimentação e à prática de atividades físicas.
O estilo de vida sedentário aliado ao consumo calórico excessivo figura como a principal causa da obesidade juvenil. Embora muitas complicações associadas se manifestem na vida adulta, adolescentes com excesso de peso já apresentam riscos aumentados de hipertensão e diabetes tipo 2. O estigma social também agrava a situação, pois muitos sofrem bullying, o que pode intensificar o isolamento e a falta de atividade física.
Fatores ambientais contribuem significativamente para esse cenário, como o fácil acesso a alimentos de baixa qualidade nutricional, distúrbios do sono e o uso excessivo de dispositivos eletrônicos, que favorecem hábitos sedentários. Embora alterações hormonais, como hipotireoidismo ou hiperfunção das glândulas adrenais, possam provocar ganho de peso, são causas raras e geralmente acompanhadas de outros sinais clínicos.
O enfrentamento da obesidade deve começar ainda na infância, já que estudos indicam que até 70% das doenças associadas, como diabetes e hipertensão, podem ser prevenidas com intervenções precoces. O crescimento natural das crianças favorece o ajuste entre peso e altura, tornando a adoção de hábitos saudáveis e a prática regular de atividades físicas estratégias fundamentais. Esportes coletivos e caminhadas são especialmente recomendados nesse processo.
Adoção de hábitos saudáveis como estratégia essencial
A prevenção e o tratamento da obesidade na adolescência passam, primordialmente, pela manutenção de uma alimentação equilibrada. É essencial estimular o consumo variado de alimentos ricos em nutrientes, como frutas, legumes, grãos integrais, proteínas magras e laticínios com baixo teor de gordura, ao mesmo tempo em que se limita a ingestão de ultraprocessados e bebidas açucaradas. Ensinar os jovens a interpretar os rótulos dos produtos pode favorecer escolhas mais conscientes.
Embora o incentivo a um estilo de vida saudável seja o caminho prioritário, algumas situações demandam a intervenção de profissionais para o manejo adequado da condição. Cada adolescente possui necessidades específicas, o que torna indispensável que o tratamento seja personalizado, considerando as particularidades de cada caso.
Riscos elevados
A pesquisa também revelou que, nos próximos cinco anos, mais de 1 bilhão de adolescentes, com idades entre 10 e 24 anos, permanecerão expostos a riscos elevados de infecções por HIV/Aids, gravidez na adolescência, depressão, desnutrição e lesões. A segunda avaliação da Comissão Lancet sobre a saúde e o bem-estar dos adolescentes, baseada nos dados do Global Burden of Disease de 2021, identificou cerca de 1,1 bilhão de jovens vivendo em países onde problemas de saúde evitáveis e tratáveis seguem representando ameaças constantes.
Outro dado importante apontou que, ao longo das últimas três décadas, a saúde mental dessa faixa etária sofreu um declínio acentuado nos países com registros disponíveis, sendo provável que a pandemia de Covid-19 tenha intensificado esse cenário. O relatório enfatiza a necessidade urgente de priorizar a saúde dos adolescentes nas agendas globais, destacando a discrepância entre a crescente incidência de doenças nessa fase e o baixo investimento: apenas 2,4% dos recursos destinados ao desenvolvimento em saúde foram direcionados a essa população entre 2016 e 2021, apesar de representarem mais de um quarto da população mundial.