Alego vive surto atrás de surto
Sessão é suspensa após novo embate entre Bia de Lima e Amauri Ribeiro; tumulto tomou conta das galerias e corredores do parlamento goiano
Bruno Goulart
Mais uma vez, a Assembleia Legislativa de Goiás (Alego) foi palco de tumultos e confrontos que inviabilizaram a deliberação de projetos importantes. A sessão plenária desta terça-feira (27) foi encerrada antes mesmo do início da votação de matérias previstas na pauta do dia. O motivo foi o novo capítulo da confusão entre a deputada Bia de Lima (PT) e Amauri Ribeiro (União Brasil), que levaram apoiadores às galerias da Casa, provocando um ambiente de hostilidade e gritaria que impediu o andamento dos trabalhos legislativos.
As galerias ficaram divididas: de um lado, manifestantes empunhavam faixas e gritavam palavras de apoio à deputada petista; do outro, apoiadores de Amauri Ribeiro aplaudiam o parlamentar. A tensão aumentou tão logo o deputado entrou no plenário, sendo recebido com vaias e aplausos, o que levou à suspensão imediata da sessão. Fontes ouvidas pelo jornal O HOJE relatam que o caos se estendeu para os corredores da Alego, onde foi necessária a presença da Polícia Militar e da Polícia Legislativa para conter qualquer descontrole.
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Na sessão, Bia foi a primeira a usar a palavra durante o Pequeno Expediente. Ela agradeceu as manifestações de solidariedade que recebeu nos últimos dias e voltou a denunciar que vem sendo vítima de violência política de gênero desde o início do seu mandato.
“Não se tratam de questões ideológicas, e sim de repetidos casos de agressão e violência. Desde o começo do meu mandato, sou atacada pessoalmente, com apelidos chulos e desrespeito. Meu trabalho é público e reconhecido por defender quem não tem voz. Não me calarei diante da opressão”, declarou a deputada. “Achar que vou me calar com violência e agressão não funcionará. Em nome de todas as mulheres, estarei aqui.”
Com a escalada do conflito, o Conselho de Ética da Alego foi acionado. Bia de Lima apresentou representação contra Amauri Ribeiro por quebra de decoro parlamentar, e os membros do colegiado se reuniram nesta terça para discutir o caso. Inicialmente, o presidente do Conselho, deputado Charles Bento, foi apontado como relator por ser considerado “neutro” no embate — diferente dos outros integrantes, ligados diretamente aos envolvidos. No entanto, após consulta ao regimento, Bento se declarou impedido de relatar o processo, por ocupar a presidência do órgão. Um novo relator será escolhido até esta quarta-feira (28).
Estupim
A origem do conflito remonta à última quarta-feira (21), quando Amauri Ribeiro fez insinuações ofensivas e de cunho pessoal contra a deputada Bia de Lima.
Durante a leitura de matérias na mesa diretora, o parlamentar afirmou: “Vai cuidar dos seus novinhos, deputada, vai. Você gosta de novinho. Cuidado pra não pegar novinho demais.” A fala foi interpretada como um ataque direto à vida pessoal da petista, que reagiu imediatamente, pedindo à mesa diretora a substituição de Amauri da função que exercia naquele momento.
Histórico e punição
Nos bastidores, há expectativa de que Amauri Ribeiro seja punido com suspensão de 30 dias do uso da tribuna. Ele, por sua vez, ameaça reagir e exige que, caso seja punido, Bia também sofra sanções. A avaliação, no entanto, é que a representação apresentada por ele contra a colega não deve prosperar.
Essa, também, não é a primeira vez que Ribeiro se envolve em polêmicas contra mulheres. Em 2019, ele foi alvo de protestos de servidoras da própria Alego após afirmar, em entrevista à imprensa, que a Assembleia era uma “casa de mulheres”, onde até “modelos” estariam ali para “servir os deputados”; na ocasião, ele se recusou a pedir desculpas e chamou a repercussão de “mimimi”. Já em 2021, declarou que a então vereadora Luciula do Recanto, de Goiânia, “merecia um tiro na cara” durante discurso. O episódio foi repudiado pela Câmara Municipal, mas, assim como nos demais casos, Amauri não foi punido.