Impasse no transporte coletivo aumenta risco de greve em Goiânia
Com cerca de 500 mil usuários por dia, uma paralisação no sistema de transporte coletivo causaria forte impacto na rotina da população

A tensão entre motoristas, cobradores e empresas do transporte coletivo voltou a crescer em Goiânia e na Região Metropolitana. Após seis rodadas de negociações sem avanços, a categoria ameaça entrar em greve caso o Sindicato das Empresas de Transporte Coletivo (SET) continue sem apresentar uma proposta formal de reajuste salarial.
A data-base da categoria, que é o período do ano em que são negociados reajustes salariais e condições de trabalho, venceu no dia 1º de março. Desde então, os trabalhadores têm pressionado por um aumento entre 8 e 9%, além de melhorias nas condições de trabalho. Entre as principais demandas estão a redução da carga horária diária, revisão dos intervalos para refeições e adequações nas salas de descanso dos terminais.
A próxima reunião entre o Sindicato dos Trabalhadores em Transportes Coletivos (Sindcoletivo) e o SET está marcada para terça-feira, 10 de junho, às 14h, na sede do sindicato patronal. Segundo o presidente do Sindcoletivo, Carlos Alberto Luiz dos Santos, o clima entre os trabalhadores é de impaciência e descrença, o que fomenta mais ainda a ideia de uma futura greve.
Além das seis reuniões que terminaram sem acordo, o sindicato afirma que outras cinco foram desmarcadas pelo SET, o que aumenta a frustração da categoria. “Há promessas, mas nenhuma proposta concreta. É difícil compreender essa postura, especialmente quando as empresas operam com subsídios públicos e uma frota renovada”, disse.
Salário abaixo da média nacional
Segundo dados, o salário base é de aproximadamente R$ 3 mil para motoristas em Goiânia, mesmo após um reajuste de 7,5% no ano passado, o que é considerado baixo diante do valor da tarifa, que hoje custa R$ 4,95, uma das mais altas do país. O que comparado a situação de outras capitais como Brasília e São Paulo, onde os profissionais do setor recebem salários mais altos e têm melhores condições de trabalho.
A expectativa da categoria é que, na próxima reunião, o SET leve à mesa uma proposta oficial. Se isso ocorrer, a categoria será convocada para uma assembleia geral. Caso contrário, o sindicato já sinalizou que levará o caso à Superintendência Regional do Trabalho, ao Ministério Público do Trabalho e ao Tribunal Regional do Trabalho (TRT), com pedido de dissídio coletivo.
Outro argumento levantado pelos trabalhadores é o papel que desempenharam durante a pandemia de Covid-19, quando continuaram operando o sistema de transporte mesmo diante de riscos elevados. Eles destacam que atuaram na linha de frente, mantendo os ônibus em circulação, muitas vezes sem Equipamentos de Proteção Individual (EPIs) adequados.
Para o presidente, os investimentos recentes no setor, como a chegada de ônibus elétricos, novos sistemas de bilhetagem e alto índice de subsídio público, contrastam com a falta de valorização dos profissionais. “As empresas recebem passagens antecipadas, têm segurança financeira. Não há justificativa para não apresentarem uma proposta justa aos trabalhadores.”
A reportagem entrou em contato com SET, mas até a publicação desta matéria não obtivemos retorno. Enquanto isso, o risco de greve paira sobre a mobilidade urbana da capital e sua Região Metropolitana. Com cerca de 500 mil usuários por dia, uma greve no sistema de transporte coletivo causaria forte impacto na rotina da população, o que aumenta ainda mais a pressão por uma solução rápida e equilibrada.
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