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segunda-feira, 7 de julho de 2025
Postergar

Procrastinação vai além da desorganização e afeta saúde mental

De acordo com profissionais da saúde, a procrastinação crônica pode levar ao aumento dos níveis de estresse

Leticia Mariellepor Leticia Marielle em 22 de junho de 2025
Procrastinação vai além da desorganização e afeta saúde mental. | Foto: Reprodução/Istock

Postergar tarefas é um comportamento amplamente disseminado na sociedade contemporânea e, segundo especialistas, pode trazer consequências relevantes tanto para a saúde mental quanto para o desempenho acadêmico e profissional. Longe de se tratar apenas de desorganização ou ausência de disciplina, a procrastinação envolve uma série de fatores emocionais, sociais e até neurológicos.

Um exemplo comum desse padrão comportamental se dá quando alguém adia compromissos importantes com prazo definido, como a entrega de um relatório, preferindo se ocupar com atividades menos urgentes. Embora essa escolha seja familiar para muitos, especialistas alertam que ela não deve ser encarada como inofensiva.

De acordo com profissionais da saúde, a procrastinação crônica pode levar ao aumento dos níveis de estresse, sensação de incapacidade e baixa autoestima. A autocrítica intensa e o julgamento social costumam agravar tais efeitos, já que muitos veem os indivíduos procrastinadores como pouco comprometidos ou ineficazes.

Os impactos vão além do campo emocional. Em termos práticos, há perdas de produtividade e organização. Pessoas que procrastinam de forma recorrente tendem a perder prazos, cometer erros e apresentar dificuldades para manter uma rotina estruturada. A ausência de planejamento e o foco disperso acabam gerando sobrecarga contínua.

Na tentativa de entender melhor os fatores biológicos associados ao problema, estudos recentes da neurociência têm revelado evidências importantes. Uma pesquisa publicada na revista Psychological Science, em 2018, analisou exames de ressonância magnética funcional de mais de 260 participantes. Os dados indicaram que indivíduos com alta propensão à procrastinação apresentavam um volume aumentado da amígdala cerebral, estrutura ligada ao processamento de emoções.

O mesmo estudo identificou uma conectividade reduzida entre a amígdala e o córtex cingulado anterior dorsal, região relacionada à regulação comportamental e à tomada de decisões. Essa conexão enfraquecida estaria associada à dificuldade de lidar com estímulos emocionais e resistir a distrações, comprometendo a capacidade de iniciar e sustentar tarefas.

Outro fator apontado é o papel da dopamina, neurotransmissor responsável pela motivação e pelo sentimento de recompensa. Procrastinadores crônicos demonstram respostas dopaminérgicas menos intensas em áreas do cérebro ligadas à motivação, o que reduz a percepção de benefício ao cumprir obrigações. Como consequência, há uma tendência maior a evitar tarefas vistas como pouco prazerosas ou com retorno distante.

Pesquisadores também destacam que a dificuldade em projetar recompensas futuras favorece escolhas imediatistas. O cérebro tende a priorizar atividades com gratificação instantânea, mesmo que isso comprometa o desempenho em médio e longo prazo.

Apesar de possuir bases neurológicas, a procrastinação pode ser enfrentada com estratégias específicas. Especialistas recomendam o fortalecimento do autoconhecimento, o uso de técnicas de organização e, em alguns casos, o acompanhamento psicológico. Reconhecer os gatilhos que desencadeiam esse comportamento representa um passo essencial para romper o ciclo de adiamento e retomar o controle sobre as próprias ações.

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