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sexta-feira, 5 de dezembro de 2025
Crescimento do pessimismo

Maioria dos jovens entra no mercado já desacreditados

Estudo revela crescimento do pessimismo entre brasileiros em início de carreira, em um cenário de instabilidade e cobrança desproporcional

Luana Avelarpor Luana Avelar em 6 de julho de 2025
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Um levantamento internacional da plataforma Handshake revelou que 57% dos jovens brasileiros estão pessimistas quanto ao início de suas trajetórias profissionais. O dado, obtido a partir de uma amostra de 1.925 estudantes em 2025, representa um aumento em relação ao índice registrado no ano anterior, quando 49% demonstravam essa mesma percepção. O estudo integra o relatório “State of the Graduate – Class of 2025”, que analisa as expectativas de jovens formandos em diversos países.

No Brasil, o pessimismo está fortemente ligado à dificuldade de inserção no mercado de trabalho. Ainda que haja vagas destinadas ao primeiro emprego, muitas exigem experiências anteriores que os candidatos não possuem. Quando contratados, os jovens frequentemente enfrentam vínculos frágeis e jornadas curtas, marcadas por demissões e instabilidade. Essa combinação de exigência e rotatividade alimenta um ciclo de frustração que começa já nos primeiros contatos com o mundo profissional.

Além disso, dados da Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE) apontam que 39% dos adolescentes brasileiros com 15 anos não sabem qual carreira pretendem seguir até os 30. Apenas 8% estão matriculados em cursos técnicos, o que evidencia um descompasso entre a formação escolar e as demandas do mercado. A baixa adesão ao ensino técnico reforça a distância entre o perfil dos jovens e as oportunidades de trabalho que exigem qualificação específica.

O modelo tradicional de carreira, com progressão estável em instituições formais, tem cedido espaço para trajetórias fragmentadas. A atuação como freelancer, os estágios mal remunerados e o empreendedorismo informal têm se tornado alternativas comuns, ainda que nem sempre garantam renda suficiente ou desenvolvimento profissional contínuo. Para muitos, o trabalho assume o papel de sobrevivência, e não de construção de futuro.

Essa nova realidade, marcada por múltiplos vínculos e ausência de segurança, também impacta a saúde mental. A vivência de processos seletivos longos, pouco transparentes e muitas vezes automatizados contribui para o aumento da ansiedade, do desânimo e da desmotivação. Os relatos recorrentes são de jovens que se sentem despreparados, ignorados ou desvalorizados antes mesmo de iniciarem efetivamente uma carreira.

O cenário educacional aprofunda a sensação de desalento. Apenas 25% dos brasileiros entre 18 e 24 anos ingressam no ensino superior, e só 4% concluem os cursos. Paralelamente, dados nacionais apontam que 27% dos jovens entre 14 e 29 anos estão fora da escola e do mercado de trabalho. Essa exclusão compromete a autonomia financeira e a capacidade de projetar uma trajetória profissional sustentável.

As oportunidades disponíveis para esse grupo são, em geral, marcadas por informalidade, baixos salários e ausência de direitos trabalhistas. A juventude brasileira, especialmente a das periferias urbanas e áreas rurais, se depara com um sistema que oferece pouco em termos de estrutura, orientação e mobilidade social. A desconexão entre expectativas e realidade profissional alimenta um desalento que não é episódico, mas estrutural. O estudo da Handshake, ao quantificar esse sentimento, escancara uma geração pressionada a se provar antes mesmo de ter a chance de começar.

 

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