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sexta-feira, 5 de dezembro de 2025
Saúde

Metade do dinheiro some antes do diagnóstico

Idosos perdem até 50% de suas economias antes que a demência seja identificada, revela pesquisa global

Luana Avelarpor Luana Avelar em 15 de julho de 2025
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Antes que a palavra demência apareça num prontuário médico, os primeiros sinais do declínio cognitivo podem ser detectados nas finanças. Um estudo publicado em 2023 na revista JAMA Internal Medicine revelou que idosos perdem até 50% de seu patrimônio líquido nos oito anos anteriores ao diagnóstico da doença. O levantamento, conduzido por pesquisadores da Universidade de Washington, mostra que a deterioração financeira antecede os sintomas clássicos, como lapsos de memória ou dificuldades de linguagem.

A pesquisa comparou os dados financeiros de 2.600 adultos americanos com diagnóstico posterior de demência com os de um grupo controle. Entre os que desenvolveram a doença, o patrimônio caiu de uma média de 217 mil dólares para menos de 104 mil no período anterior ao diagnóstico. A queda nos ativos líquidos foi ainda mais acentuada, passando de cerca de 25 mil dólares para menos de 5,5 mil.

Outro levantamento, publicado em 2020 e reafirmado em 2023 por pesquisadores da Universidade da Califórnia, analisou o comportamento de mais de 81 mil beneficiários do programa Medicare. Os dados indicam que os primeiros sinais de desorganização financeira, como atrasos no pagamento de contas e queda na pontuação de crédito, podiam ser detectados até seis anos antes do diagnóstico formal. A ligação entre declínio cognitivo e decisões financeiras imprudentes é uma manifestação concreta do avanço da doença.

O problema é que essas mudanças raramente são vistas como sinais clínicos. A própria pessoa em processo de deterioração tende a negar a perda de autonomia, alimentando a ideia de que ainda está no controle. Com isso, os familiares demoram a agir e o sistema de saúde, focado nos sintomas clássicos, não investiga o histórico financeiro como parte do rastreio.

A ausência de medidas legais protetivas, como procuradores previamente designados ou cláusulas de bloqueio em movimentações suspeitas, agrava o risco. Também é incomum que instituições financeiras atuem como barreira de proteção, mesmo diante de transferências incomuns ou alterações bruscas no padrão de consumo.

Frente a esse cenário, especialistas sugerem ações simples e preventivas. Entre elas estão a avaliação cognitiva anual para pessoas com mais de 65 anos, educação financeira voltada à terceira idade e revisão periódica dos extratos bancários por familiares ou profissionais de confiança. O objetivo é preservar a autonomia e reduzir o risco de perdas.

A Alzheimer’s Disease International estima que, até 2050, o número de pessoas com demência chegará a 139 milhões no mundo. No Brasil, dados da FAPESP apontam que mais de 40% dos idosos com mais de 90 anos já convivem com algum grau da doença. A demência é uma ameaça silenciosa e concreta, que começa bem antes do diagnóstico e pode custar caro quando não se reconhece onde ela já começou.

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