Fundo bilionário do Pré-sal pode financiar dívidas do agronegócio
Aprovação do projeto na Câmara gerou discussões entre os deputados
As mudanças climáticas podem não ser mais tão desafiadoras para os produtores rurais. Isso porque a Câmara dos Deputados aprovou, na última quarta-feira (16), o Projeto de Lei 5.122/23, que prevê o uso de cifras bilionárias do Fundo Social com o intuito de beneficiar associações, cooperativas e produtores rurais em casos de perdas causadas por catástrofes climáticas.
O valor destinado para o uso é de R $30 bilhões e o texto que compõe o PL será direcionado para avaliação do Senado Federal. Em tese, a proposta que tem como relator Afonso Hamm (PP-RS), é inspirada pela lei nº 13.340/16, que “reconheceu os desafios enfrentados pelos agricultores, pecuaristas, piscicultores e carcinicultores, em geral, em face de adversidades climáticas similares às atuais, e buscou proporcionar alívio e sustentabilidade econômica”, de acordo com a justificativa do texto relatado por Hamm.
Há quem discorde do progressista, como é o caso do deputado estadual Mauro Rubem (PT-GO) ao explicar que “inicialmente as verbas do Fundo Social do Pré-sal eram direcionadas para pessoas que foram atingidas pelas fortes enchentes que ocorreram no Rio Grande do Sul. O atual PL aprovado pela Câmara é um projeto de lei que vai atender pessoas que não precisam, então é preciso voltar ao projeto original que direciona verbas para os atingidos por calamidades no Rio Grande do Sul”, opina o político ao O HOJE.
Outros parlamentares também criticaram a votação da proposta nesta quarta-feira. O líder do Partido dos Trabalhadores, o deputado Lindbergh Farias (PT-RJ), não concorda com a aprovação do projeto e afirmou que o impacto da implementação do mesmo é bilionário. “Estamos tirando do Fundo Social [recursos que iriam] para áreas de educação, cultura, esporte, saúde, ciência e tecnologia, habitação popular
e meio ambiente. Isso é muito grave, é uma irresponsabilidade total.”
Para a líder do Partido Socialismo e Liberdade (Psol), “são R$ 10 milhões por CPF, R$ 50 milhões por CNPJ sem nenhum item dizendo que vai priorizar os pequenos”. “E vai provocar um rombo de R$ 30 bilhões”, afirmou a deputada federal Talíria Petrone.
Origem das verbas
O Fundo Social foi criado em 2010 e é abastecido com verbas normalmente direcionadas para áreas da educação, saúde, meio ambiente e desenvolvimento regional e social. Considerando isso, parte significativa dos parlamentares que não concordaram com a votação do projeto justificam o desacordo por acharem que o fundo está sendo direcionado para uma área que não se aplica.
No início de julho, foi aprovado pelo Congresso o uso de até R$15 bilhões do Fundo Social que foram investidos no programa social Minha Casa, Minha Vida. Caso o novo projeto seja aprovado, parte dos recursos serão alocados para o setor agropecuário.
Realidade após aprovação do projeto
Com a aprovação do projeto, passa a valer as seguintes condições: produtores individuais poderão renegociar até R$ 10 milhões; associações e cooperativas poderão renegociar até R$ 50 milhões; as renegociações poderão ser realizadas por meio do Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES) ou de outras instituições financeiras.
Assim, os contratos terão carência de até três anos e prazo de pagamento de até 10 anos, podendo chegar a 15 anos em casos específicos. Para o relator progressista, Afonso Hamm, o projeto é um “instrumento célere, justo e financeiramente responsável para restaurar a capacidade produtiva dos agricultores brasileiros, assegurar a continuidade da produção de alimentos e fortalecer a resiliência do País frente aos crescentes desafios impostos pelas mudanças climáticas”.
Ainda de acordo com o projeto, atividades como a pesca, a aquicultura e a carcinicultura, são potencialmente importantes para o âmbito econômico do Brasil, principalmente no que diz respeito ao sustento das famílias, sobretudo em regiões que dependem fortemente dessas atividades para o seu próprio consumo. No entanto, é de se observar os efeitos provocados pelas mudanças climáticas na vida de todos, inclusive daqueles que exercem seus trabalhos através dos plantios.
Segundo o deputado federal Arlindo Chinaglia, “é bom levar em consideração que quem vai decidir o valor do Plano Safra é o presidente da República”. “É preciso ter cautela e, se tentarem colocar a faca no pescoço às últimas consequências, o governo saberá se defender”, opina o petista.
Sobre o direcionamento do PL 5122/23 ao Senado, Mauro Rubem destaca que “o Congresso tem sido contrário a pautas de interesse da população e ainda cria uma dívida para o povo brasileiro pagar. Eu espero que o Senado corrija o projeto e que tenham responsabilidade com o país”, opina o petista. (Especial para O Hoje)