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sexta-feira, 5 de dezembro de 2025
Saúde

Brasil falha no cuidado ao fim da vida

País ocupa a 79ª posição em ranking internacional sobre qualidade da morte e expõe desigualdades na oferta de cuidados paliativos pelo SUS

Luana Avelarpor Luana Avelar em 23 de julho de 2025
closeup de um apoio de maos
Foto: Freepik

O Brasil ainda não sabe lidar com o fim da vida. Segundo estudo publicado em 2022 pela revista The Journal of Pain and Symptom Management, o país ocupa a 79ª posição em um ranking global que mede a qualidade da morte e a presença de serviços paliativos, com base na opinião de especialistas de 81 países. A colocação revela a carência do sistema público de saúde e uma negligência histórica com pacientes que enfrentam doenças incuráveis.

O ranking é reflexo de um país onde os cuidados paliativos estão disponíveis apenas em bolsões mais desenvolvidos, enquanto vastas regiões seguem à margem da assistência. A nota atribuída ao Brasil resulta de uma média entre extremos: em algumas capitais, o atendimento está razoavelmente estruturado; em outras localidades, a ausência é completa. A desigualdade geográfica e o subfinanciamento tornam o cuidado no fim da vida um privilégio, quando deveria ser direito.

A lógica hospitalar que impera no sistema ainda enxerga a morte como fracasso, e não como parte do ciclo da vida. O processo de morrer continua relegado ao improviso e ao sofrimento, numa estrutura que privilegia intervenções curativas mesmo quando elas já não fazem sentido. Integrar os cuidados paliativos à atenção primária, garantir acesso a medicamentos e formar equipes interdisciplinares são passos urgentes para reverter esse cenário.

A formação profissional ainda não acompanha essa necessidade. Falta preparo técnico e, sobretudo, humano. Os cuidados paliativos exigem escuta, tempo e respeito à individualidade, três componentes frequentemente ignorados na rotina do SUS. Além do alívio da dor física, é preciso enfrentar o sofrimento psíquico, espiritual e social, de pacientes e familiares. Isso exige equipes preparadas desde a graduação para lidar com o que não pode ser curado, mas pode ser cuidado.

Em maio de 2024, a criação da Política Nacional de Cuidados Paliativos trouxe novo fôlego ao setor. A diretriz prevê financiamento federal, fortalecimento das redes locais e inserção dos cuidados paliativos na atenção básica. Mas a distância entre norma e prática continua grande. Transformar essa política em realidade dependerá de articulação entre governos, profissionais e sociedade civil.

O envelhecimento da população e o aumento das doenças crônicas tornam o avanço dos cuidados paliativos uma urgência. Mas, acima de tudo, trata-se de uma exigência ética: garantir dignidade até o último momento da vida.

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