Rendimento em queda no Centro-Oeste contrasta com avanço no campo goiano
Apesar da redução da renda média na região, Goiás registra aumento de empregos formais, maior presença feminina no campo e crescimento na agroindústria
O rendimento médio mensal dos trabalhadores da agropecuária brasileira cresceu 5,5% no primeiro trimestre de 2025 em comparação com o mesmo período de 2024, segundo o Anuário Estatístico da Agricultura Familiar, produzido pela Confederação Nacional dos Trabalhadores Rurais Agricultores e Agricultoras Familiares (Contag) e pelo Departamento Intersindical de Estatística e Estudos Socioeconômicos (Dieese).
O valor médio saltou de R$ 2.022 para R$ 2.133. Mas essa tendência positiva não se manteve em todas as regiões. No Centro-Oeste, houve queda de 7,9% na renda média dos trabalhadores do campo, a única região a registrar recuo.
Esse movimento aparentemente contraditório se explica por fatores regionais. Goiás, Estado que concentra importante fatia do agronegócio do Centro-Oeste, viu sua produção agrícola ser impactada por questões climáticas no ano passado, o que afetou diretamente os ganhos dos trabalhadores no setor primário.
Segundo o Instituto Mauro Borges (IMB), no primeiro trimestre de 2025, o rendimento médio do agronegócio goiano caiu 13,7%, chegando a R$ 4.418,43. O recuo foi mais expressivo no setor primário, com queda de 22,1%, apesar de ainda apresentar remuneração superior à média nacional.
A retração no rendimento, contudo, não foi acompanhada de estagnação no emprego. Pelo contrário: o número de ocupados no agronegócio goiano aumentou. De acordo com o Boletim do Mercado de Trabalho do Agronegócio divulgado pelo IMB, foram criadas 3 mil novas vagas no setor em relação ao mesmo trimestre do ano anterior, alcançando um total de 1,041 milhão de pessoas ocupadas.
Os segmentos que mais contribuíram para esse avanço foram a agroindústria e o setor primário, com geração de mais de 18 mil empregos. A agroindústria teve um crescimento de 5,2% na ocupação, puxado pelas atividades de confecção de vestuário, abate de carnes e produção de biocombustíveis.
Outro dado que chama atenção é o avanço na formalização: o número de trabalhadores com vínculo formal aumentou 4,4%, enquanto a informalidade caiu 2,9%. Em especial, no segmento primário, a formalização cresceu 22,1%, com destaque para os empregados com carteira assinada, cujo número subiu 25,7%.
A força de trabalho feminina também ganhou protagonismo. Entre 2024 e 2025, mais de 10 mil mulheres passaram a atuar no setor, elevando a participação feminina para 34,2% da mão de obra do agronegócio goiano. Essa tendência está em linha com os dados nacionais, que apontam para a maior qualificação da mulher no campo. Segundo a Contag, o percentual de mulheres com ensino superior em áreas rurais triplicou nos últimos doze anos, passando de 2% para 6%. Já aquelas com ensino médio completo subiram de 14% para 25%.
Em Goiás, o perfil educacional também segue em transformação. Quase metade dos trabalhadores do agronegócio (44,6%) possuem ensino médio completo. Esse grupo cresceu em mais de 8 mil pessoas no intervalo de um ano. Por outro lado, houve redução de 6,3% no número de trabalhadores com ensino superior, e aumento de 6,9% naqueles sem instrução formal.
A queda no rendimento médio habitual pode ser atribuída, em parte, à oscilação climática que reduziu a produtividade de lavouras importantes como milho e hortaliças. De acordo com o IMB, os trabalhadores informais foram os mais afetados: perderam, em média, 18,5% da renda habitual, enquanto os trabalhadores formais viram seus ganhos caírem 7,9%. O contraste reforça a importância da formalização para resguardar o trabalhador diante de crises setoriais.
Apesar do recuo no rendimento, Goiás junto com a região Centro-Oeste continuam se destacando com o maior valor médio pago a trabalhadores rurais no País: R$ 3.492, segundo o anuário da Contag. Esse valor supera as médias do Nordeste (R$ 1.081), Norte (R$ 1.997), Sudeste e Sul (ambos com R$ 3.147).
Diante desse cenário, a presidente da Contag, Vânia Marques Pinto, defende o fortalecimento de políticas públicas para os trabalhadores do campo: “A Contag vem pautando os entes federativos para rever e qualificar políticas públicas para os povos do campo, da floresta e das águas”, declarou em nota.
A expectativa é que, com a recuperação das condições climáticas e o fortalecimento das cadeias produtivas, os rendimentos possam retomar um ritmo de crescimento nos próximos trimestres, especialmente com o fortalecimento das culturas de soja e cana-de-açúcar, que concentram grande número de ocupações no Estado.