Presidente da Alego joga no governo Lula responsabilidade sob Igreja da Boa Morte
Indignação de Bruno Peixoto (UB) pode ter sido motivada por componente do jogo político com foco nas eleições do próximo ano, segundo sociólogo
Ganhou repercussão a fala do presidente da Assembleia Legislativa de Goiás (Alego), Bruno Peixoto (UB), carregada de críticas ao Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (Iphan) por achar que o instituto é responsável pela preservação da Igreja de Nossa Senhora da Boa Morte, localizada na cidade de Goiás. A declaração de Bruno foi dada durante a cerimônia de transferência simbólica da capital do Estado para a cidade de Goiás, na noite de segunda-feira (28). De acordo com o presidente da Alego, o órgão federal não tem se preocupado em preservar o imóvel.
A reclamação não foi direcionada apenas ao Iphan. A parte mais dura do discurso de Bruno teve como foco a suposta falta de iniciativa do governo federal que, para o deputado do União Brasil, tem sido incompetente e deixou a situação da igreja chegar ao estado em que as instalações se encontram hoje. O posicionamento do presidente da Alego em estabelecer julgamentos e ataques ao governo federal, assim como às suas instituições, pode ser atribuído ao bom vínculo entre o deputado com o chefe do Executivo goiano, Ronaldo Caiado, ao considerar que ambos buscam aumento de popularidade com foco no cenário eleitoral do próximo ano.
Acesse também: Pena de morte poderia ser aplicada a Eduardo nos EUA
“Ali foi um ato meramente para criticar o governo federal na política de preservação do patrimônio público, que é papel desse órgão. Órgão esse, vale lembrar, que foi sucateado no governo Bolsonaro, pois não havia compromisso com esse tipo de política pública. Nomearam gente sem o menor preparo para atuar no órgão. Dito isso, vejo que o presidente da Alego tenta fazer couro na crítica ao governo federal para alavancar a candidatura do Caiado”, avalia o sociólogo Jones Matos.
O Iphan se posicionou por meio de nota e disse que, apesar de a Igreja da Boa Morte ser um bem tombado, o imóvel não pertence ao instituto. A gestão da igreja, assim como do museu pertencente à mesma, está sob responsabilidade do Instituto Brasileiro de Museus (Ibram) e de sua proprietária, a Diocese de Goiás. Um ponto que deve ser considerado é que, por ser um bem tombado, o Iphan deve fazer a fiscalização do local. Segundo o instituto, a notificação oficial foi enviada em 6 de junho ao Ibram quanto à necessidade urgente de manutenção da Igreja da Boa Morte.
Mesmo assim, Bruno Peixoto não poupou palavras ao expor sua opinião em relação à responsabilidade de manutenção da igreja, atribuída pelo presidente da Alego ao instituto. “Se o Iphan quer tão bem a população do nosso País, aos cidadãos de Goiás, por que abandonam a Igreja da Nossa Senhora da Boa Morte? O Iphan está abandonando a cidade de Goiás e deixo aqui o meu recado ao governo federal: presidente que não tem competência, deixe para quem tem ou venha em Goiás e siga o exemplo do governo, porque nós cuidamos da cidade, nós cuidamos das pessoas”.
O deputado apela para a atual gestão do País: “Eu tenho certeza: se o Iphan não fizer a reforma, até mesmo porque não tem competência para isso, o senhor [Caiado] fará em 30 dias [se eleito] na Presidência da República”, expressa o deputado.
Direito de resposta
Por outro lado, o superintendente do Iphan-GO, Gilvane Felipe, ao responder, por meio de nota, que não é de sua responsabilidade qualquer obra para restaurar a Igreja da Boa Morte, propôs uma sugestão para resolver os problemas financeiros em torno do imóvel.
“Uma sugestão para resolver financeiramente as necessárias e urgentes obras de restauração da Igreja da Boa Morte seria o deputado atuar, junto à bancada de seu partido, União Brasil, uma das maiores de Goiás, para que seja destinada emenda parlamentar para viabilizar a recuperação do bem tombado, o que para ele não seria muito trabalhoso, haja vista que cada deputado federal tem um montante de recursos do orçamento impositivo ao seu dispor e que certamente o presidente da Alego, como membro ilustre de seu partido, não teria dificuldade em convencer alguns, ou até mesmo a bancada como um todo, a colaborar com a situação que tanto o comoveu”, responde Gilvane por meio de nota.
O superintendente do Iphan-GO ainda acrescenta: “Como se vê, atribuir ao Iphan a situação da Igreja da Boa Morte revela total desconhecimento da realidade dos fatos, equívoco que poderia ter sido evitado com apenas uma ligação telefônica. No mais, o Iphan coloca-se à disposição da Assembleia Legislativa de Goiás, assim como de todos aqueles que estejam interessados em preservar o patrimônio cultural no Estado de Goiás”, pontua.
Posicionamento do Governo Federal
Em nota, o Governo Federal prestou esclarecimentos sobre a Igreja da Boa Morte e Museu de Arte Sacra de Goiás:
“Diante das recentes manifestações do governador do Estado de Goiás e do presidente da Assembleia Legislativa do Estado de Goiás, o Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (Iphan) e o Instituto Brasileiro de Museus (Ibram) esclarecem que a propriedade do prédio da antiga Igreja da Boa Morte, localizada na Cidade de Goiás (GO) e tombada em nível federal, é da Diocese de Goiás, assim como o seu acervo.
A igreja abriga o Museu de Arte Sacra da Boa Morte, cuja gestão da função museológica é do Ibram, firmada em termo de cessão para este fim. Ou seja, o Iphan não tem responsabilidade pela gestão do bem.
Conforme o Decreto-Lei 25/1937, a responsabilidade pela conservação das edificações tombadas em nível federal é dos seus proprietários e/ou responsáveis. O tombamento federal não altera a propriedade do bem, mas busca impedir que este seja destruído ou descaracterizado. Cabe ao Iphan fazer a fiscalização do bem tombado, como tem feito no templo mencionado, e indicar a seus proprietários ou gestores a execução de adequações eventualmente necessárias.
O Ibram reitera que o Museu de Arte Sacra da Boa Morte tem recebido as fiscalizações periódicas do Iphan e do Corpo de Bombeiros e está funcionando normalmente, aberto ao público. O Ibram tem seguido ainda as determinações dos Bombeiros em relação ao limite de pessoas no interior do prédio, fluxo de visitação, sinalização interna e demais exigências para garantia da segurança do seu público visitante, funcionários e boa conservação do prédio.
A gestão do museu não tem medido esforços para garantir o bom estado de conservação, além de manter canal aberto com a Diocese, o Governo do Estado, entidades parceiras e sociedade civil para quaisquer esclarecimentos sobre este e os demais museus sob sua administração.
Finalmente, Iphan e Ibram enfatizam que exercem de modo técnico e independente suas missões institucionais de preservar e promover o Patrimônio Cultural Brasileiro e fomentar os museus nacionais, atribuições dadas pela Constituição Federal de 1988 e pelas demais normas federais de proteção, tendo como base o trabalho de excelência de seus colaboradores”. (Especial para O HOJE)