A capital goiana é reconhecida nacionalmente como um importante polo para a realização de procedimentos médicos, que vão desde cirurgias bariátricas até cirurgias estéticas de alta complexidade. Esse movimento crescente atrai pacientes de diferentes regiões, configurando o chamado ‘turismo médico’ ou ‘turismo de saúde’.

A prática não é exclusiva de Goiânia: cidades de outras regiões brasileiras e países da América Latina também registram essa tendência, mas a capital de Goiás vem se destacando pela estrutura e pelo volume de atendimentos.

Segundo dados da empresa de pesquisa com foco em saúde Insights 10, o mercado de turismo médico no Brasil deve movimentar cerca de US$ 1 3 bilhões até o início da próxima década. Na América Latina, a empresa alemã de estatística Statista calculou que o setor movimentou aproximadamente US$ 7 bilhões em 2022 e deve ultrapassar os US$ 17 bilhões até 2027. O levantamento, baseado em estudos de mercado, prevê um crescimento anual entre 15% e 25%, conforme dados da Associação de Turismo Médico dos Estados Unidos.

Um dos diferenciais da cidade é a sua localização estratégica no Centro-Oeste, que facilita o deslocamento de pacientes vindos de diferentes Estados. Essa posição geográfica, aliada à concentração de especialistas, amplia a capacidade de atendimento e torna a cidade uma referência.

De acordo com um levantamento da Universidade de São Paulo (USP), Goiânia está entre as 11 cidades brasileiras com o maior número de profissionais especializados. A demanda elevada também impacta diretamente o setor hoteleiro: o Censo Hoteleiro de 2022 indicou que 57% dos visitantes da cidade chegam com o objetivo de realizar tratamentos médicos, o que movimenta não apenas clínicas e hospitais, mas também restaurantes, transportes e outros serviços.

O atrativo do polo de saúde goianiense também motiva profissionais a migrarem para a cidade. É o caso da nutróloga Marianne Abdalla Cruz, que se mudou para Goiânia em 2021 e destaca a infraestrutura local.

“Eu decidi atender aqui porque é o maior complexo de saúde da América Latina. Aqui nós temos todas as especialidades, é uma facilidade para o paciente […] Temos tudo que a gente precisa em um só lugar”. Ela ressalta que seu público não é formado apenas por moradores da Capital.

O alcance do polo de saúde também é percebido na experiência de pacientes. Muitos realizam a primeira consulta de forma presencial e continuam o acompanhamento a distância, por telemedicina. A paciente Danila Krempel, por exemplo, relata que encontrou em Goiânia o tratamento que buscava há anos. “Estou muito satisfeita com os resultados […] O tratamento me devolveu a minha alegria e a vontade de viver. Para mim compensou demais”, comemora.

Em 2023, um estudo realizado pela Sociedade Beneficente Israelita Brasileira Albert Einstein reforçou a relevância da Capital como centro de referência em saúde para diversos Estados brasileiros. A pesquisa cruzou informações do estudo “Regiões de Influência de Cidades”, conduzido pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), com registros do Datasus.

O engenheiro Frank Campos, responsável pela gestão técnica do levantamento, detalha: “A partir dos dados dos pacientes que fizeram consultas, operações preventivas na região metropolitana, é possível identificar a origem e, automaticamente, constatar a dimensão do raio de influência da Capital”.

Os resultados revelam o potencial de Goiânia como destino de turismo médico e apontam que, apesar da estrutura já consolidada, ainda há espaço para avanços. Especialistas defendem que políticas públicas específicas possam ampliar a valorização das especialidades e investir no aprimoramento da rede de atendimento, garantindo que a cidade mantenha e expanda seu papel de destaque no cenário nacional e internacional da saúde.

Capital se destaca em cirurgias de alta complexidade e plásticas reparadoras

Diferentes áreas da saúde colocam Goiânia e hospitais do Estado em posição de destaque nacional, especialmente em procedimentos de alta complexidade. Um exemplo é o Hospital Estadual da Criança e do Adolescente (Hecad), referência em cirurgias de separação de gêmeos siameses. Entre os casos de maior repercussão estão o das gêmeas Aruna e Kira, e o das gêmeas Eliza Vitória e Yasmin Vitória, que eram unidas pelo tórax. A cirurgia foi conduzida pelo médico pediátrico Zacharias Calil, profissional reconhecido internacionalmente.

A família de Eliza e Yasmin relatou que, mesmo após percorrer mais de 670 quilômetros para chegar à Capital, o esforço valeu a pena. A avó das meninas afirmou: “Faria tudo de novo, só para ver essas coisas lindas sorrindo todo dia”.

Outro campo de excelência é o das cirurgias bariátricas, realizadas no Hospital Estadual Dr. Alberto Rassi (HGG), considerado referência no tratamento contra a obesidade. Em 2017, o Ministério da Saúde reconheceu oficialmente a unidade como de Alta Complexidade para o atendimento a indivíduos com obesidade.

Além do tratamento da doença, o hospital também se destaca por procedimentos voltados ao controle da diabetes tipo 2, com reconhecimento do Conselho Federal de Medicina. Entre os diferenciais estão as técnicas minimamente invasivas, com operações realizadas por videolaparoscopia.

As cirurgias plásticas também são um ponto forte do HGG e da Capital. Desde 2012, mais de 5 mil procedimentos, como retirada de excesso de pele e reparações diversas, foram realizados na unidade, segundo dados do Instituto de Desenvolvimento Tecnológico e Humano.

Apenas em 2024, foram registradas 367 cirurgias no hospital. O ex-presidente da Sociedade Brasileira de Cirurgia Plástica Regional Goiás explica: “A plástica reparadora tem como objetivo corrigir lesões deformantes, defeitos congênitos ou adquiridos, considerada tão necessária quanto qualquer outra intervenção cirúrgica. A plástica estética é aquela realizada pelo paciente com o objetivo de realizar melhoras à sua aparência.”

Outro destaque são as cirurgias realizadas no âmbito do Serviço Transexualizador, voltadas a pacientes em processo de transição de gênero. Sobre esses procedimentos, um médico especialista destacou: “A cirurgia plástica vai muito além do estético. São procedimentos que têm o objetivo de devolver a autoestima do paciente.”

Além das reparadoras, as cirurgias plásticas com fins estéticos também atraem pessoas de várias partes do País, incluindo figuras públicas. Um exemplo foi o procedimento da cantora Anitta, que realizou em Goiânia a remoção da veia da testa. O mercado brasileiro de cirurgia plástica movimenta mais de R$ 2 bilhões por ano, e Goiânia se mantém como um dos centros mais procurados por pacientes em busca de qualidade, inovação e resultados reconhecidos.