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sexta-feira, 5 de dezembro de 2025
Natureza/Saúde

Estiagem intensifica queimadas e agrava crise ambiental e de saúde em Goiás

Multas podem chegar a R$ 5 mil em áreas urbanas e até R$ 50 milhões em casos de grandes danos ambientais

Renata Ferrazpor Renata Ferraz em 25 de agosto de 2025
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Foto: Divulgação/Secom/Muitos focos de incêndios são provocados por moradores que usam o fogo para “limpar” lotes e terrenos baldios, prática que é ilegal

O período de estiagem em Goiás, que se estende de maio a setembro, tem provocado um aumento expressivo nas ocorrências de incêndios em áreas urbanas e rurais. A combinação de baixa umidade, temperaturas elevadas e ventos fortes torna a vegetação mais vulnerável, fazendo com que o fogo se espalhe rapidamente e provoque destruição em grande escala. 

Apesar de campanhas de conscientização e da fiscalização intensificada por órgãos ambientais e municipais, a prática de atear fogo em terrenos baldios e áreas de preservação ainda é comum, ampliando os riscos para a população e o meio ambiente.

De acordo com dados da Operação Cerrado Vivo 2025, apenas em Aparecida de Goiânia foram registrados 235 incêndios urbanos entre janeiro e agosto. Mais da metade deles, cerca de 61%, ocorreram em lotes vagos, especialmente nos bairros Chácaras São Pedro, Buriti Sereno e Cidade Vera Cruz. Os números reforçam que grande parte das queimadas não é causada por acidentes, mas sim por ação humana, muitas vezes ligada à limpeza irregular de terrenos.

Os incêndios também comprometem de maneira severa o equilíbrio ecológico do Cerrado, bioma que abriga uma das maiores biodiversidades do planeta. A fauna é diretamente afetada, já que animais morrem queimados, perdem seus habitats ou ficam sem alimento após a destruição da vegetação. Espécies ameaçadas de extinção, como o lobo-guará e a onça-pintada, veem seu espaço de sobrevivência cada vez mais reduzido.

Além da perda de biodiversidade, o fogo degrada o solo, eliminando nutrientes essenciais e reduzindo a capacidade de regeneração natural. Essa degradação impacta diretamente a agricultura e a pecuária, setores fundamentais para a economia goiana.

O gerente do Cimehgo, André Amorim, alerta que a combinação entre estiagem prolongada e queimadas intensifica a crise hídrica. “Já observamos rios importantes do Estado com níveis muito abaixo da média. Se não houver conscientização e uso racional da água, podemos enfrentar sérios problemas de abastecimento em áreas urbanas e rurais.”

Consequências legais e responsabilização

A legislação ambiental brasileira não deixa dúvidas: provocar incêndios é crime. Além de multas que podem variar de alguns milhares a dezenas de milhões de reais, dependendo da gravidade e extensão dos danos, o infrator pode responder criminalmente com penas de detenção e reclusão.

As consequências legais também são severas. Conforme o Código de Posturas Municipal, provocar incêndios pode gerar multas que variam entre R$ 560 e R$ 5 mil em áreas urbanas. Já em situações que envolvem áreas de preservação permanente, as penalidades podem chegar a R$ 50 milhões, incluindo a degradação de áreas de preservação permanente (APPs), de acordo com a legislação brasileira, nomeadamente a Lei de Crimes Ambientais – (Lei nº 9.605/1998) além de responsabilização criminal e proibição de contratar com o poder público.

O ambientalista Juliano Tadeu defende um endurecimento das fiscalizações e um acompanhamento técnico contínuo. “O fogo precisa ser tratado como questão estratégica. Não é apenas um problema de vizinhança ou de sujeira em terreno baldio. É uma ameaça que atinge a saúde pública, a economia e o futuro ambiental do Estado. Precisamos de monitoramento constante, leis aplicadas com rigor e, principalmente, uma mudança cultural.”

Em Aparecida de Goiânia, a Prefeitura e a Comurg têm reforçado a orientação para que moradores descartem galhadas, folhas secas e outros resíduos de forma correta, utilizando sacos próprios para a coleta orgânica. O simples ato de queimar lixo doméstico pode gerar incêndios de grandes proporções, com risco de atingir residências, comércios e até escolas.

Fumaça agrava doenças e sobrecarrega hospitais

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Foto: Luana Carvalho/O Hoje/Hospitais registram aumento de atendimentos por crises de asma, bronquite e alergias devido à fumaça das queimadas

Os impactos das queimadas não se limitam à destruição ambiental. A fumaça produzida pela combustão de lixo, folhas secas e vegetação libera poluentes altamente tóxicos, como monóxido de carbono, dióxido de nitrogênio e material particulado fino (MP2,5). Esse último é especialmente perigoso, pois penetra profundamente nos pulmões e pode alcançar a corrente sanguínea.

A exposição prolongada a esse tipo de poluição aumenta o risco de crises de asma, bronquite, enfisema, pneumonia, doenças cardiovasculares e até câncer. Segundo especialistas, crianças, idosos, gestantes e pessoas com problemas respiratórios são os grupos mais vulneráveis.

A Secretaria Municipal de Meio Ambiente de Aparecida alerta que, durante os meses mais críticos da estiagem, a umidade relativa do ar pode cair para níveis próximos de 9%, muito abaixo do mínimo recomendado pela Organização Mundial da Saúde (OMS), que é de 30%. Nesses períodos, a qualidade do ar se deteriora de forma alarmante, levando ao aumento de atendimentos em hospitais e unidades de pronto atendimento.

“Estamos redobrando os esforços de fiscalização porque atear fogo em terrenos baldios, além de degradar o meio ambiente, representa uma grave ameaça à saúde da população. Temos observado um aumento de internações, principalmente de crianças e idosos, durante os meses mais secos”, destaca a secretária de Meio Ambiente, Pollyana Borges.

Para reduzir os riscos, a Defesa Civil recomenda hidratação constante, uso de colírios para evitar irritação nos olhos, umidificação de ambientes e restrição de atividades físicas ao ar livre em dias de fumaça intensa. Máscaras de proteção também ajudam a minimizar os efeitos da poluição.

Embora o tempo seco seja um fenômeno natural e recorrente, os impactos dos incêndios podem ser reduzidos por meio da conscientização e de atitudes simples. Não jogar bitucas de cigarro em áreas verdes, evitar fogueiras, descartar resíduos de forma adequada e denunciar focos de incêndio às autoridades são medidas que fazem a diferença.

“A prevenção é responsabilidade de todos nós. O Cerrado é o nosso patrimônio, e precisamos cuidar dele para garantir qualidade de vida às próximas gerações. Incêndios não destroem apenas árvores e animais, mas também afetam diretamente a nossa saúde e a nossa economia”, reforça Pollyana.

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