O Hoje, O Melhor Conteúdo Online e Impresso, Notícias, Goiânia, Goiás Brasil e do Mundo - Skip to main content

sexta-feira, 5 de dezembro de 2025
DOAÇÃO

Setembro Verde: mais de 2 mil esperam por transplante de órgãos em Goiás

Atualmente, 2.435 pessoas aguardam na fila em Goiás, sendo que a maior demanda é por córneas (1.731), seguida por rins (685) e fígado (14)

Caroline Gonçalvespor Caroline Gonçalves em 2 de setembro de 2025
9 Fecha SES Marco Monteiro
Decisões tomadas em momentos difíceis mudaram completamente o destino de quem aguardava por um transplante Foto: Marco Monteiro/SES GO

Setembro chegou e com ele ganha força uma das campanhas mais importantes para quem espera por uma nova chance de viver: o Setembro Verde, que incentiva a doação de órgãos e tecidos. Em Goiás, a mobilização é coordenada pela Secretaria de Estado da Saúde (SES-GO), que promove ao longo do mês uma série de ações para chamar a atenção da população sobre o tema.

A ideia é simples, mas poderosa: um doador pode salvar até oito vidas. Ainda assim, o Brasil e o Estado enfrentam um grande desafio: a recusa familiar, que em muitos casos impede que o desejo de doar seja realizado. “Aqui no Estado, 71% das famílias dizem ‘não’ à doação, mesmo quando o paciente tem vontade de ser doador. Isso precisa mudar”, destaca o secretário estadual de Saúde, Rasível Santos.

Atualmente, 2.435 pessoas aguardam na fila em Goiás, sendo que a maior demanda é por córneas (1.731), seguida por rins (685) e fígado (14). O dado mais alarmante é que muitas dessas pessoas poderiam já ter sido transplantadas, se a decisão das famílias fosse diferente.

“Infelizmente, hoje, 71% das famílias em Goiás ainda recusam a doação de órgãos, mesmo quando a pessoa em vida já expressou esse desejo. Muitas vezes, por medo, por desconhecimento ou simplesmente por nunca ter conversado sobre isso em casa”, explica Katiuscia Freitas, gerente da Central Estadual de Transplantes.

Para Katiuscia Freitas, a única forma de mudar esse cenário é tornar a doação um tema comum no dia a dia.
“A gente fala de tanta coisa em casa, mas evita tocar nesse assunto. Só que, sem essa conversa, a chance de uma doação acontecer é quase nula. Quem quer ser doador precisa dizer isso em vida, com todas as letras. É uma escolha que pode transformar o fim de uma vida no começo de muitas outras.”

E os números mostram que a conversa dá resultado. Em 2024, o Estado bateu recorde de doadores efetivos, com 114 doações realizadas. Foram 1.168 órgãos e tecidos captados e 890 transplantes realizados no Estado. “É muito mais do que estatística. São quase 900 histórias reescritas graças ao ‘sim’ de alguém. São pais, mães, filhos e filhas que puderam continuar vivendo por causa desse gesto”, reforça Katiuscia.

Brasil avança, mas fila ainda é grande

Segundo o Ministério da Saúde, o Brasil possui o maior sistema público de transplantes do mundo, gerenciado pelo Sistema Nacional de Transplantes (SNT), do Ministério da Saúde. Cerca de 88% dos procedimentos são financiados pelo SUS e realizados em hospitais públicos e privados habilitados.
Mesmo com estrutura ampla, o País ainda enfrenta uma realidade desafiadora: mais de 78 mil pessoas aguardam por um órgão ou tecido. Os rins lideram a fila, seguidos por córneas e fígado.

Entre janeiro e junho de 2024, foram realizados 14.352 transplantes pelo SUS, número que já supera o do mesmo período de 2023. Houve alta de 4,2% nos transplantes de órgãos sólidos (como coração, fígado e rins), e 3,2% nas doações de córneas.

Ainda assim, a recusa familiar segue como o principal obstáculo. De cada dez famílias consultadas, sete não autorizam a doação. As razões vão desde desconhecimento sobre o desejo do falecido até medo da manipulação do corpo e falta de informação sobre o processo.

Como fazer para ser doador

Muita gente ainda acredita que precisa assinar documento, fazer alguma tatuagem sinalizando ou fazer algum cadastro para ser doador. Mas a verdade é mais simples: o que realmente importa é avisar sua família.
Isso porque, mesmo que a pessoa tenha o desejo de doar, a doação só acontece se os parentes autorizarem. E é justamente aí que muitos transplantes deixam de acontecer: por medo, insegurança ou simplesmente porque a vontade do doador nunca foi dita em voz alta.

A doação pode ser feita em casos de morte encefálica, quando o cérebro para de funcionar de forma irreversível. O diagnóstico é feito com rigor técnico por uma equipe médica. Quando há autorização familiar e compatibilidade, os órgãos são encaminhados para pacientes da fila.

Um único doador pode beneficiar até oito pessoas com órgãos e muitas outras com tecidos, como córneas, pele e ossos.
Katiusca ressalta que, no País, não existe um documento oficial que valide sozinho o desejo de doar. Ou seja, é a família quem toma a decisão final. “A autorização é da família. Por isso, o mais importante é avisar em vida que você quer ser doador. Dizer isso com todas as letras. Falar sobre a morte é difícil, mas falar sobre vida é urgente”, afirma.

Siga o Canal do Jornal O Hoje e receba as principais notícias do dia direto no seu WhatsApp! Canal do Jornal O Hoje.
Veja também