O último exorcismo dos Warren
Quarto filme encerra franquia bilionária do terror e revisita a crença que sustenta o gênero em tempos de ceticismo
Há mais de uma década, em 2013, estreava nos cinemas Invocação do Mal, filme dirigido por James Wan que apresentava ao grande público a história dos investigadores paranormais Ed e Lorraine Warren. Inspirada em casos reais investigados pelo casal norte-americano, a produção inaugurou o chamado Invocaverso, um universo cinematográfico que se consolidava como a franquia de terror mais lucrativa de todos os tempos. Doze anos e oito longas depois, essa trajetória chega a um marco com a estreia de Invocação do Mal 4: O Último Ritual, lançado na última quinta-feira (4) no Brasil, um dia antes do lançamento nos Estados Unidos.
O novo longa tem direção de Michael Chaves, que já assinou Invocação do Mal 3: A Ordem do Demônio (2021) e A Freira 2 (2023). Embora James Wan não volte à cadeira de diretor, permanece como produtor e supervisor criativo do projeto. A expectativa é alta, já que o filme encerra a narrativa central dos Warren, vividos por Patrick Wilson e Vera Farmiga, dupla cuja química foi apontada como um dos pilares da saga.
Do caso Perron à consagração mundial
A construção da franquia foi gradual, mas consistente. O primeiro longa, em 2013, apresentou o caso da família Perron, em Rhode Island, e deu o tom de um terror que mistura religiosidade, suspense psicológico e elementos clássicos de uma casa mal-assombrada. Três anos depois, Invocação do Mal 2 levou os Warren ao Reino Unido para investigar o famoso caso de Enfield, reafirmando a fórmula de basear-se em episódios que ganharam notoriedade pública.
Em 2021, Invocação do Mal 3: A Ordem do Demônio estreou em meio à pandemia, apostando em um enredo que mesclava possessão demoníaca e julgamento criminal. A produção arrecadou mais de US$ 196 milhões ao redor do mundo, número expressivo para o período de salas fechadas e público reduzido. Com isso, a franquia atingiu um marco histórico: somados, os títulos do Invocaverso já ultrapassaram US$ 2 bilhões em bilheteria global, segundo a Warner Bros., consolidando-se como o universo de terror mais rentável da história do cinema.
O universo expandido
Além da trilogia principal já lançada, o Invocaverso inclui filmes derivados: Annabelle (2014), Annabelle 2: A Criação do Mal (2017), Annabelle 3: De Volta para Casa (2019), A Freira (2018), A Freira 2 (2023) e A Maldição da Chorona (2019). Cada um deles amplia a mitologia do universo, trazendo para o centro da narrativa objetos amaldiçoados e entidades que apareceram em segundo plano nas aventuras dos Warren.
O impacto cultural é inegável. A boneca Annabelle, trancada em uma caixa de vidro no museu dos Warren, transformou-se em ícone pop do cinema de horror, rendendo fantasias, colecionáveis e até memes. A freira demoníaca, introduzida em 2016, consolidou-se como uma das imagens mais perturbadoras do gênero, estampando fantasias de Halloween e reforçando a capacidade da franquia de criar símbolos reconhecíveis além das telas.
Expectativa de público
A campanha de divulgação de Invocação do Mal 4: O Último Ritual mobiliza fãs em escala global. No Brasil, a pré-venda de ingressos entrou para a história: de acordo com a plataforma Ingresso.com, trata-se da maior pré-venda de um filme de terror já registrada no país. O dado é significativo porque mostra a fidelidade do público a uma saga que, mesmo diante da concorrência de produções independentes e de novos subgêneros do horror, manteve-se fiel à fórmula clássica de confrontar o bem e o mal a partir da fé.
Essa combinação de religiosidade, suspense e drama familiar é apontada por críticos como um dos segredos da longevidade da série. James Wan, mesmo quando não dirige, insiste que o objetivo é criar filmes que não apenas assustem, mas emocionem. A relação conjugal entre Ed e Lorraine, retratada por Patrick Wilson e Vera Farmiga, garante densidade dramática a narrativas que poderiam se restringir a sustos fáceis.
O peso da despedida
O Último Ritual chega com a responsabilidade de encerrar a linha principal da saga, mas não significa o fim do Invocaverso. O histórico de bilheteria e o apelo cultural indicam espaço para novos spin-offs, releituras e talvez uma nova geração de caçadores do sobrenatural. Ainda assim, o filme de 2025 marca um ponto de virada: pela primeira vez, os fãs se despedem da jornada dos Warren no cinema, personagens que passaram de demonologistas reais a ícones modernos do gênero.
A despedida não se mede apenas em números. Para uma geração de espectadores, os filmes dos Warren representam a redescoberta do terror clássico em um período dominado por franquias de ação e super-heróis. Eles resgataram crucifixos, casas mal-assombradas e julgamentos de fé, inserindo esses elementos em um universo compartilhado que rivaliza com blockbusters de outros gêneros.
Ao chegar às telas em setembro, Invocação do Mal 4 carrega o peso de fechar um ciclo. Mas como todo espelho de terror, a imagem que retorna nunca é definitiva. O gênero vive de ciclos, e os Warren, ainda que encerrados, continuam refletidos na cultura pop como fantasmas que o cinema não cansa de revisitar.