Resistência à insulina não é exclusividade de quem está acima do peso
Condição pode atingir até pessoas magras e está ligada a fadiga, alterações hormonais e risco aumentado de diabetes tipo 2
A resistência à insulina tornou-se um dos grandes desafios da saúde contemporânea. Embora muitas vezes seja associada ao excesso de peso, a condição não escolhe biotipo: também pode atingir pessoas magras, o que aumenta o risco de que seja ignorada até que evolua para complicações mais sérias. A médica integrativa Raquel Delatorre, chama atenção para a necessidade de identificar sinais e adotar escolhas conscientes no dia a dia.
A síndrome se instala quando as células deixam de responder de forma adequada ao hormônio responsável por manter a glicose sob controle. Nessa situação, o organismo passa a produzir quantidades cada vez maiores de insulina para tentar compensar a resistência. O resultado, explica Delatorre, é um desgaste que pode afetar diferentes funções do corpo. “Esse esforço extra gera inflamação, fadiga, alterações hormonais e, a longo prazo, pode evoluir para o diabetes tipo 2”, afirma.
Entre os sinais mais comuns estão dificuldades para perder peso, ou o ganho de gordura localizada em regiões como abdômen e quadris, fome recorrente e desejo frequente por doces, sonolência após as refeições, além de alterações nos níveis de colesterol e triglicerídeos. Algumas pessoas apresentam ainda manchas escuras na pele, especialmente em regiões de dobras, como pescoço e axilas. O problema é que, por serem sintomas que podem passar despercebidos, muitos acabam adiando a busca por atendimento até que a condição já esteja avançada.
Para a médica, é preciso repensar a relação com a alimentação. Ela ressalta que não basta rotular uma dieta como saudável: a ordem em que os alimentos são consumidos e as quantidades ingeridas podem mudar completamente a resposta metabólica. “Há pessoas que têm uma dieta aparentemente equilibrada, mas continuam sobrecarregando o pâncreas sem perceber”, observa. Esse detalhe ajuda a explicar por que indivíduos magros ou com estilo de vida ativo também podem apresentar resistência à insulina.
O estilo de vida é outro fator determinante. A prática regular de atividade física aumenta a sensibilidade das células à insulina, ajudando o corpo a utilizar melhor a glicose circulante. O sono adequado é igualmente importante, já que noites mal dormidas desregulam hormônios relacionados à fome e à saciedade, além de favorecer processos inflamatórios. O controle do estresse completa o tripé, uma vez que o excesso de cortisol, hormônio liberado em situações de tensão , também pode prejudicar a ação da insulina.
Delatorre lembra que, em muitos casos, ajustes nutricionais simples fazem diferença no tratamento. A suplementação, quando bem indicada, ajuda a corrigir deficiências que comprometem o metabolismo. “Muitas vezes, o paciente já melhora bastante só de ajustar minerais e vitaminas essenciais para a ação da insulina”, ressalta.
A abordagem integrativa proposta pela médica busca olhar para além da prevenção do diabetes. O tratamento adequado pode significar mais energia para o cotidiano, clareza mental, equilíbrio hormonal e melhora geral na qualidade de vida. Nesse sentido, cuidar da resistência à insulina não é somente uma questão de evitar doenças futuras, mas de viver melhor no presente.
Ao reforçar a importância do diagnóstico precoce, Raquel Delatorre chama atenção para uma condição que, subestimada, já atinge milhões de brasileiros. E lembra que o caminho para enfrentar o problema passa por atenção aos sinais do corpo, revisão de hábitos e consciência de que desacelerar também é estratégia de saúde.