O Hoje, O Melhor Conteúdo Online e Impresso, Notícias, Goiânia, Goiás Brasil e do Mundo - Skip to main content

sexta-feira, 5 de dezembro de 2025
PRODUÇÃO

Goiás bate recorde em área plantada, mas produção agrícola perde valor

Economistas apontam preços globais baixos e menor crescimento da China como fatores para a queda na rentabilidade

Anna Salgadopor Anna Salgado em 12 de setembro de 2025
Expansão de 9 milhões de hectares em 2024, clima desafiador e queda nos preços internacionais reduziram a rentabilidade de soja, milho e cana
Foto: Wenderson Araújo/CNA

Goiás alcançou em 2024 a maior área plantada desde o início da série histórica da Produção Agrícola Municipal (PAM), do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). Foram 9 milhões de hectares cultivados, um crescimento de 6,2% em relação a 2023. 

A expansão, no entanto, não se traduziu em aumento de safra nem em maior valor econômico. Pelo segundo ano consecutivo, o Estado registrou queda no valor total da produção agrícola, que foi de R$ 60,5 bilhões, o equivalente a 7,7% da produção nacional.

A soja, que ocupa 55% da área plantada goiana, apresentou queda de 2,5% na produção, somando 16,9 milhões de toneladas. O milho, que responde por 24% do plantio, recuou 9,9%, atingindo 13 milhões de toneladas. Já a cana-de-açúcar, mesmo com avanço de 4,9% na área, teve redução de 0,7% na colheita. Os rendimentos médios caíram em todas as principais culturas: soja (-10%), milho (-9%) e cana (-4,4%).

De acordo com o economista Luiz Carlos Ongaratto, o mercado internacional explica parte do resultado. “O principal motivo é a queda do preço do milho e da soja desde o início de 2023”, afirmou. Ele também relaciona a retração à menor produtividade. “Para a safra 2024 tivemos uma queda de produtividade em relação a 2023 e 2022. O principal fator foi o clima mais desafiador que acabou impactando em muitas regiões produtoras.”

A economista e professora da Universidade Estadual de Goiás (UEG) Adriana Pereira de Sousa reforça a contradição entre maior área e menor valor: “Apesar da aparente contradição entre aumento da área plantada em Goiás e a queda no valor da produção agrícola, está diretamente ligado ao fato de que houve redução nos preços das commodities agrícolas no mercado internacional, o que resultou em redução do valor dos produtos. Apesar dos agricultores goianos terem investido mais em terras e insumos para aumentar a oferta de produtos, o valor final obtido com a venda da safra foi menor devido à forte desvalorização dos preços no mercado internacional. Em resumo, mesmo produzindo mais, a rentabilidade por hectare diminuiu.”

O impacto mais forte é sentido na soja, principal produto do agronegócio goiano. Segundo Adriana, “considerando que a soja é a principal cultura do agronegócio goiano, ocupando mais da metade da área plantada no Estado e que houve uma queda na produção e no valor da oleaginosa no período, explica-se o impacto significativo e negativo na balança comercial de Goiás”. 

Ela acrescenta que “uma redução no valor da produção significa uma menor entrada de divisas, o que compromete o superávit comercial do Estado. A menor venda de soja em valor também afeta a cadeia de valor do agronegócio. Menos receita para os produtores significa menos investimento em equipamentos, menor demanda por insumos e uma desaceleração nos setores de logística, transporte e serviços financeiros”.

Além do fator climático, a conjuntura internacional pesou. Ongaratto observa que “a questão climática não foi exclusiva da soja e de Goiás, pois ela impactou todo o agronegócio no Brasil, o que pressionou o preço dos alimentos no primeiro semestre de 2025”. 

Ele explica que “a variação cambial e demanda não influenciam fortemente o mercado de commodities. Como o Brasil é formador de preço nesses produtos, quando há um câmbio positivo para o exportador, o valor da commodity diminui, o que acaba neutralizando esse efeito. O mercado de commodities não é determinado pela demanda, mas sim pela oferta”.

Para Adriana, o desempenho da agropecuária goiana em 2024 reflete o cenário global. “A performance da agropecuária goiana está intrinsecamente ligada ao cenário macroeconômico global, considerando que a economia do Estado é baseada na exportação, principalmente de produtos agrícolas. Como a precificação da soja e de outras commodities se dá em dólar, um câmbio menos favorável significa que a conversão da receita de exportação para reais resulta em um valor final menor para o produtor.”

Ela acrescenta que a “desaceleração econômica em importantes mercados consumidores e a instabilidade da política internacional, acabam afetando a taxa de câmbio, tudo isso afetou a demanda agregada por commodities e uma demanda mais fraca tende a pressionar os preços para baixo, o que penaliza os grandes exportadores, como Goiás”.

Ongaratto aponta ainda que o crescimento mais lento da China e a maior produção mundial de grãos mantiveram os preços em baixa. “Ao meu ver, você poderia focar no aspecto de maior produção de grãos no mundo, o que manteve baixo o valor das commodities. Outro ponto é o menor crescimento da China, que é a grande demandante global.”

Adriana conclui que “a oferta global de grãos foi robusta, com safras abundantes em grandes produtores. A maior disponibilidade de produto no mercado internacional gerou um excedente de oferta que contribuiu para a redução dos preços, tornando-se o principal motor da queda no valor da produção que observamos. 

Esses fatores, combinados com desafios internos como condições climáticas adversas, criaram um ambiente econômico desafiador que explica a retração do valor da produção agrícola, mesmo com a expansão da área plantada.”

Siga o Canal do Jornal O Hoje e receba as principais notícias do dia direto no seu WhatsApp! Canal do Jornal O Hoje.
Tags:
Veja também