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sábado, 6 de dezembro de 2025
Justiça

Goiás deve fechar 2025 com recorde de 83 mil ações trabalhistas

Até julho de 2025, Goiás registrou 48.904 novas ações trabalhistas, 7% a mais que em 2024

Renata Ferrazpor Renata Ferraz em 19 de setembro de 2025
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Foto: Divulgação/ Serviços, indústria e comércio concentram mais da metade dos processos, enquanto a pejotização gera 14 mil casos suspensos no STF

O Tribunal Regional do Trabalho da 18ª Região (TRT-GO) projeta que Goiás fechará 2025 com cerca de 83 mil novas ações trabalhistas, o que marca um novo recorde no Estado. Até julho, já haviam sido ajuizadas 48.904 ações. O aumento registrado foi de 7% em relação a 2024, quando foram registradas 78.311. O crescimento acompanha a curva ascendente iniciada em 2023 e representa um aumento de quase 50% em cinco anos, comparando com 2020, início da pandemia.

A advogada trabalhista e previdenciária Apoliana Morais destaca que esses números refletem muito mais do que estatísticas. “Cada processo representa pessoas tentando garantir seus direitos, muitas vezes em situações de vulnerabilidade. A Reforma Trabalhista de 2017 trouxe modernização e flexibilização, mas também gerou dúvidas sobre jornadas, teletrabalho, rescisões e pagamentos, que aumentam a procura pelo Judiciário”, afirma. Para a profissional, a Justiça do Trabalho continua sendo um espaço de equilíbrio, onde empregadores e empregados buscam soluções justas.

O crescimento econômico do Estado contribui diretamente para o aumento da demanda. Dados do IBGE mostram que o PIB goiano avançou 7,7% no primeiro quadrimestre de 2025, impulsionado por agropecuária, indústria e serviços. 

“Quando a economia cresce, surgem mais oportunidades de trabalho e, naturalmente, mais disputas. A expansão de mineradoras, agronegócio e serviços, além de novos hospitais e empresas, aumenta a complexidade das relações laborais”, explica a desembargadora Iara Rios, vice-presidente do TRT-GO.

O perfil das ações trabalhistas em Goiás reflete setores com grande número de empregados e alta rotatividade. Em 2024, os serviços responderam por 23,2% das ações, seguidos pela indústria (18,9%) e comércio (16,7%). A agropecuária também se destacou, com 3,4%, quase o dobro da média nacional. 

Apoliana Morais comenta que, “em setores com jornadas intensas, rotatividade e contratos variados, é natural que surjam mais questionamentos sobre horas extras, férias, rescisões e benefícios não pagos”. “Muitas vezes, o trabalhador busca apenas esclarecer seus direitos de forma segura.”

Pejotização

Outro fator que contribui para o aumento das ações é a pejotização, prática em que profissionais são contratados como pessoas jurídicas, mas com características de vínculo empregatício. “Muitos contratos geram conflitos porque a relação se assemelha a um emprego, mas a lei não define claramente como tratar esses casos. Atualmente, esses processos estão suspensos no STF, aguardando definição sobre a validade da prática. São mais de 14 mil ações paradas no País, o que aumenta a insegurança para trabalhadores e empresas”, explica a advogada.

A especialista também aponta o impacto da Reforma Trabalhista sobre o tipo de ações que mais crescem. “Temos visto aumento de processos relacionados a banco de horas, teletrabalho, verbas rescisórias e pagamento de benefícios. A reforma modernizou o mercado, mas deixou lacunas de interpretação. Empregadores e empregados ainda buscam orientação da Justiça para aplicar corretamente a lei, e isso eleva o número de processos”, afirma.

Além disso, Goiás se destaca na conciliação, com 51,3% dos processos resolvidos por acordo, acima da média nacional, de 44,1%. Em 2024, os valores pagos aos trabalhadores ultrapassaram R$ 1,18 bilhão, com R$ 680 milhões quitados por meio de acordos, R$ 383 milhões via execução forçada e apenas 10% pagos espontaneamente pelos empregadores. 

“A conciliação é fundamental. Ela protege o trabalhador e, ao mesmo tempo, oferece segurança jurídica para as empresas, evitando longos processos e custos elevados”, comenta Apoliana Morais.

O crescimento das ações trabalhistas em Goiás evidencia fatores econômicos, legais e humanos. “Cada processo representa uma pessoa buscando segurança e justiça no trabalho. Até que o STF defina a questão da pejotização e haja maior uniformidade na interpretação da lei, é natural que o número de processos continue crescendo”, conclui a advogada.

A análise do TRT-GO reforça que o aumento de ações não é apenas reflexo da legislação, mas do cotidiano de trabalhadores e empresas que precisam de soluções claras e eficazes.

Leia mais: Goiás atinge superávit de R$ 5,5 bilhões na balança comercial

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