Mulheres lideram acesso ao microcrédito no Brasil, aponta pesquisa
Mais de 3 milhões de empreendedoras recorreram ao Programa Nacional de Microcrédito Produtivo Orientado, que tem impulsionado negócios femininos em todo o país
Nos últimos anos, o empreendedorismo feminino tem crescido em ritmo acelerado no Brasil e se consolidado como uma das principais forças da economia popular. De acordo com dados do Relatório de Efetividade 2024 do Programa Nacional de Microcrédito Produtivo Orientado (PNMPO), vinculado ao Ministério do Trabalho e Emprego (MTE), as mulheres representam mais de 67% dos tomadores de crédito do programa. O número corresponde a 3.030.588 empreendedoras atendidas, enquanto os homens somam 1.497.493 beneficiados, ou 33% do total.
Estudos recentes mostram que o acesso ao microcrédito tem sido decisivo para ampliar as oportunidades de mulheres que lideram pequenos negócios, especialmente nas regiões Norte e Nordeste. Nessas áreas, o microcrédito se apresenta como uma alternativa concreta de geração de renda e autonomia financeira.
Seminário vai discutir aprimoramento do programa
Nos dias 4 e 5 de novembro, será realizado, no Auditório da Caixa Econômica Federal, em Brasília (DF), o Seminário Nacional do Projeto de Avaliação do PNMPO. O evento, promovido pelo Ministério do Trabalho e Emprego (MTE) e pela Universidade Federal de Goiás (UFG), por meio da Faculdade de Administração, Ciências Contábeis e Ciências Econômicas (FACE), vai apresentar os resultados da pesquisa de avaliação do programa e propor estratégias de aprimoramento da política pública de microcrédito no país.
Durante o encontro, será realizado um painel sobre empreendedorismo feminino, além do lançamento de um e-book elaborado por mais de 15 pesquisadores da UFG e da Universidade de Brasília (UnB), sob a coordenação da professora doutora Andréa Freire de Lucena.
Segundo a pesquisadora, o estudo mostra que o PNMPO tem conseguido atingir um público majoritariamente feminino, o que pode contribuir para a redução das desigualdades de renda segundo gênero. “Há um predomínio da participação feminina em todos os tipos de instituição analisadas, com destaque para o Nordeste, onde as mulheres representam 68% dos tomadores de empréstimos produtivos”, afirmou Andréa Lucena.
O levantamento também indica que, em média, os homens solicitam valores de empréstimo mais altos do que as mulheres. Embora as empreendedoras estejam em maior número, o estudo aponta que elas ainda enfrentam desafios estruturais, como a diferença de remuneração e a vulnerabilidade econômica. “Mesmo com maior representatividade, o grupo de mulheres segue com as menores remunerações”, completou.
Avanço e desafios do empreendedorismo feminino
De acordo com o Sebrae, o Brasil conta atualmente com cerca de 30 milhões de empreendedores, dos quais mais de 10 milhões são mulheres à frente do próprio negócio. Outro levantamento, feito pelo Monitor Global de Empreendedorismo (GEM) 2023, mostra que entre os 47,7 milhões de brasileiros com intenção de empreender até 2026, as mulheres representam 54,6%. Em 2022, os homens lideravam com 55%.
Esse avanço reflete a busca crescente das mulheres por independência financeira e protagonismo no mercado. O empreendedorismo feminino tem se destacado em setores como comércio, alimentação, beleza, moda e serviços domésticos, muitas vezes impulsionado pela necessidade de complementar a renda familiar.
Mesmo assim, os obstáculos ainda são expressivos. Uma pesquisa do Instituto Rede Mulher Empreendedora (RME) revelou que 42% das empreendedoras brasileiras que solicitaram crédito tiveram o pedido negado em 2023. Entre os principais motivos estão a falta de garantias, exigências bancárias e histórico de informalidade.
Outro desafio é a sobrecarga de trabalho doméstico, que limita o tempo disponível para os negócios. Segundo o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), as mulheres dedicam, em média, 9,6 horas semanais a mais do que os homens a afazeres domésticos e cuidados com a família.
Apesar das dificuldades, o avanço da digitalização e o acesso a plataformas online têm facilitado o crescimento de micro e pequenas empresas lideradas por mulheres. Ferramentas digitais, redes sociais e aplicativos de venda vêm se tornando aliados importantes na expansão de novos empreendimentos.
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