Método Salve ajuda a identificar sinais de AVC e pode salvar vidas com diagnóstico mais rápido
No Brasil, mais de 84 mil pessoas morrem anualmente em decorrência do AVC. Em Goiás, 1.635 óbitos foram registrados somente em 2025
O Dia Mundial do Acidente Vascular Cerebral (AVC), celebrado em 29 de outubro, reforça a importância de reconhecer rapidamente os sinais da doença, uma das principais causas de morte e incapacidade no mundo.
No Brasil, o AVC mata mais de 84 mil pessoas por ano, segundo dados do Instituto Nacional de Cardiologia (INC) e da Organização Mundial da Saúde (OMS). Globalmente, cerca de 12 milhões de novos casos são registrados anualmente, sendo que até 90% poderiam ser evitados com prevenção e controle de fatores de risco.
Diante desse cenário preocupante, o neurologista Marcos Alexandre Carvalho Alves, Coordenador da neurologia do Hospital Mater Dei Goiânia e especialista em doença de parkinson, criou o método ‘Salve’, uma ferramenta prática que facilita a identificação rápida dos sintomas de AVC, tanto por profissionais de saúde quanto por leigos. O acrônimo representa cinco sinais de alerta: Sorriso, Abraço, Linguagem, Visão e Equilíbrio.
A ideia surgiu da necessidade de desenvolver um instrumento mnemônico simples, culturalmente familiar e abrangente. Estudos internacionais, como os protocolos Fast e Be-Fast, mostraram que muitos casos de AVC são subdiagnosticados porque, ao se concentrar apenas em “rosto, braços e fala”, sintomas importantes como alterações visuais ou problemas de equilíbrio acabam sendo ignorados.
O método nasceu após análise de literatura médica e testes com inteligência artificial, resultando em uma sigla que é ao mesmo tempo um convite à ação, “Salve uma vida!”, e um conjunto de cinco testes rápidos.
O método se baseia em cinco verificações simples para identificar sinais de AVC. Sorriso (S): peça à pessoa que sorria e observe se há desvio de um lado da boca. Abraço (A): solicite que levante ambos os braços e avalie se algum deles cai involuntariamente.
Linguagem (L): peça para repetir uma frase simples, observando gagueira, palavras embaralhadas ou dificuldade de compreensão. Visão (V): questione sobre visão turva, dupla ou perda súbita em um ou ambos os olhos. Equilíbrio (E): observe se há dificuldade para caminhar, tontura súbita ou incapacidade de se manter em pé. Cada teste corresponde a um sintoma comprovado por estudos neurovasculares como marcador precoce de AVC.
A aplicação é simples e os leigos aprendem em vídeos curtos ou folhetos ilustrados, enquanto profissionais de saúde podem integrá-lo em protocolos de triagem pré-hospitalar, como no Serviço de Atendimento Móvel de Urgência (SAMU) e em pronto-socorros, com cursos rápidos de atualização.
Testes-piloto em três unidades regionais de neurocirurgia em 2024 mostraram resultados expressivos: redução média de 12 minutos entre o primeiro contato com o paciente e a solicitação de exames de imagem, aumento de 25% no reconhecimento de sinais não clássicos (visão ou equilíbrio isolados) e elevação de 18% nos chamados ao SAMU dentro da janela de tratamento de 4,5 horas.
Embora o método Salve seja simples, sua implementação enfrenta desafios. Em serviços de urgência, há resistência a mudanças de protocolo, exigindo evidências robustas para atualização de fluxos.
Capacitação e reciclagem demandam recursos, instrutores e materiais, enquanto em áreas remotas, baixos níveis de escolaridade podem dificultar a assimilação do mnemônico. Além disso, a sustentabilidade da campanha depende de reforço contínuo em mídias sociais, rádio, TV e ações comunitárias.
Marcos Alexandre reforça: “Reconhecer os sinais, acionar o serviço de emergência e procurar atendimento imediato pode fazer toda a diferença. Cada minuto sem tratamento representa a perda de milhões de neurônios. O método Salve é um lembrete simples que pode salvar vidas.”
Atendimento rápido e prevenção são essenciais para reduzir mortes por AVC em Goiás

No Brasil, aproximadamente 80% dos AVCs são isquêmicos, causados por obstrução de artérias cerebrais, e 20% hemorrágicos, decorrentes de rompimento de vasos sanguíneos. A intervenção precoce é crucial: procedimentos como trombólise ou trombectomia precisam ocorrer até 5 horas após o início dos sintomas para reduzir sequelas e salvar vidas.
Em Goiás, os hospitais referência para atendimento especializado são o Hospital Estadual de Urgências de Goiânia Dr. Valdemiro Cruz (HUGO) e o Hospital Estadual de Urgências Governador Otávio Lage de Siqueira (Hugol).
No HUGO, o protocolo de atendimento ao AVC é acionado a partir do primeiro contato do SAMU ou Corpo de Bombeiros, mobilizando equipes médicas, enfermagem, laboratório, farmácia e neuroimagem. A triagem rápida, exames laboratoriais e tomografia permitem iniciar a trombólise ainda na janela terapêutica ideal.
Nos últimos três anos, o Estado registrou 6.681 óbitos por AVC, com tendência de queda: 2.579 em 2023, 2.467 em 2024 e 1.635 em 2025 (dados preliminares). Homens representam 52% das mortes, e a maioria ocorre entre pessoas acima de 60 anos.
As regiões com maior incidência estão na área central, incluindo Goiânia e entorno, concentrando cerca de 30% das mortes. Hemorragias intracerebrais, AVC não especificado e outras doenças cerebrovasculares correspondem a mais de 80% dos óbitos, evidenciando a dificuldade em identificar o tipo exato de evento em muitos casos.
Entre jovens, embora os casos sejam raros, fatores incomuns podem causar AVC, como dissecção arterial, trombofilias, forame oval patente, vasculites e doenças genéticas como Fabry, Cadasil ou Moyamoya.
A prevenção do AVC é essencial e envolve adotar um estilo de vida saudável que reduza os principais fatores de risco, como pressão alta, diabetes e colesterol elevado.
Isso inclui manter uma alimentação balanceada, rica em frutas, verduras, fibras e pobre em gorduras saturadas, trans e sódio; praticar exercícios físicos regularmente; evitar o tabagismo e o consumo excessivo de álcool; e gerenciar o estresse. Mudanças simples nos hábitos diários podem diminuir significativamente a probabilidade de ocorrência do AVC.
Além disso, o acompanhamento médico regular é fundamental para monitorar condições de saúde e manter os indicadores dentro de níveis adequados: pressão arterial idealmente abaixo de 120/80 mmHg, glicose e colesterol controlados. Tratamentos de condições associadas, como apneia do sono, estresse ou depressão.
Consultas periódicas permitem ajustar medicamentos, aderir a terapias preventivas e garantir que todas as medidas de prevenção sejam efetivas, aumentando a segurança e a qualidade de vida da população. A conscientização, prevenção e reconhecimento rápido dos sinais podem transformar estatísticas e salvar milhares de vidas.