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domingo, 14 de dezembro de 2025
Saúde

Método Salve ajuda a identificar sinais de AVC e pode salvar vidas com diagnóstico mais rápido

No Brasil, mais de 84 mil pessoas morrem anualmente em decorrência do AVC. Em Goiás, 1.635 óbitos foram registrados somente em 2025

Renata Ferrazpor Renata Ferraz em 30 de outubro de 2025
AVC
Foto: Freepik

O Dia Mundial do Acidente Vascular Cerebral (AVC), celebrado em 29 de outubro, reforça a importância de reconhecer rapidamente os sinais da doença, uma das principais causas de morte e incapacidade no mundo. 

No Brasil, o AVC mata mais de 84 mil pessoas por ano, segundo dados do Instituto Nacional de Cardiologia (INC) e da Organização Mundial da Saúde (OMS). Globalmente, cerca de 12 milhões de novos casos são registrados anualmente, sendo que até 90% poderiam ser evitados com prevenção e controle de fatores de risco.

Diante desse cenário preocupante, o neurologista Marcos Alexandre Carvalho Alves, Coordenador da neurologia do Hospital Mater Dei Goiânia e especialista em doença de parkinson, criou o método ‘Salve’, uma ferramenta prática que facilita a identificação rápida dos sintomas de AVC, tanto por profissionais de saúde quanto por leigos. O acrônimo representa cinco sinais de alerta: Sorriso, Abraço, Linguagem, Visão e Equilíbrio.

A ideia surgiu da necessidade de desenvolver um instrumento mnemônico simples, culturalmente familiar e abrangente. Estudos internacionais, como os protocolos Fast e Be-Fast, mostraram que muitos casos de AVC são subdiagnosticados porque, ao se concentrar apenas em “rosto, braços e fala”, sintomas importantes como alterações visuais ou problemas de equilíbrio acabam sendo ignorados. 

O método nasceu após análise de literatura médica e testes com inteligência artificial, resultando em uma sigla que é ao mesmo tempo um convite à ação, “Salve uma vida!”, e um conjunto de cinco testes rápidos.

O método se baseia em cinco verificações simples para identificar sinais de AVC. Sorriso (S): peça à pessoa que sorria e observe se há desvio de um lado da boca. Abraço (A): solicite que levante ambos os braços e avalie se algum deles cai involuntariamente. 

Linguagem (L): peça para repetir uma frase simples, observando gagueira, palavras embaralhadas ou dificuldade de compreensão. Visão (V): questione sobre visão turva, dupla ou perda súbita em um ou ambos os olhos. Equilíbrio (E): observe se há dificuldade para caminhar, tontura súbita ou incapacidade de se manter em pé. Cada teste corresponde a um sintoma comprovado por estudos neurovasculares como marcador precoce de AVC. 

A aplicação é simples e os leigos aprendem em vídeos curtos ou folhetos ilustrados, enquanto profissionais de saúde podem integrá-lo em protocolos de triagem pré-hospitalar, como no Serviço de Atendimento Móvel de Urgência (SAMU) e em pronto-socorros, com cursos rápidos de atualização.

Testes-piloto em três unidades regionais de neurocirurgia em 2024 mostraram resultados expressivos: redução média de 12 minutos entre o primeiro contato com o paciente e a solicitação de exames de imagem, aumento de 25% no reconhecimento de sinais não clássicos (visão ou equilíbrio isolados) e elevação de 18% nos chamados ao SAMU dentro da janela de tratamento de 4,5 horas.

Embora o método Salve seja simples, sua implementação enfrenta desafios. Em serviços de urgência, há resistência a mudanças de protocolo, exigindo evidências robustas para atualização de fluxos. 

Capacitação e reciclagem demandam recursos, instrutores e materiais, enquanto em áreas remotas, baixos níveis de escolaridade podem dificultar a assimilação do mnemônico. Além disso, a sustentabilidade da campanha depende de reforço contínuo em mídias sociais, rádio, TV e ações comunitárias.

Marcos Alexandre reforça: “Reconhecer os sinais, acionar o serviço de emergência e procurar atendimento imediato pode fazer toda a diferença. Cada minuto sem tratamento representa a perda de milhões de neurônios. O método Salve é um lembrete simples que pode salvar vidas.”

Atendimento rápido e prevenção são essenciais para reduzir mortes por AVC em Goiás

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No Brasil, aproximadamente 80% dos AVCs são isquêmicos, causados por obstrução de artérias cerebrais, e 20% hemorrágicos, decorrentes de rompimento de vasos sanguíneos. A intervenção precoce é crucial: procedimentos como trombólise ou trombectomia precisam ocorrer até 5 horas após o início dos sintomas para reduzir sequelas e salvar vidas.

Em Goiás, os hospitais referência para atendimento especializado são o Hospital Estadual de Urgências de Goiânia Dr. Valdemiro Cruz (HUGO) e o Hospital Estadual de Urgências Governador Otávio Lage de Siqueira (Hugol). 

No HUGO, o protocolo de atendimento ao AVC é acionado a partir do primeiro contato do SAMU ou Corpo de Bombeiros, mobilizando equipes médicas, enfermagem, laboratório, farmácia e neuroimagem. A triagem rápida, exames laboratoriais e tomografia permitem iniciar a trombólise ainda na janela terapêutica ideal.

Nos últimos três anos, o Estado registrou 6.681 óbitos por AVC, com tendência de queda: 2.579 em 2023, 2.467 em 2024 e 1.635 em 2025 (dados preliminares). Homens representam 52% das mortes, e a maioria ocorre entre pessoas acima de 60 anos. 

As regiões com maior incidência estão na área central, incluindo Goiânia e entorno, concentrando cerca de 30% das mortes. Hemorragias intracerebrais, AVC não especificado e outras doenças cerebrovasculares correspondem a mais de 80% dos óbitos, evidenciando a dificuldade em identificar o tipo exato de evento em muitos casos.

Entre jovens, embora os casos sejam raros, fatores incomuns podem causar AVC, como dissecção arterial, trombofilias, forame oval patente, vasculites e doenças genéticas como Fabry, Cadasil ou Moyamoya.

A prevenção do AVC é essencial e envolve adotar um estilo de vida saudável que reduza os principais fatores de risco, como pressão alta, diabetes e colesterol elevado. 

Isso inclui manter uma alimentação balanceada, rica em frutas, verduras, fibras e pobre em gorduras saturadas, trans e sódio; praticar exercícios físicos regularmente; evitar o tabagismo e o consumo excessivo de álcool; e gerenciar o estresse. Mudanças simples nos hábitos diários podem diminuir significativamente a probabilidade de ocorrência do AVC.

Além disso, o acompanhamento médico regular é fundamental para monitorar condições de saúde e manter os indicadores dentro de níveis adequados: pressão arterial idealmente abaixo de 120/80 mmHg, glicose e colesterol controlados. Tratamentos de condições associadas, como apneia do sono, estresse ou depressão. 

Consultas periódicas permitem ajustar medicamentos, aderir a terapias preventivas e garantir que todas as medidas de prevenção sejam efetivas, aumentando a segurança e a qualidade de vida da população. A conscientização, prevenção e reconhecimento rápido dos sinais podem transformar estatísticas e salvar milhares de vidas.

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