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sexta-feira, 5 de dezembro de 2025
saúde

Doenças reumáticas: o inimigo silencioso do movimento

Especialista alerta para os riscos da demora no diagnóstico e reforça a importância dos hábitos saudáveis

Leticia Mariellepor Leticia Marielle em 30 de outubro de 2025
Joelhos e mãos estão entre as articulações mais atingidas por doenças reumáticas.| foto: reprodução/canva
Joelhos e mãos estão entre as articulações mais atingidas por doenças reumáticas.| foto: reprodução/canva

Nesta quinta-feira (30), o Brasil celebra o Dia Nacional de Luta do Paciente Reumático, uma data que vai muito além da conscientização. É um momento de mobilização e de dar voz a milhões de brasileiros que convivem diariamente com doenças silenciosas, mas altamente incapacitantes. Segundo estimativas da Sociedade Brasileira de Reumatologia (SBR), cerca de 15 milhões de pessoas no país sofrem com algum tipo de doença reumática, grupo de mais de 120 enfermidades que afetam ossos, articulações, músculos, tendões, ligamentos e cartilagens.

As doenças reumáticas não escolhem idade nem gênero. Atingem crianças, jovens, adultos e idosos, comprometendo não apenas o sistema locomotor, mas também o bem-estar emocional, a produtividade e a vida social dos pacientes. Entre as principais estão artrite reumatoide, lúpus, fibromialgia, osteoartrite e espondilite anquilosante.

Para marcar a data, o jornal O hoje entrevistou o reumatologista Alberto Borges, especialista com mais de duas décadas de atuação, que chama atenção para o impacto dessas doenças no cotidiano e reforça a importância do diagnóstico precoce.

“É comum ouvir pacientes dizerem que estão com dor nas juntas e acreditarem que é apenas ‘idade’ ou ‘cansaço’. Mas essa dor persistente pode esconder algo mais sério”, alerta o médico. Segundo Borges, o reconhecimento dos primeiros sintomas é o passo mais importante para evitar sequelas.

Ele explica que muitas doenças reumáticas têm caráter inflamatório e autoimune, ou seja, o próprio organismo ataca estruturas do corpo. “Quando o paciente demora a procurar ajuda, as inflamações se tornam crônicas e podem causar deformidades e limitações irreversíveis”, destaca.

O especialista lamenta que, apesar dos avanços na medicina, o diagnóstico ainda chega tarde para a maioria dos pacientes. “Muitos só procuram o reumatologista quando já estão com perda de mobilidade ou dor constante. E aí, o tratamento precisa ser mais agressivo e prolongado”, afirma Borges

Diagnóstico precoce

O diagnóstico precoce é o grande desafio e também o principal aliado no combate às doenças reumáticas. De acordo com o reumatologista, quanto mais cedo o problema é identificado, maiores são as chances de controlar a inflamação e preservar a função das articulações.

“O tratamento pode incluir medicamentos específicos, fisioterapia, acompanhamento nutricional e exercícios regulares. Mas tudo depende do estágio da doença. Um paciente com artrite reumatoide detectada no início pode levar uma vida normal. Já aquele que chega tardiamente ao consultório pode ter deformidades que comprometem atividades simples, como segurar um copo”, explica.

Borges ressalta que a falta de informação ainda é um obstáculo. “Muitas pessoas acreditam que reumatismo é uma só doença, e isso atrapalha o reconhecimento dos sintomas. Estamos falando de mais de uma centena de enfermidades diferentes, cada uma com suas particularidades e tratamentos”, esclarece.

Hábitos saudáveis são aliados poderosos

Além do acompanhamento médico, os hábitos de vida têm papel decisivo na prevenção e no controle das doenças reumáticas. O especialista destaca três pilares: alimentação equilibrada, prática regular de atividades físicas e abandono de vícios como tabagismo e consumo excessivo de álcool.

“Uma dieta rica em cálcio, vitamina D, proteínas e antioxidantes ajuda a fortalecer ossos e músculos. O exercício físico melhora a mobilidade, a postura e reduz a rigidez articular”, detalha Borges. Ele ainda reforça a importância de manter o peso adequado: “O excesso de peso sobrecarrega as articulações, especialmente dos joelhos e quadris, acelerando o desgaste”.

O médico ressalta que a prevenção começa cedo. “É um erro achar que doenças reumáticas só atingem os mais velhos. Crianças e adolescentes também podem apresentar quadros inflamatórios. O corpo dá sinais, e é preciso ouvi-los.”

O impacto social e econômico

Os números revelam uma realidade preocupante. De acordo com dados da SBR, as doenças reumáticas estão entre as principais causas de afastamento do trabalho e concessão de auxílio-doença no país. O impacto vai além da dor física afeta famílias, empresas e o sistema de saúde pública.

“Um paciente reumático que não consegue trabalhar sofre duplamente: com a dor e com o preconceito. Ainda há quem duvide do sofrimento porque a doença, em muitos casos, não é visível”, lamenta Borges.

O médico também aponta a necessidade de políticas públicas mais amplas para o diagnóstico precoce e o acesso a medicamentos. “Os tratamentos modernos, como as terapias biológicas, mudaram a vida de muitos pacientes, mas o custo ainda é alto e o acesso desigual. O SUS tem avançado, mas há falhas na distribuição e no acompanhamento continuado”, observa.

Conscientizar é o primeiro passo

Neste Dia Nacional de Luta do Paciente Reumático, Borges reforça a importância da conscientização e da empatia. “A sociedade precisa entender que a dor reumática não é frescura nem preguiça. É uma doença real, que exige acompanhamento e respeito”, afirma.

Para ele, a informação é a maior arma contra o preconceito e o sofrimento silencioso. “Precisamos falar sobre isso nas escolas, nos locais de trabalho e nas redes sociais. Quanto mais cedo identificarmos os sintomas, mais vidas serão preservadas”, defende o especialista.

Apesar dos desafios, Alberto acredita em um futuro mais promissor para os pacientes reumáticos. “Os avanços da medicina são constantes. Hoje temos medicamentos mais eficazes, diagnósticos mais precisos e uma maior conscientização da população”, destaca.

O médico reforça que viver bem com uma doença reumática é possível. “O paciente precisa ser protagonista do tratamento. A adesão correta aos medicamentos, a prática de exercícios e o acompanhamento multidisciplinar fazem toda a diferença.”

Serviço: onde buscar ajuda

Para quem apresenta dores articulares persistentes, rigidez matinal, fadiga inexplicável ou inchaço nas articulações, o primeiro passo é procurar um clínico geral ou um reumatologista. No Sistema Único de Saúde (SUS), é possível agendar consultas e exames que auxiliam no diagnóstico.

A Sociedade Brasileira de Reumatologia mantém em seu site uma lista de centros de referência e materiais educativos sobre prevenção e tratamento. Além disso, várias associações de pacientes, como a ABRAPES (Associação Brasileira dos Pacientes Reumáticos), oferecem suporte e orientação gratuita.

 

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