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sexta-feira, 5 de dezembro de 2025
Saúde

Silenciosa e exaustiva: como identificar a depressão de alto funcionamento

Pessoas com depressão acessam mais frequentemente serviços de saúde

Leticia Mariellepor Leticia Marielle em 4 de novembro de 2025
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Silenciosa e exaustiva: como identificar a depressão de alto funcionamento. | Foto: Canva

Apesar de ser um transtorno amplamente reconhecido, a depressão continua a manifestar-se de formas diversas e, por vezes, invisíveis. Entre essas formas está a chamada depressão de alto funcionamento, uma condição que, embora não seja um diagnóstico clínico formal, descreve com precisão a experiência de pessoas que convivem com sintomas depressivos enquanto mantêm uma rotina aparentemente estável.

Esses indivíduos seguem trabalhando, estudando, cuidando da casa e cumprindo obrigações familiares. Mas, por trás da rotina mantida com esforço, enfrentam um sofrimento profundo, muitas vezes mascarado por uma aparência de normalidade. A metáfora frequentemente usada por especialistas compara esse estado ao de um pato deslizando serenamente sobre a água: por fora, tudo parece calmo; por baixo, há um esforço contínuo e exaustivo para simplesmente permanecer em movimento.

Especialistas apontam que, apesar de não ser debilitante aos olhos dos outros, a depressão de alto funcionamento pode comprometer significativamente o bem-estar físico e emocional. O esforço para manter as aparências pode cobrar um preço alto: tarefas simples do cotidiano, como lavar roupa ou preparar uma refeição, exigem energia desproporcional, e muitas vezes esgotante, de quem sofre com esse quadro.

Os sintomas se assemelham aos da depressão clínica, incluindo tristeza persistente, desesperança, alterações no sono e no apetite, perda de interesse por atividades antes prazerosas e dificuldades de concentração. A diferença está, principalmente, no “funcionamento”: enquanto na depressão grave a pessoa frequentemente não consegue dar conta das exigências diárias, na forma de alto funcionamento essas tarefas são realizadas, mas com grande custo emocional e físico.

Pesquisas já demonstraram que pessoas com depressão acessam mais frequentemente serviços de saúde, enfrentam maior risco de desenvolver condições cardiovasculares e, em alguns casos, apresentam pensamentos suicidas. No entanto, a depressão de alto funcionamento permanece menos perceptível, inclusive para o próprio indivíduo que a vivencia. Muitos não reconhecem a gravidade dos sintomas justamente por conseguirem manter algum nível de produtividade. E por fora, o entorno também tende a minimizar o sofrimento, dificultando o incentivo ao tratamento.

Outro ponto importante é a origem multifatorial do transtorno. Predisposições genéticas, desequilíbrios hormonais e experiências traumáticas podem desencadear ou intensificar os sintomas. Além disso, subtipos de depressão, como o transtorno depressivo persistente (TDP), caracterizam-se por manifestações mais brandas e contínuas, o que pode facilitar a camuflagem do sofrimento por anos.

Segundo profissionais de saúde mental, a capacidade de “compensar” os sintomas com alto desempenho social pode criar a falsa impressão de que tudo está bem. Mas esse tipo de compensação tem limites e, sem tratamento adequado, o quadro pode evoluir e se agravar silenciosamente.

Segundo especialistas, a avaliação clínica é fundamental para diferenciar o que é apenas cansaço ou estresse de um possível quadro depressivo mais profundo. Durante o processo diagnóstico, psicólogos e psiquiatras analisam não apenas a intensidade e a persistência dos sintomas, mas também o grau de impacto que eles têm sobre a funcionalidade da pessoa. Informações como o histórico familiar e pessoal de saúde mental também são levadas em conta, contribuindo para um diagnóstico mais preciso e embasado.

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A avaliação clínica é fundamental para diferenciar o que é apenas cansaço ou estresse de um possível quadro depressivo mais profundo. | Foto: Reprodução/Canva

A obtenção de um diagnóstico claro é essencial não apenas para o reconhecimento da condição, mas também para a definição do tratamento mais adequado. Especialistas alertam que, mesmo quando os sintomas não aparentam ser debilitantes, a depressão de alto funcionamento pode evoluir e comprometer seriamente a qualidade de vida se não for tratada.

Entre as opções terapêuticas, a terapia cognitivo-comportamental (TCC) tem se mostrado eficaz. Ela ajuda os pacientes a identificar padrões negativos de pensamento, desenvolver estratégias de enfrentamento e fortalecer a percepção emocional sobre si mesmos. Em alguns casos, medicamentos antidepressivos também podem ser indicados para aliviar os sintomas e equilibrar os níveis de neurotransmissores no cérebro.

Além disso, mudanças no estilo de vida, práticas de autocuidado e acompanhamento psicológico contínuo fazem parte do plano terapêutico para ajudar o paciente a recuperar o bem-estar emocional. Embora discreta, a depressão de alto funcionamento merece atenção e tratamento como qualquer outro transtorno de saúde mental.

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