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sexta-feira, 5 de dezembro de 2025
ciclo safra

Margens apertadas e juros altos travam arrendamento de terras para soja e geram brigas judiciais

Com custos nas alturas, contratos feitos na época da bonança do agro tornaram-se inviáveis

Micael Silvapor Micael Silva em 4 de novembro de 2025
4 fecha Divulgacao
O cenário se agrava porque muitos produtores que recebem as terras de volta não têm estrutura ou capital para replantar Foto: Divulgação

O ciclo da safra 2025/2026 chega ao campo com um desafio que muitos produtores rurais não enfrentavam há anos: o arrendamento de terras para o cultivo da soja deixou de ser um bom negócio em várias regiões do País. A avaliação é do zootecnista e consultor financeiro Fabiano Tavares, que aponta uma conjunção de fatores econômicos, de juros elevados a contratos defasados, como as principais causas da crise silenciosa que se espalha pelo agronegócio.

“O arrendamento tornou-se inviável em muitas regiões. O que acontece é que, na bonança de 2021 e 2022, quando todo mundo estava focado em taxas de captação de dinheiro baixas e o preço da soja muito alto, foram feitos contratos de arrendamento de 12, 15 até 20 sacas de soja por hectare. Isso entra diretamente no lucro do produtor. Esses contratos, com valores muito altos, estão agora caminhando para discussões de renegociações ou até brigas judiciais”, explica Tavares.

O especialista destaca que, além do custo da terra, o produtor enfrenta o peso dos juros e a retração do crédito agrícola. “A taxa de captação no mercado está muito alta. Estamos falando de juros entre 18% e 20%, somado ao fato de que muitos bancos não estão renovando operações. Isso aperta o caixa e faz com que o produtor tenha pouca margem para investir”, analisa.

Segundo Tavares, há registro crescente de rompimentos e revisões de contratos por todo o país. “Sim, há vários casos de rompimento e renegociação de contratos, e também de disputas judiciais. Não existe uma região com mais ou menos incidência. De maneira geral, isso está acontecendo em situações pontuais no Brasil inteiro”, aponta.

O cenário se agrava porque muitos produtores que recebem as terras de volta não têm estrutura ou capital para replantar. “Quando o produtor pega a terra de volta, ele não tem estrutura nem capital para plantar. Então, ele precisa arrendar para outro que apareça, por valores mais baixos. Ao mesmo tempo, temos um movimento de consolidação de terras por bancos. As instituições financeiras estão retomando propriedades, e quando colocam essas áreas no mercado, a oferta aumenta e o preço das fazendas cai”, relata o consultor.

Para Fabiano, a saída passa por uma reorganização financeira e pela busca de maior eficiência técnica. “O primeiro ponto é olhar internamente e ajustar seus custos. Ele consegue fazer isso principalmente nas renegociações de contrato. Agora, negociar adubo e semente muito mais baixos, ele não vai conseguir. Negociar taxas de juros menores, também não. Então é fazer a lição de casa, tentar reduzir o arrendamento e realizar um plantio muito bem feito, para que a produção não caia”, recomenda.

Mesmo em meio às dificuldades, há espaço para preservar a rentabilidade — desde que o produtor seja disciplinado. “Sim, é possível manter margens, desde que o arrendamento não seja tão alto e que o produtor trabalhe de forma técnica, sem economizar no que é essencial. Ele precisa colocar o adubo necessário, escolher uma boa semente e, principalmente, usar o mercado futuro para se proteger. Se deixar a ponta solta, pode acabar vendendo num momento de preço baixo, e aí a margem vai embora”, alerta o consultor.

O recado, segundo ele, é claro: o agronegócio continua forte, mas o momento exige cautela. “A fase agora é de ajuste. O produtor precisa saber onde está pisando. Aquele tempo de ganhar muito sem olhar custo ficou para trás. Agora é hora de gestão, eficiência e planejamento”, conclui Tavares

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