Centro-Oeste enfrenta alto endividamento, mas Goiás vai na contramão
Mesmo com queda nacional no número de inadimplentes, o desemprego continua sendo o principal gatilho do endividamento no Centro-Oeste
Apesar da desaceleração na inadimplência nacional, o endividamento continua sendo um desafio para os consumidores do Centro-Oeste. Segundo a pesquisa da Serasa em parceria com o Instituto Opinion Box, o desemprego permanece como o principal fator que leva as famílias à inadimplência na região, sendo citado por 18% dos entrevistados, seguido por gastos emergenciais (18%) e redução de renda (15%).
O levantamento mostra que 52% dos moradores do Centro-Oeste já estiveram endividados em algum momento da vida, e 6% afirmam não conseguir pagar contas básicas como água, luz ou gás. Entre as pessoas com débitos ativos, 45% têm dívidas com mais de um ano de atraso, e a maioria se mostra reincidente no endividamento, uma evidência da dificuldade em reorganizar o orçamento doméstico.
De acordo com Patrícia Camillo, especialista em educação financeira da Serasa, o quadro regional reflete uma combinação de fatores estruturais. “A queda no desemprego traz esperança e novas oportunidades, mas o desafio agora é transformar essa renda em estabilidade financeira. Após um período de perda de poder de compra, é fundamental que o consumidor aproveite esse momento para reorganizar o orçamento e evitar o acúmulo de dívidas”, afirma.
Cenário de endividamento
A pesquisa também evidencia a dependência crescente do cartão de crédito como ferramenta de sobrevivência financeira. No Centro-Oeste, 50% dos consumidores têm suas principais dívidas ligadas a compras em supermercados, enquanto 41% utilizam o cartão para adquirir produtos como roupas, calçados e eletrodomésticos.
Nos últimos 12 meses, 25% dos endividados da região afirmam ter concentrado seus gastos no cartão. Esse comportamento, embora ajude a diluir pagamentos em tempos de renda instável, amplia o risco de perda de controle financeiro.
Outro dado preocupante é que 82% dos entrevistados já tiveram água, luz ou gás cortados por atraso de pagamento, e 73% afirmam que as contas básicas representam até R$ 750 mensais no orçamento familiar, valores que consomem parte relevante da renda disponível.
Ainda assim, há sinais de conscientização: três em cada quatro consumidores acompanham regularmente os valores das contas domésticas para evitar novas dívidas, e 61% dizem conversar com familiares sobre estratégias para reduzir o consumo.
Para enfrentar o problema, a Serasa reforça a importância da educação financeira e das ações de renegociação de dívidas. O Feirão Serasa Limpa Nome, principal iniciativa nacional do setor, oferece condições especiais para 141 milhões de consumidores regularizarem débitos, com descontos expressivos e parcelamentos facilitados.
Apesar dos avanços em programas de reeducação financeira, o estudo mostra que 45% dos endividados não verificam as taxas e juros das dívidas em atraso antes de renegociar, o que revela um baixo nível de informação e vulnerabilidade diante das instituições financeiras.
Goiás segue em trajetória positiva

Na contramão da tendência regional, Goiás apresenta um dos melhores cenários de geração de empregos do País. Dados da Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios Contínua (PNAD Contínua), analisados pelo Instituto Mauro Borges (IMB), mostram que o Estado alcançou 3,89 milhões de pessoas ocupadas no segundo trimestre de 2025, o maior número desde o início da série histórica.
A taxa de desemprego caiu para 4,4%, a menor em 12 anos, ficando abaixo da média brasileira (5,8%) e até mesmo da média das economias da Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE), em 4,9%. O desempenho foi impulsionado principalmente pelos setores de comércio, que cresceu 6,5%, e serviços, que atingiram 2,01 milhões de trabalhadores. A indústria também avançou 1,3%, e a agropecuária, 1,7%, reafirmando o papel estratégico do campo na economia estadual.
Para Adriano da Rocha Lima, secretário-geral de Governo, o resultado “demonstra que sempre estivemos no caminho certo em relação à recuperação da economia e à geração de empregos em todas as áreas”. Já o secretário de Indústria, Comércio e Serviços, Joel de Sant’Anna Braga Filho, afirma que a solidez da economia goiana e o ambiente favorável aos investimentos têm garantido a expansão dos negócios e a geração contínua de renda.
Além do aumento de postos de trabalho, os rendimentos médios reais atingiram R$ 3.437, o maior valor já registrado no Estado, e a massa salarial chegou a R$ 13,3 bilhões, outro recorde. A taxa de informalidade recuou para 35%, e o desalento, que mede quem desistiu de procurar emprego, caiu para 0,9%, a terceira menor do País.
O contraste entre Goiás e o restante do Centro-Oeste revela uma dinâmica regional complexa: enquanto parte da população ainda enfrenta o impacto da instabilidade financeira e da informalidade, o avanço da economia goiana aponta para uma recuperação mais sólida e inclusiva.
O desafio agora, segundo especialistas, é garantir que o crescimento do emprego e da renda se traduza em melhor gestão financeira das famílias, reduzindo a reincidência de endividamento.