Novo deslizamento no aterro de Padre Bernardo expõe fragilidade na gestão de resíduos em Goiás
Mais de 3 mil toneladas de lixo voltaram a deslizar no Aterro Ouro Verde, o mesmo que colapsou em junho e despejou 42 mil toneladas sobre o Córrego Santa Bárbara
O problema do lixo volta a colocar Padre Bernardo no centro das atenções ambientais de Goiás. Na noite de quarta-feira, 12 de novembro, um novo deslizamento de resíduos foi registrado no Aterro Ouro Verde, menos de cinco meses após o colapso que despejou 42 mil toneladas de lixo sobre o Córrego Santa Bárbara. O episódio reacende as discussões sobre a fiscalização e a segurança dos lixões e aterros em funcionamento no Estado.
Segundo informações da Secretaria de Estado de Meio Ambiente e Desenvolvimento Sustentável (Semad), o deslizamento ocorreu na mesma pilha antiga que cedeu em junho, e envolveu aproximadamente 3 mil toneladas de resíduos sólidos. Apesar da gravidade, o órgão confirmou que não houve contaminação do córrego, cujo leito atravessa a área do empreendimento.
Desde as primeiras horas desta quinta-feira (13), equipes de fiscalização da Semad estão no local. O órgão aponta que as chuvas recentes na região podem ter provocado a instabilidade da estrutura. “Dessa vez, o deslizamento ocorreu na pilha antiga, e não na nova, formada pelos resíduos removidos do córrego nos últimos meses”, informou a secretaria em nota oficial.
O Aterro Ouro Verde, de responsabilidade da empresa homônima, já havia sido embargado pela Semad após o primeiro desabamento, ocorrido em 18 de junho deste ano. Na ocasião, cerca de 42 mil toneladas de lixo atingiram o Córrego Santa Bárbara, provocando contaminação e danos ambientais graves. Todo o material, segundo a Semad, foi posteriormente retirado pela empresa.
Com capacidade para armazenar até 8,13 milhões de toneladas de resíduos, o aterro ocupa uma área de 760 mil metros quadrados e acumula múltiplas autuações ambientais. As irregularidades vão desde o descarte inadequado de resíduos até a ausência de licenças válidas. Apesar das determinações da Semad para suspensão das atividades, o empreendimento continuou funcionando amparado por decisões judiciais.
A prefeitura de Padre Bernardo informou que acompanha o caso desde a notificação do novo deslizamento. Em nota, o prefeito Joseleide Lázaro (UB) ressaltou que o município não tem competência para fiscalizar empreendimentos de grande impacto ambiental, função que cabe à Semad.
“Estamos no local acompanhando e cobrando providências, mas a autorização e a fiscalização são de responsabilidade do Estado”, afirmou o gestor. A Semad notificou os órgãos estaduais e federais e solicitou ações imediatas para evitar novos incidentes.
Situação dos aterros e lixões em Goiás
O novo colapso reacende a discussão sobre a situação dos lixões espalhados pelo Estado. Desde 2023, o governo de Goiás executa o Programa Lixão Zero, criado para apoiar os municípios na desativação dos depósitos irregulares e na implantação de estruturas adequadas de destinação de resíduos.
Atualmente, o programa está na fase de transição, que exige dos municípios a destinação dos resíduos para aterros licenciados, o cercamento das áreas antigas, a recuperação ambiental e a implantação da coleta seletiva. Essa fase segue até 2026, quando deve começar a etapa definitiva, com gestão compartilhada dos resíduos entre Estado e prefeituras.
Para planejar essa estrutura regionalizada, o governo contratou o Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES), responsável pela elaboração da modelagem técnica e financeira. Os resultados devem ser apresentados em 2026 antes da aprovação final pelas microrregiões.
Segundo dados da Semad, 125 municípios goianos já destinam corretamente seus resíduos, enquanto 91 estão em processo de regularização. No entanto, 64 cidades permanecem irregulares, sem solicitar a licença de encerramento dos lixões. A secretaria mantém ações de notificação, fiscalização e apoio técnico para garantir que as metas ambientais sejam cumpridas.
Enquanto o governo avança com o Lixão Zero e os municípios buscam adequação, casos como o do Aterro Ouro Verde mostram que as falhas na gestão de resíduos sólidos ainda representam um desafio urgente e estrutural para Goiás.
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