Chuvas atrasam plantio e colocam em risco a safrinha de milho goiana
Excesso de umidade impede avanço das lavouras, encurta a janela ideal de semeadura e pode reduzir a área plantada, segundo especialistas da Faeg
O excesso de chuvas registrado neste início de temporada agrícola tem comprometido o plantio do milho em diversas regiões do País e provocado apreensão entre produtores. A umidade elevada impede a entrada de maquinário nas lavouras e retarda a semeadura, etapa fundamental para garantir o bom desempenho da segunda safra, responsável pela maior parte do milho produzido no Brasil.
A instabilidade climática também afetou o cultivo da soja, que serve como base para a abertura da “janela ideal” do milho safrinha. Com o atraso na colheita da oleaginosa, o cronograma da segunda safra fica comprimido.
“O calendário da soja é mais flexível, mas o do milho não. Para evitar riscos, o produtor precisa colher a soja entre janeiro e fevereiro e entrar rapidamente com o milho”, explica Leonardo Machado, gerente técnico da Federação da Agricultura e Pecuária de Goiás (Faeg). “Esse atraso das chuvas pode levar muitos produtores a reduzir a área prevista de safrinha.”
A preocupação se deve ao risco de a cultura enfrentar períodos de estiagem ou frio no fim do ciclo, caso o plantio seja empurrado para além da janela. Além de dificultar o avanço das operações, as chuvas fortes também prejudicam o desenvolvimento inicial das plantas. Em áreas já semeadas, técnicos identificam estandes irregulares, sementes perdidas e necessidade de replantio — o que aumenta custos e compromete o calendário.
Diante da incerteza climática, parte dos agricultores deve migrar para culturas de menor risco, como sorgo e girassol. “Produtores que não conseguirem plantar dentro da janela podem optar por alternativas mais resistentes”, afirma Machado. Ainda assim, ele pondera que é cedo para falar em risco de desabastecimento: “Há muito milho estocado da safra passada e o Brasil exporta menos neste ano.”
Dados apontam queda da produção de milho e outros grãos no estado de Goiás

Os primeiros dados oficiais, entretanto, já mostram um cenário de retração. O primeiro prognóstico do Levantamento Sistemático da Produção Agrícola (LSPA) para 2026 projeta queda de 8,2% na produção goiana de milho e redução geral de 7,8% na produção de grãos do Estado.
Em números absolutos, Goiás deve cair de 38,9 milhões de toneladas em 2025 para 35,9 milhões em 2026. No panorama nacional, a produção de cereais, leguminosas e oleaginosas deve somar 332,7 milhões de toneladas, queda de 3,7% em relação ao ciclo anterior.
Apesar da projeção negativa, Goiás segue entre os maiores produtores do País, ocupando a terceira posição no ranking nacional, atrás apenas de Mato Grosso e Paraná. O levantamento de outubro, inclusive, apontava cenário otimista para o milho 2ª safra, com previsão de aumento de 23,7%, impulsionado pelo crescimento de 10,7% na área plantada. As chuvas persistentes, porém, colocam essa tendência em dúvida.
Com a expectativa de mais dias nublados e solos encharcados, produtores aguardam uma trégua no clima para acelerar os trabalhos e evitar maiores perdas. Até lá, o setor convive com incertezas sobre a capacidade de recuperar o ritmo ideal e minimizar os impactos para a próxima colheita.
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