Na Seleção, o 17 vale mais que o 7
Enquanto o astro vive fase apagada na Seleção, o garoto de 17 anos cresce a cada jogo
A Seleção Brasileira entrou em campo contra a Tunísia para cumprir o último amistoso da temporada, mas quem realmente cumpriu foi Estêvão. O garoto de 17 anos — ainda em transição para assumir espaço definitivo no grupo — mostrou mais presença, mais personalidade e mais impacto do que Vini Jr, teoricamente o rosto da equipe de Carlo Ancelotti. O contraste ficou tão evidente que virou pauta inevitável: hoje, quem carrega a Seleção é o menino, não o astro do Real Madrid.
Enquanto Vini vive um momento irregular no Brasil, Estêvão cresce cada vez que recebe minutos. A diferença não está só nas jogadas, mas na postura. Contra a Tunísia, Vini foi discreto, previsível, travado pelo sistema adversário e incapaz de criar algo realmente decisivo. Já Estêvão foi o contrário: acionado, participativo, ativo no jogo e determinante em duas das poucas jogadas agudas do Brasil. Marcou o gol, pediu responsabilidade, tomou a bola para bater pênalti e converteu. Mais tarde, sofreu outro — que Paquetá desperdiçou.
Essa diferença técnica poderia ser vista apenas como um recorte de jogo, mas já não é. Estêvão vem se destacando de forma constante desde que Ancelotti assumiu a Seleção. Ele não apenas “aproveita minutos”: ele transforma minutos em autoridade. Vini, por sua vez, vive uma desconexão visível no ambiente da Seleção. No Real, é protagonista absoluto; no Brasil, é um atacante que flerta com a apatia. Falta agressividade, falta fome, falta brilho — exatamente o que sobra no garoto.
Taticamente, Estêvão oferece algo que a Seleção não tinha há anos: um ponta criador que pensa o jogo, infiltra, organiza e ainda decide. Ele não fica refém de bolas abertas, dribles longos ou corridas em diagonal — ele circula, quebra linhas e interpreta espaços como veterano. Vini, ao contrário, segue dependente de duelos individuais que raramente se encaixam com a camisa amarelinha. Quando o plano não sai, ele simplesmente desaparece.
A comparação é incômoda para alguns, precipitada para outros, mas inevitável para quem vê a Seleção em campo. Estêvão entrega mais consistência, mais coletividade, mais leitura, mais maturidade e, sobretudo, mais impacto no resultado. Ele não joga “para ser o craque”: ele joga como um. O protagonismo não é pedido — é natural.
Isso não significa que Vini perdeu espaço; significa que alguém começou a disputar o mesmo território simbólico. E com vantagem. A Seleção volta a campo apenas em março, contra França e Croácia, dois adversários que exigem mais do que lampejos. Exigem jogadores que decidam. Se a lógica seguir, Estêvão chega para esses jogos com mais moral do que Vini.
E talvez este seja o ponto central: o Brasil encontrou um craque antes de encontrar um time. E esse craque, por mais estranho que pareça, não é o camisa mais famoso da Seleção.