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sexta-feira, 5 de dezembro de 2025
OPERAÇÕES SIMULTÂNEAS

Goiás deflagra operações contra núcleo financeiro e logística do Comando Vermelho

Ações coordenadas do MP-GO, PM e Polícia Civil atingem lavagem milionária, distribuição de drogas e conexões interestaduais da facção no mesmo dia

Anna Salgadopor Anna Salgado em 19 de novembro de 2025
OPERAÇÕES
Cifra Vermelha e Reincidentes avançam sobre o dinheiro e a logística do Comando Vermelho, com sequestro de milhões, prisões e identificação de rotas interestaduais usadas pela facção | Foto: Maju Soares/O HOJE

Goiás foi palco, nesta terça-feira (18), da deflagração de duas operações simultâneas contra o Comando Vermelho, em uma ofensiva coordenada para atingir a facção em seus dois pilares de sustentação: o dinheiro e a logística criminal. 

Enquanto a Operação Cifra Vermelha, conduzida pelo Ministério Público de Goiás (MP-GO) em conjunto com o Comando de Operações de Divisas (COD), mirou o núcleo financeiro da organização, a Operação Reincidentes, liderada pela Polícia Civil por meio da Delegacia Estadual de Repressão a Narcóticos (Denarc), atacou a estrutura responsável por distribuir drogas e armas em Goiânia e por manter conexões diretas com lideranças no Rio de Janeiro.

O tenente-coronel Machado, gerente de inteligência e estratégia e operacional do MP-GO, afirma que a integração de forças é fundamental para o funcionamento de operações. “Vale destacar que realmente esse tipo de trabalho, ele só chega a esse nível de resolutividade em razão da integração das forças.”

Deflagrada no início da manhã, a Cifra Vermelha teve como foco desarticular um esquema de lavagem de dinheiro que operava silenciosamente há pelo menos um ano. A investigação do Gaeco revelou um fluxo milionário movimentado por empresas de fachada criadas exclusivamente para mascarar recursos oriundos do tráfico por meio dessas operações. 

Foram cumpridos 13 mandados de busca e apreensão e sete de prisão, entre preventivas e temporárias. O prejuízo financeiro imposto à facção foi expressivo: a operação sequestrou mais de R$ 28 milhões, além de veículos e bens vinculados aos investigados.

Para o tenente-coronel a ofensiva contra o núcleo financeiro representa um golpe estrutural no Comando Vermelho. “Quando conseguimos atingir simultaneamente o dinheiro e a logística de uma facção, o impacto é imediato. São dois pontos que sustentam a criminalidade e que, desmontados juntos, enfraquecem toda a rede.

OPERAÇÕES
Cifra Vermelha e Reincidentes avançam sobre o dinheiro e a logística do Comando Vermelho, com sequestro de milhões, prisões e identificação de rotas interestaduais usadas pela facção
| Foto: Maju Soares/O HOJE

Segundo o MP-GO, o núcleo financeiro da facção no Estado era comandado por um casal que utilizava métodos cada vez mais elaborados de ocultação patrimonial. Entre as estratégias, chamava atenção o uso de contas bancárias abertas em nome dos próprios filhos adolescentes, de 12 e 14 anos, para movimentar quantias depositadas por traficantes ligados ao Comando Vermelho. Um contador identificado como responsável pela criação das empresas fictícias também foi preso. O material recolhido, documentos, celulares e computadores, deve revelar novos braços financeiros da facção espalhados pelo Estado.

Paralelamente, a Polícia Civil deflagrou a Operação Reincidentes, voltada a desmantelar o núcleo responsável por abastecer pontos de venda de drogas e fornecer armas a criminosos faccionados em Goiânia. A ação cumpriu 10 mandados de prisão temporária e 13 de busca e apreensão na Capital, Barro Alto e em cidades do Rio de Janeiro, como São Pedro da Aldeia e Cabo Frio, com apoio das forças fluminenses.

As investigações para as operações começaram em 2023, após prisões no Parque Amazônia e no Setor Pedro Ludovico. A Denarc identificou que o grupo atuava de forma contínua, mantendo contatos diretos com lideranças da facção no RJ. A polícia destacou que a maioria dos 12 envolvidos já possuía extensa ficha criminal, com registros de homicídio, tráfico e porte ilegal de arma, todos reincidentes, o que deu nome à operação.

A Reincidentes também trouxe detalhes inéditos sobre a conexão entre Goiás e o Rio. As ordens do grupo eram dadas por duas lideranças que estavam no Estado fluminense e que foram mortas em 28 de outubro durante a Operação Contenção, no Complexo do Alemão. Mesmo após as mortes, a análise de provas apreendidas permitiu que a polícia goiana identificasse novos integrantes e rastreasse rotas usadas pelo Comando Vermelho.

Foram localizados dois imóveis estratégicos na Região dos Lagos, uma casa em condomínio fechado e um apartamento em Cabo Frio, utilizados para envio de drogas e armas a Goiás e como refúgio para integrantes que deixaram o Alemão após a operação. 

Três investigados foram presos nesses locais, onde também foram apreendidas duas armas de fogo. A polícia afirma que celulares e notebooks recolhidos devem originar novas fases investigativas.

O fato de as duas operações terem sido deflagradas no mesmo dia não foi coincidência. A estratégia buscou atingir o Comando Vermelho em duas frentes simultaneamente: cortar seu “sangue” financeiro e neutralizar sua capacidade de circulação de armas e drogas. A Cifra Vermelha integra a série de ações recentes do Gaeco contra facções criminosas em Goiás, como Sintonia Goiás, Irmandade do Crime, Honoris Criminis e Laço Oculto.

Em uma analogia apresentada pelos investigadores durante as operações, se a facção fosse um organismo, a Cifra Vermelha teria atacado seu sistema circulatório, as veias que transportam o dinheiro ilegal, enquanto a Reincidentes atingiu seu sistema nervoso e motor, desarticulando comandos, rotas e articulações interestaduais. Juntas, as ações reforçam a tentativa do Estado de enfraquecer estruturalmente o Comando Vermelho em território goiano

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