Apreensões de canetas emagrecedoras disparam em Goiás
Somente este ano, mais de 2.220 canetas emagrecedoras foram apreendidas no estado
Somente entre janeiro e novembro deste ano, mais de 2.220 canetas emagrecedoras foram apreendidas pela Polícia Rodoviária Federal (PRF) nas rodovias goianas. Nos últimos 15 dias, outras 700 unidades também foram interceptadas pelos agentes, reforçando a preocupação das autoridades com o crescimento do mercado clandestino desses medicamentos, que se popularizaram entre quem busca emagrecimento rápido.
Segundo a PRF, todas as canetas apreendidas estavam sendo transportadas de forma ilegal e, principalmente, fora das condições de armazenamento exigidas. Esses medicamentos precisam ser mantidos entre 2°C e 8°C, sob refrigeração constante e controle rigoroso. Fora dessa faixa, podem perder o efeito, sofrer alterações químicas e oferecer riscos sérios à saúde, já que deixam de ter estabilidade farmacológica.
Em uma das apreensões, na BR-153, em Itumbiara, um homem foi flagrado com 104 ampolas usadas para tratamento de diabetes e emagrecimento. Já em outro caso, um casal transportava 385 unidades de canetas emagrecedoras, todas sem comprovação de origem, prescrição ou acondicionamento adequado, o que caracteriza crime sanitário e de contrabando.
Canetas emagrecedoras podem causar danos imediatos e até pancreatite
Para o médico nutrólogo Arthur Rocha, o uso de canetas emagrecedoras sem orientação profissional tem potencial de causar danos imediatos. Ele explica que essas medicações alteram diretamente o apetite, o metabolismo, a glicemia e o funcionamento do sistema digestivo. Sem acompanhamento, o paciente pode sofrer desidratação severa, hipoglicemia, náuseas intensas, refluxo, diarreia, paralisia gástrica e até pancreatite aguda, condição considerada potencialmente fatal.
Rocha reforça que o risco é ainda maior quando o produto é falsificado ou contrabandeado, como nos casos flagrados pela PRF. “Medicamentos ilegais não têm controle de qualidade nem esterilidade. O paciente não sabe o que está aplicando”, afirma. Essas versões clandestinas podem conter substâncias tóxicas, solventes inadequados, bactérias, doses incorretas e componentes sem qualquer comprovação científica. “É jogar a saúde na roleta russa”, resume o médico.
Segundo o especialista, o uso por pessoas sem indicação — apenas com o objetivo estético — eleva ainda mais os riscos. A prescrição adequada depende de avaliação clínica completa, exames, composição corporal e histórico de saúde. Sem isso, é comum que o usuário inicie doses inadequadas, não monitore massa magra ou hidratação e não ajuste alimentação e treino, o que favorece o efeito sanfona, a perda muscular e a queda do metabolismo. “Muita gente acha que está emagrecendo, mas está perdendo músculo e ficando mais fraca”, alerta.

Rocha destaca ainda os sinais de alerta que indicam a necessidade de interromper o uso imediatamente e buscar atendimento: dor abdominal forte, vômitos persistentes, diarreia intensa, tontura, palpitações, desmaios, hipoglicemia, constipação extrema, dificuldade de digestão e qualquer reação alérgica após a aplicação. “Nada disso é normal. Exige avaliação médica imediata”, enfatiza.
O nutrólogo é categórico sobre a compra pela internet ou no mercado ilegal. “Não compre, nunca. A maioria é falsificada, mal armazenada ou manipulada fora dos padrões sanitários”, afirma. Para ele, quem realmente precisa do tratamento deve passar por consulta, exames e acompanhamento contínuo. “O objetivo não é só emagrecer rápido, mas emagrecer com saúde, segurança e resultado sustentável.”